RAIO-X

População em situação de rua passa de 3,85 mil na Baixada Santista; veja perfil

Quantidade deve ser maior, uma vez que prefeituras têm dificuldades para fazer censos mais amplos; número é a soma de cinco das nove cidades da região

Rodrigo Florentino
Publicado em 26/02/2025, às 15h05 - Atualizado às 15h09

FacebookTwitterWhatsApp
Por toda a região, portas de comércios amanhecem tomadas por pessoas em situação de rua - Rodrigo Florentino
Por toda a região, portas de comércios amanhecem tomadas por pessoas em situação de rua - Rodrigo Florentino

Em bancos de praças, calçadas, portas de comércios, construções abandonadas e terrenos baldios, às vezes sozinhos outras em grupos, as pessoas em situação de rua se misturam aos cenários da Baixada Santista, no litoral paulista, e demandam ações constantes das administrações municipais.

Consultadas pelo Costa Norte, cinco das nove prefeituras da Baixada Santista enviaram os números de suas cidades. Somadas, Santos, São Vicente, Guarujá, Praia Grande e Cubatão registram cerca de 3,85 mil pessoas em situação de rua. Bertioga não informou números, e Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe não responderam.

Embora sejam facilmente vistos, não é uma tarefa simples fazer a contagem desta população. Por serem itinerantes, eles transitam entre vários lugares, incluindo cidades diferentes. Além disso, nem sempre estão com documentos pessoais, o que dificulta o cálculo de número exato. Mas, com base nas abordagens, é possível traçar um perfil deste público na região, cuja predominância é de homens jovens, com faixa etária entre 18 e 39 anos; um ponto que chama a atenção é o número de mulheres, na mesma faixa etária.  

As administrações municipais consultadas concordam em um ponto: os principais fatores que levam essas pessoas à vivência de rua são, em grande parte, a dependência de substâncias psicoativas e álcool, desemprego, perda de moradia, conflitos familiares e perda da autoestima. Há tanto indivíduos da própria cidade ou região, quanto pessoas oriundas da capital e de outros estados, entre as quais aqueles atraídos pelo movimento da alta temporada. 

Santos - Em Santos, o Cadastro Único (CadÚnico) aponta 1.840 pessoas em situação de rua. Mas, a prefeitura informou que, a partir da rotina de trabalho da equipe especializada em abordagem social, da Secretaria de Desenvolvimento Social, é possível afirmar que há aumento deste público vivendo nas ruas. 

Na cidade, há dois programas desenvolvidos para tentar dar um novo sentido para a vida destas pessoas. O programa Novo Olhar, que fornece cursos profissionalizantes e o Projeto Fênix, que reintegra moradores em situação de rua ao mercado de trabalho. A prefeitura fornece bolsa no valor de um salário mínimo por 18 meses, e a possibilidade de fazer atividades em equipamentos públicos, inscrição em cursos profissionalizantes gratuitos e em escolas públicas.

programa novo olhar
Criado em 2018, o programa Novo Olhar fornece cursos profissionalizantes para pessoas em situação de rua - Prefeitura de Santos

Guarujá - A prefeitura de Guarujá informou que, nos últimos meses, 551 pessoas em situação de rua foram abordadas ou receberam atendimento especializado. A cidade também oferece suporte, em parceria com o grupo Narcóticos Anônimos. São promovidas palestras quinzenais no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). Quem aceitar o tratamento é encaminhado e acompanhado por técnicos especializados nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS AD) e em outras redes de apoio. 

Equipes de abordagem social fazem trabalho de monitoramento e assistência de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e nos fins de semana e feriados, das 8h às 22h. Também são feitas ações noturnas às quintas e sextas-feiras, das 18h às 22h. As rondas ocorrem nos principais pontos da cidade e também mediante denúncias.

Praia Grande - A estimativa da prefeitura de Praia Grande é que cerca de 300 pessoas estejam em situação de rua na cidade. No Centro POP, é oferecido acesso à higiene pessoal, alimentação, serviço de recâmbio para cidade de origem, acesso à retirada ou segunda via de documentos, atendimento psicológico, encaminhamento para abrigo, ao PAT e para a rede de saúde. 

Existem dois abrigos na cidade. No Abrigo Solidário Eliane Malzoni, as pessoas podem passar a noite e ter acesso à higiene, alimentação e abrigo. Já a Casa de Estar é um abrigo temporário, no qual a pessoa pode ficar por até seis meses. Equipes de serviço especializado em abordagem social atuam em dias úteis.

Cubatão - De acordo com a Secretaria de Assistência Social (Semas), atualmente Cubatão tem 160 pessoas em situação de rua referenciadas. A cidade é a única com registro de presença de idosos em situação de rua, com quinze pessoas com mais de 60 anos. Segundo o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os motivos para esse grupo surgir são rompimento de vínculos familiares, saúde mental, abuso de drogas e aumento do custo de vida. 

Na cidade, o atendimento ocorre em duas casas de acolhimento: a Casa do Recomeço, de passagem, com atendimento das 19h às 7h, e a oferta de jantar e café da manhã; e a Casa Abraço, um abrigo institucional, no qual a pessoa é acompanhada até que possa retomar seus vínculos familiares e  sua autonomia.

São Vicente - A prefeitura de São Vicente informou que, por mês, a equipe de Abordagem Social realiza, em média, 1.000 atendimentos mensais. São disponibilizados serviços socioassistenciais, como o Centro Pop, unidades de Acolhimento Socioassistencial, o Consultório na Rua (na área da Saúde) e a Abordagem Social, que funciona 24 horas.

Bertioga - A prefeitura não informou o número da população em situação de rua na cidade, mas declarou que as equipes de abordagem social atuam em três períodos diários, e que funciona o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), que identifica as demandas apresentadas, bem como a Casa de Passagem, onde é oferecido acolhimento temporário para indívíduos e famílias em situação de vulnerabilidade.

moradores de rua
População de rua em Bertioga - Eleni Nogueira

Cada pessoa atendida é avaliada individualmente. Quando necessário, há encaminhamento para serviços especializados como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e o Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT).

Caso exista o interesse em retornar ao município de origem, é realizado o recâmbio após a confirmação das informações fornecidas e a certeza de que um responsável vai acolher a pessoa na cidade de destino.

Uma história de superação

Em 2009, Francisco Paulino da Silva saiu de João Pessoa, capital da Paraíba, e veio para Santos trabalhar em uma concessionária de veículos. Em 2013, pediu demissão para visitar sua mãe em João Pessoa antes de ela falecer. Ao voltar para Santos, viu-se desempregado pois a empresa em que ele trabalhava não o deixou retornar ao emprego.

Após passar 15 dias vagando pelas ruas de Santos, foi atendido por um agente social da prefeitura e acolhido em um abrigo municipal. No Projeto Fênix, fez cursos de supletivo e de reciclagem. Agora, com 62 anos, faz parte do Conselho Municipal da Assistência do Idoso de Santos e trabalha na manutenção dos veículos da prefeitura.

francisco paulino da silva
Francisco já morou na rua e, atualmente, faz parte do Conselho Municipal da Assistência do Idoso de Santos - Prefeitura de Santos

Por já ter vivenciado tal situação, Francisco diz que, ao ver uma pessoa em situação de rua, conta sua experiência de vida e como tudo mudou com a ajuda da assistência social. “Dei a volta por cima. E tudo começou quando aceitei ficar em um abrigo”, diz Francisco. Para quem vive em situação de rua, ele dá dicas e fala que há como resolver a situação.

“Para quem está nesta situação, não se desespere. Não faça loucuras e procure mudar de vida buscando ajuda social. Os operadores sociais estão nas ruas justamente para isso. Muita gente não quer ficar em abrigos, pois eles têm regras”, conta a ex-pessoa em situação de rua.

Para mais conteúdos:

Rodrigo Florentino

Rodrigo Florentino

Formado em Comunicação Social na Univesidade Santa Cecília (UniSanta)

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!