Tecnologias mais eficientes nem sempre reduzem o consumo, e o caso das lâmpadas LED prova isso; veja outros exemplos na história
Você já deve ter ouvido que trocar as lâmpadas incandescentes por LED é um passo importante para economizar energia. E de fato, é. Mas o que poucos sabem é que, no fim das contas, isso não está reduzindo o consumo global de eletricidade. O motivo é mais complexo (e curioso) do que parece.
Não há dúvidas: as lâmpadas LED são campeãs em eficiência. Elas consomem até 80% menos energia do que as antigas incandescentes e duram muito mais. Então, por que, mesmo com a adoção em massa dessa tecnologia, o mundo segue gastando mais com iluminação?
A resposta está em um fenômeno conhecido como efeito rebote: quando algo se torna mais eficiente (e barato), a tendência é de aumento do uso. Ou seja, como ficou mais fácil e econômico iluminar ambientes, iluminamos ainda mais. Resultado? O consumo sobe.
Essa história não é nova. Em 1780, com a invenção das máquinas a vapor mais eficientes, muitos acreditaram que o uso de carvão cairia. O que ocorreu foi o contrário: com as novas possibilidades tecnológicas, o uso do carvão explodiu. Outro exemplo curioso vem da aviação. Aviões modernos consomem bem menos combustível por passageiro do que há 50 anos. Mas, com o aumento exponencial do número de voos, o consumo total de combustível só aumentou.
O que esses casos mostram é que eficiência, sozinha, não basta. É aí que entra um conceito menos conhecido, mas cada vez mais necessário: suficiência. Enquanto eficiência está ligada a "fazer mais com menos", suficiência é sobre saber quando já é o bastante. Ou seja, trata-se de repensar hábitos de consumo, e não apenas torná-los mais “econômicos”.
Assim como reciclar não dá licença para consumir desenfreadamente, economizar energia com LED não justifica iluminar tudo o tempo todo. É preciso repensar o que é necessário de verdade.
No fim, é uma mudança de mentalidade. Eficiência está ligada ao ter. Já a suficiência se conecta ao ser. Para viver de forma mais sustentável, não basta trocar aparelhos ou comprar itens “verdes”. É preciso repensar escolhas. Isso vale para energia, consumo, resíduos e até para como o progresso é medido. Talvez, a pergunta a ser feita não seja “como economizar energia?” e, sim, “quanta energia é suficiente para viver bem?”.
Fonte: publicação de Marcus Neves Fernandes, na revista Beach&Co, do Grupo Costa Norte, em 2017