Painel solar no teto do 'Bonde Camarão', que circula pelo Centro Histórico santista, abastece a iluminação e o sistema multimídia do veículo
Agora, um dos ícones de Santos conta com um "empurrãozinho" do Sol. Com 113 anos de história, o bonde fechado, também conhecido como Camarão, que circula pelo centro histórico de Santos, está equipado com energia solar. De acordo com o engenheiro eletricista Marcos Rogério Nascimento, que coordena a equipe técnica da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Santos), responsável pelas reformas e manutenções dos bondes, o novo sistema representará economia na despesa com energia e menos ruído durante o percurso.
O painel solar colocado no teto, explicou Marcos, é específico para o fornecimento de energia para o funcionamento da iluminação e do sistema de multimídia dos bondes. “Não atende o bonde como um todo, ou seja, não é para colocar o veículo em circulação. Para isso, seria necessária a instalação de várias outras placas, uma vez que o motor que movimenta o veículo tem grande potência”.
Mas, já há previsão de expansão da fonte de energia renovável a outros quatro elétricos, que transportam santistas e turistas em passeios por pontos históricos da região central da cidade. “O Bonde Camarão foi um projeto-piloto que desenvolvemos e colocamos em circulação. Deu certo e, agora, com o aval da diretoria, vamos partir para outros elétricos da frota”, acrescentou Marcos Rogério.
Desde a aquisição dos equipamentos, montagem e testes com o veículo em circulação, foram 60 dias de trabalho e avaliações. A energia solar abastece os sistemas de multimídia e iluminação do veículo, substituindo o modelo anterior composto por três equipamentos, incluindo um motor. De acordo com a prefeitura santista, a mudança resulta em diferentes ganhos e redução de custos. “Em relação a gastos com equipamentos, o novo modelo, com painel solar, controlador de carga e baterias, custa em torno de R$ 1.500, correspondente a 1/5 do modelo anterior. Em termos de manutenção, torna essa tarefa mais ágil e confiável. A limpeza da placa fotovoltaica pode ser feita por apenas um homem, uma vez por semana, em 15 minutos”, acrescentou o engenheiro.
Até pela profissão escolhida, o técnico de eletricidade Cremilton Jesus de Oliveira é um interessado em saber sempre mais sobre energia, em especial, a do tipo solar, por não ser poluente. Ele sempre pesquisa e lê muito sobre o assunto. E foi assim que, depois de muita pesquisa, há cinco anos, teve a ideia de usar energia solar no sistema de bondes. Na época, a proposta não foi adiante em razão dos recursos materiais necessários e o que havia disponível no mercado.
“Naquele tempo, iríamos precisar de três placas solares grandes. Não havia nem espaço para instalação. A ideia foi retomada no ano passado, desenvolvemos os estudos e trabalhos e conseguimos fazer o mesmo projeto com apenas uma placa”, explicou Cremilton, que, em 2003, passou a fazer parte da equipe múltipla de profissionais responsável pelas reformas e manutenção dos bondes da linha turística, criada no ano 2000 para circular pelo centro histórico e consolidada como uma das principais atrações turísticas de Santos.
Com orgulho e satisfação pelo êxito, Cremilton falou dos ganhos advindos da iniciativa; destacou a redução de custos em relação ao sistema anterior e a eliminação de ruído de motor. Agora, há um controlador de carga que recebe a energia do painel fotovoltaico e abastece a bateria para o funcionamento do sistema auxiliar do bonde (iluminação interna, luz de freio, seta, caixa de som etc.). “Isso sem falar na manutenção básica, limpar o painel solar uma vez por semana. É tudo muito mais fácil e simples. A bateria carrega em apenas 10 a 15 minutos recebendo a luminosidade natural. A gente liga e monitora”.
Já o engenheiro Marco Rogério ressaltou que a evolução dos equipamentos e materiais para captação de energia solar tornou mais viável o projeto. “A placa solar que estamos comprando para o próximo bonde é mais potente e tem o mesmo tamanho (dois metros de comprimento e um metro de largura) que a utilizada neste primeiro elétrico”.
Ele também destacou o trabalho cuidadoso realizado pela equipe, de maneira a não descaracterizar o elétrico. “A bateria e o controlador de carga foram instalados sob um dos bancos e os cabos passados pelo interior do carro, mas ficando também imperceptíveis”. Outro detalhe é que, sem o motor que funcionava com essa mesma finalidade, haverá menos barulho, e proporcionará aos passageiros uma viagem ainda mais agradável.
Pela programação, os próximos carros da frota a contarem com energia solar serão o Bonde Pelé e o Bonde Aberto. O processo para aquisição dos equipamentos já começou. “O projeto-piloto com o Bonde Camarão nos deu referências para os próximos. Sabemos, por exemplo, que é possível utilizar uma placa com maior potência”, explicou o engenheiro.
De mecânica original escocesa, o Bonde Camarão, de número 40, é de 1911. Confeccionado em cabreúva, uma madeira em extinção, e vidro martelado, tem capacidade para 28 passageiros e recebeu reproduções de propagandas que existiam quando os elétricos circularam em Santos. Idêntico aos que rodaram na cidade até a década de 1970, esse bonde pode alcançar 50km por hora. O nome ‘camarão’ decorre da carroceria fechada e da cor original, vermelha.
O veículo começou a circular na linha turística em 26 de janeiro de 2002 e, em julho de 2011, foi transformado no Bonde Baleia, em homenagem à conquista do tricampeonato da Copa Libertadores, pelo Santos Futebol Clube – a parte interna recebeu imagens que relembravam os títulos de 1962, 1963 e 2011. O elétrico voltou a circular em setembro de 2013, com a pintura prata e vermelha, original, e desde 11 de abril de 2017 adquiriu a cor verde atual.