Bombardeada por décadas pela Marinha do Brasil, ilha é muita visitada por causa da existência de mais de 300 espécies de pássaros
Um dos mais belos paraísos de mergulho do país, o Arquipélago dos Alcatrazes, localizado a 33km da costa de São Sebastião, no litoral norte paulista, também passou a ser muito procurado pelos amantes do birdwatching, modalidade de avistamento de pássaros, que cresce consideravelmente no país.
Usado por décadas como alvo de tiros da Marinha, o destino foi aberto ao turismo de contemplação em outubro de 2018, atraindo, inicialmente, os apaixonados por mergulho - atividade praticada apenas com autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Mas a rica e farta variedade de pássaros, que tem representado um grande potencial para exploração sustentável e de desenvolvimento econômico, também atrai turistas ficcionados por aves.
Dados do CBRO (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos) indicam que mais de 18% de todas as aves do mundo estão no Brasil. Entre as 1.919 espécies catalogadas no país, 332 habitam o litoral norte paulista, região que abriga uma das maiores reservas de Mata Atlântica conservada do mundo. O Arquipélago dos Alcatrazes, desde então, vem sendo explorado por esse recente segmento. A cidade vizinha de Ilhabela, por exemplo, possui receptivos que criaram pacotes turísticos específicos para esse nicho.
O lugar é reconhecido internacionalmente por sua enorme biodiversidade. São 1.300 espécies de fauna e flora, 100 das quais sofrem ameaça de extinção. Possui também o maior ninhal de fragatas do Atlântico Sul, além de servir como área de alimentação, reprodução e descanso para mais de 10 mil aves marinhas, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biologia), órgão responsável pela gestão e fiscalização do arquipélago, que, após ser aberto ao turismo, passou a ser denominado Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes.
Durante os passeios, cujo trajeto de ida e volta pode somar cerca de seis horas, dependendo do tipo de embarcação e condições do mar, é possível observar variadas espécies que chegam ao litoral brasileiro, migratórias do hemisfério norte ou originárias de ilhas isoladas no Atlântico Sul.
Entre as aves encontradas estão os atobás-pardos; fragatas; gaivotas; albatroz-de-sobrancelha; albatroz-de-nariz-amarelo; mandrião-chileno; mandrião-parasítico; alma-demestre; bobo-pequeno; bobo-desbore-branco, entre outras espécies. No trajeto, com sorte, tartarugas, golfinhos e, especialmente, baleias que, durante o período de maio e agosto passam pelo local rumo ao estado da Bahia, para reprodução, e são vistas com facilidade.
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O Arquipélago dos Alcatrazes foi oficialmente aberto ao turismo em 2018 pelo ICMBio, quando passou a ser Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, em 2016, e reconhecido, portanto, como Unidade de Conservação Federal. A recategorização era um antigo sonho de moradores e ambientalistas, pois, entre a década de 1980 até o fim de 2013, a área era utilizada exclusivamente pela Marinha. Diversos protestos, em terra e no mar, foram realizados durante os exercícios, inclusive pelo Greenpeace, em vão.
Em 2004, um incêndio de grandes proporções foi registrado na ilha, enquanto a Marinha realizava exercícios de tiro em conjunto com a Marinha da Argentina. A fumaça foi vista a mais de 50km de distância. À época, o 8º Distrito Naval da Marinha do Brasil, em São Paulo, negou que tenha sido responsável pelo incêndio. O som dos tiros dos navios, durante as décadas de exercícios, era ouvido por toda a costa sul de São Sebastião, apesar dos mais de 30km de distância. A maior preocupação dos ambientalistas, à época, era que alguns ninhos de aves marinhas ficavam próximos aos alvos. Além disso, o som das explosões assustava e espantava as aves.
Apesar da abertura para o turismo, a permanência de embarcações em seu entorno, o mergulho desautorizado, o acesso à ilha e a pesca continuam proibidos pelo ICMBio. Somente receptivos de turismo cadastrados pelo órgão podem explorar o lugar turisticamente.