CURIOSIDADE

Grutas em praias do litoral de SP têm em comum lendas sobre monstros

Em São Sebastião, monstro atacava pescadores. Em Ubatuba, ele se transformava em ser humano para namorar; conheça essas histórias e os pontos turísticos

Reginaldo Pupo
Publicado em 18/02/2025, às 10h23 - Atualizado às 11h25

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Caverna com cerca de 15 metros de extensão, em São Sebastião, guarda lendas de monstros, piratas e tesouros - Acervo/prefeitura de São Sebastião
Caverna com cerca de 15 metros de extensão, em São Sebastião, guarda lendas de monstros, piratas e tesouros - Acervo/prefeitura de São Sebastião

As praias do litoral norte paulista guardam histórias e lendas que, até hoje, povoam o imaginário popular. As cidades da região são algumas das primeiras povoadas e colonizadas no Brasil, portanto, tais mitos datam do século XVII, mas, até hoje, deixam moradores e turistas em dúvida sobre a veracidade das versões. As duas únicas grutas existentes de frente para o mar do litoral norte, em São Sebastião e Ubatuba, e que são atrativos turísticos muito visitados atualmente, também têm histórias e uma coincidência: ambas têm como protagonista um “monstro” e um religioso. A distância entre as duas é de 73km.

Toca do Buraco do Bicho

A mais famosa das histórias é sobre a Toca do Buraco do Bicho, uma grande caverna, com cerca de 15 metros de extensão, que existe às margens da rodovia Rio-Santos, na praia de Guaecá, a 11km do centro de São Sebastião. De acordo com a  lenda mais difundida, um monstro marinho saía da gruta para atacar naus e caravelas que navegavam em frente à praia, e devorava os tripulantes. Para atacar as embarcações, a “serpente monstro”, como era chamada pelos indígenas, mergulhava no mar.

Os ataques persistiram por anos, até que o padre José de Anchieta, que havia saído de Santos e seguia para Ubatuba, para participar da Confederação dos Tamoios, resolveu desembarcar um pouco antes da praia de Guaecá e seguir à pé. Diz a lenda que, ao  chegar na toca, e diante do bicho, Anchieta rezou e aspergiu água benta. O monstro se contorceu, saiu da toca fazendo “terríveis barulhos” e se jogado no mar até desaparecer e nunca mais retornar. A lenda reforça que ele ainda  vomitou os marinheiros antes de sumir no mar. Outra história sobre a gruta, de acordo a prefeitura da cidade, é de que era um local onde piratas guardavam tesouros roubados em suas navegações.

A toca é considerada um ponto turístico, mas a prefeitura de São Sebastião orienta sobre alguns aspectos de segurança: cuidado com animais e insetos, pois se trata de um local em meio à natureza; evite ir em dias de chuva, pois há risco de alagamento ou deslizamentos; sempre estacione em local permitido. Para quem vai de ônibus, o ponto de descida mais próximo fica perto do campo de futebol do Guaecá, cerca de 1km até a Toca do Buraco do Bicho.

A Gruta que Chora

gruta que chora
Gruta que Chora, na praia da Sununga - Acervo/prefeitura de Ubatuba

Outra gruta que também possuía um monstro como habitante, e que, da mesma forma foi expulso por um padre, fica na praia da Sununga, ao sul de Ubatuba. Além de suas águas límpidas e cristalinas e areia fofa, a praia é muito procurada por causa da Gruta que Chora, que virou inclusive um lugar “instagramável”. A lenda diz que um monstro habitava a gruta, mas que todas as noites ele tomava a forma de um homem. Uma jovem local se apaixonou por ele, que passou a visitá-la em seu quarto todas as noites.

Mas a mãe da jovem Iracema logo percebeu que havia algo de errado com aquele homem, pois, após os encontros, a moça dormia o dia todo. A mãe da jovem conversou com seu marido sobre sua desconfiança, e ele resolveu investigar. Ao cair da noite, ficou espionando até que viu o rapaz quando saía do quarto de Iracema. Seguiu-o e viu quando ele entrou na gruta e se transformou em um monstro horrível, com cabeça de dragão e corpo de serpente. Sem saber o que fazer, ele procurou frei Bartolomeu, que estava na região em homenagem ao centenário do padre José de Anchieta. O frei e a comunidade foram até o local e jogaram água benta, expulsando o monstro, que saiu da gruta e nunca mais foi visto. Com o coração partido, Iracema ficou infeliz sem seu amado e passou a frequentar a gruta. Ela ouvia vozes e acreditava que se tratava do seu amado, que voltara para ela.

Nos dias de hoje, muitos visitantes, especialmente mulheres, frequentam a gruta em busca das lágrimas, pois acreditam que, misturadas à água benta deixada pelo frei Bartolomeu, são capazes de realizar sonhos românticos. Resta saber se o monstro de São Sebastião não teria fugido para Ubatuba e, pela segunda vez, expulso com água benta aspergida por um padre.

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