Ana Penido enfrentou oito anos de tratamento de cabeça erguida; conheça história da contadora e dicas médicas de prevenção
Rebeca Freitas
Publicado em 17/10/2023, às 15h04
O processo entre diagnóstico e cura do câncer de mama que acometeu a coordenadora financeira, Ana Maria Penido Costa, durou oito anos. Ela mora em Bertioga e sempre realizou exames de toque de maneira preventiva, até que em 2015, aos 46 anos, sentiu um caroço centralizado entre as mamas. O médico especialista que cuida das glândulas mamárias lhe assegurou que não era câncer. “O mastologista falou para mim que isso não era nada e falou pra eu voltar dali seis meses e que se [o caroço] não tivesse crescido era para deixar ali”, rememora.
Inconformada com a primeira análise, Ana resolveu consultar seu primo, um cirurgião plástico residente em São Paulo. A segunda opinião foi primordial para seu diagnóstico. “Eu acredito muito em Deus e creio que foi ele que me fez acordar de madrugada pensando no meu primo. Aí eu liguei e ele falou: ‘Ana, vem quando você quiser’, e eu fui no dia seguinte. Lá conversamos, ele olhou [o caroço] e falou assim ‘não estou gostando disso’. Ele já tirou um pedacinho, chamou a moça e falou ‘manda agora para o Fleury, fala que é minha prima e que quero resultado para ontem’. Eu estava descendo a serra e ele já me ligou, falou que tinha dado câncer, que não era do mais agressivo, mas que eu tinha que correr”, relembra.
Para Patricia Xavier Santi, médica do Centro de Oncologia (CEON), a paciente ter um autoconhecimento de seu corpo é essencial. “Infelizmente, não é incomum que exames de imagem, como mamografia e ultrassonografia, possam ser interpretados de forma equivocada retardando o diagnóstico de uma doença mais grave. A paciente conhecer seu próprio corpo e realizar exames de rotina diminuem as chances de erro ou atraso no diagnóstico. A busca por uma segunda opinião não deve ser a regra, mas se a paciente não se contentar com a primeira abordagem pode e deve ser atendida por outro profissional”, ressalta a médica.
Após o choque do diagnóstico, Ana relata que seu primeiro pensamento foi que iria morrer. Além disso, ela se afligia pensando em como seu filho, Reginaldo, de então nove anos, reagiria à notícia da doença. “Eu já tinha sido casada e o meu ex-marido morreu de câncer de pulmão. Meu filho tinha quatro anos na época. Minha principal preocupação era falar para ele que eu estava com câncer, porque na cabecinha dele, ele ia imaginar que eu ia morrer também”, expõe Ana, que recebeu muito apoio do atual marido, Luiz Carlos, e de toda sua família durante seu tratamento.
Seu tumor foi descoberto em fevereiro de 2015 e em junho do mesmo ano ela realizou a cirurgia para a retirada total dos seios. "Meu câncer teve início na mama direita, mas também afetou a esquerda. Levei o resultado da biópsia ao cirurgião, e ele expressou que tinha dó de retirar completamente as mamas. Eu insisti que preferia essa abordagem, porque estava ciente do alto risco de recorrência quando não se remove tudo. Em junho realizei a cirurgia na qual ambas as mamas foram removidas completamente, juntamente com um esvaziamento total das axilas, incluindo a retirada de todos os linfonodos", relata a paciente que optou pela abordagem radical pois não queria correr o risco de ter que fazer quimioterapia mais de uma vez.
Patrícia Santi expressa que a cirurgia é o principal tratamento da maioria dos cânceres. “Para a cura do câncer de mama não é diferente. Existem alguns tipos de cirurgia para esta finalidade, podendo ser conservadora ou radical. Hoje, reservamos a mastectomia radical, ou seja, a retirada total da mama, quando o tumor está mais avançado. Em tumores pequenos, optamos por cirurgias conservadoras, onde grande parte do tecido mamário é poupado. Os dois tipos de cirurgias são curativos e seguros. A escolha por um ou outro vai depender, principalmente, do tamanho do tumor e do tamanho da mama da paciente”, explica a oncologista.
Após a cirurgia, Ana passou por um período de recuperação. “Também foi necessário a colocação de um cateter, que ainda tenho, para a administração da quimioterapia. Isso ocorre porque, devido ao esvaziamento das axilas, não é mais possível receber medicamentos através dos braços. Não é permitido medir a pressão, retirar sangue ou realizar qualquer procedimento nos braços, pois a capacidade de defesa nessa região foi comprometida", explica.
Alguns meses após a cirurgia para remoção das mamas, Ana iniciou seu processo de quimioterapia. "Em dezembro de 2015, fiz minha primeira sessão de quimio. Nessa ocasião, minha médica compartilhou um conselho comigo: 'Ana, se você fixar a ideia de que está enfrentando o câncer o tempo todo, isso pode ter um impacto negativo. Em vez disso, tente esquecer a doença e focar na vida. Vai viajar com sua família, aproveite como nunca antes”, relembra Ana sobre a fala da médica que a acompanhou durante a maior parte de seu tratamento.
“Meu marido tinha preocupações sobre possíveis complicações durante a viagem, mas a médica tinha pensado em tudo. Ela me entregou uma lista detalhada com instruções para diferentes sintomas e os medicamentos correspondentes. No final da lista, estava o telefone dela com uma mensagem de boas festas. Ela garantiu: 'Tudo o que você possa sentir estará documentado aqui, e se precisar de ajuda, me ligue, embora eu acredite que não será necessário, eu te conheço'. E realmente eu não precisei ligar para ela, a positividade me ajudou muito", conta Ana.
O período pós-quimio foi uma fase difícil para Penido. "Durante a quimioterapia, é comum sentir fraqueza e experimentar sintomas como náuseas e vômitos, que eu felizmente não enfrentei, consegui combater. Mas, conforme a médica explicou, a quimioterapia é como uma bomba atômica dentro do seu corpo, e o pós-tratamento traz uma série de desafios adicionais. Tive pressão alta e problemas de estômago. Foi um processo difícil até conseguir estabilizar meu corpo e superar esses efeitos colaterais", recorda.
Patricia explica os efeitos colaterais da temida ‘quimio’. “A quimioterapia é um dos pilares do tratamento de vários tipos de câncer, aumenta a chance de cura e, quando a doença é metastática, aumenta a sobrevida do paciente em tratamento. Em relação ao câncer de mama, a quimioterapia com intuito curativo pode ser administrada antes da cirurgia ou após o procedimento. Como efeitos colaterais principais causa queda dos cabelos, lesões na mucosa oral e neutropenia queda dos glóbulos brancos, que estão relacionados à imunidade”, arremata a médica titulada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Ana teve seu tratamento encerrado após oito anos, recebendo alta em março de 2023. Penido fez seu tratamento no Hospital Santo Amaro, em Guarujá, e enaltece ter feito ele todo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a paciente, durante o período de tratamento, ela recebeu os medicamentos necessários de maneira gratuita. Para mulheres que passam pelo de câncer de mama, Ana deixa a mensagem: “Fé em Deus, paciência e persistência que tudo passa”, argumenta.
Outubro Rosa
Outubro Rosa é o movimento internacional que simboliza a luta contra o câncer de mama. Ele começou nos anos 90 e suas ações são direcionadas ao diagnóstico precoce deste tipo de tumor, que é a primeira causa de mortalidade por câncer no sexo feminino, de acordo com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer.
Todas as mulheres devem realizar mamografia anual a partir dos 40 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Aquelas que têm ou já tiveram relação sexual devem realizar o papanicolau a partir de 25 anos.
A realização de exames para detecção precoce de câncer tem impacto na redução da mortalidade da doença, conforme explica Patricia Santi. “A chance de cura de um tumor de mama diagnosticado em estágio inicial ultrapassa 80%, ao passo que em tumores maiores e quando já há acometimento de linfonodos na axila, a chance de recidiva é da ordem de 50%. O Outubro Rosa, entre outras campanhas, divulga e conscientiza sobre a necessidade de realização destes exames, e, além disso, ressalta a importância do autocuidado e mudança do estilo de vida que compreende a prática de atividade física regular e uma alimentação saudável”, relata a médica.
Ana Penido considera campanhas como o Outubro Rosa cruciais para que pessoas que passam pelo câncer de mama possam receber apoio. "Acredito que essas campanhas são essenciais porque tem pessoas, como eu, que quando recebem a notícia, a primeira coisa que vem à mente é a possibilidade de não sobreviver. Eu fiquei careca por causa do câncer e não usava lenço. Eu optei por andar com a cabeça descoberta, porque queria mostrar às pessoas que estava enfrentando a situação, mas que estava lidando bem com isso", exalta.
Rebeca Freitas
Formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp)