NA RIVIERA

Aparição rara: litoral de SP atrai ave dos Andes pela segunda vez

Alguns exemplares da espécie Pedreiro dos Andes podem chegar ao Paraguai e até a região Sul do Brasil, mas o registro no Sudeste é extremamente raro

Mayumi Kitamura
Publicado em 20/10/2023, às 11h54 - Atualizado às 15h50

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Aparição do Pedreiro-dos-Andes foi registrada na ETE da Riviera de São Lourenço - Miguel Malta Magro
Aparição do Pedreiro-dos-Andes foi registrada na ETE da Riviera de São Lourenço - Miguel Malta Magro

Originário das regiões rochosas dos Andes, o pássaro Pedreiro-dos-Andes (Cinclodes fuscus) não costuma se aventurar para além da Patagônia e a Terra do Fogo, mesmo assim, alguns ainda chegam até o Paraguai e a região Sul do Brasil. Por isso, seu avistamento mais ao norte do nosso país é muito raro. Apesar de tão incomum, ele foi registrado duas vezes no estado de São Paulo e, em ambas, seu aparecimento foi no litoral, sendo a mais recente em agosto deste ano, em Bertioga.

O biólogo e ornitólogo Odemir de Freitas Júnior conta que ele e o amigo de profissão, Miguel Malta Magro, guiavam um grupo de observadores de pássaros na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Riviera de São Lourenço quando tiveram o raro encontro. "Ele olhou o pássaro, deu uma travada de 5 segundos e lançou: 'Pedreiro-dos-Andes'. Todos olharam meio espantados porque ninguém conhecia, essa espécie não é daqui. O registro mais ao norte que se tinha dele antes foi em Peruíbe", comentou Odemir.

Ele conta que essa ave costuma migrar no inverno e acredita que ela tenha permanecido por tanto tempo, de 15 a 20 dias na ETE, por causa da alimentação, de insetos, em abundância. "O porquê ele veio até aqui é o que ficamos na dúvida. Conversei com o meu amigo que fez o registro há cerca de quatro anos, e a hipótese que chegamos é das mudanças climáticas. Não temos nada comprovado, mas eu acredito que possa ser isso", comentou Odemir.

A hipótese foi levantada junto com o biólogo que descobriu a ave em Peruíbe em 2019, Bruno Lima, porque nas duas ocasiões, os avistamentos ocorreram após a incidência de ventanias provocadas por ciclones. "Eu vi que era uma ave diferente. Já tinha conhecido por livros e, como tinha passado uma frente fria e não era a primeira espécie que eu tinha visto vinda do sul, eu já sabia que era do cone sul", lembrou Bruno.

A razão para a presença desta ave na nossa região só poderá ser comprovada com o tempo, estudo e olhares atentos. Por isso, a comunidade de ornitólogos avalia positivamente a ciência cidadã, com o registros por qualquer pessoa em sites como o Wiki Aves. Sabendo os locais de aparição e períodos, é possível traçar o comportamento  e migração com mais precisão.

A exemplo de que olhar com mais atenção pode fazer a diferença, o próprio registro em Peruíbe foi por acaso, como conta Bruno: "Eu nem estava observando aves, estava indo para a padaria quando vi. Por isso avisei aos meus amigos e pedi para tirar foto".

Observação de aves

A observação de aves, ou birdwatching, tem crescido nos últimos anos e em Bertioga, conta com o Clube dos Observadores de Aves (Coab), iniciativa integrante ao projeto Avifauna desenvolvido pelo Sesc Bertioga. Por meio dele, os participantes fazem saídas de campo e têm uma noção geral sobre as aves encontradas e seu habitat. 

Segundo informado pelo Sesc Bertioga, a cidade é reconhecida pela organização não governamental BirdLife International como uma das áreas mais importantes para a conservação de aves no estado de São Paulo.

Mayumi Kitamura

Mayumi Kitamura

Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá) e técnica em Processamento de Dados. Atua na área de comunicação há mais de 20 anos.

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