O RETORNO E O MATCH

Baleia reaparece no mar do litoral de SP após migrar por 25 anos

“Bom sinal”, diz pesquisador. Vista em 1998 na costa baiana, mesma Jubarte foi registrada recentemente no mar de Ilhabela; plataforma científica compara foto-registro da cauda, que é como impressão digital da baleia

Thiago S. Paulo
Publicado em 19/10/2023, às 16h34

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Baleia jubarte com embarcação de pesquisa ao fundo; cauda do animal tem padrões únicos e possibilita identificação - Imagem: Instituto Baleia Jubarte
Baleia jubarte com embarcação de pesquisa ao fundo; cauda do animal tem padrões únicos e possibilita identificação - Imagem: Instituto Baleia Jubarte

Uma baleia jubarte ressurgiu nas águas brasileiras nada menos que 25 anos após o primeiro avistamento. Padrões únicos na cauda do gigante marinho são como uma impressão digital e possibilitam a identificação precisa.

“Tanto as marcas na parte de baixo da cauda, como o serrilhado em sua borda são únicos para cada indivíduo e nos ajudam a reconhecer uma mesma baleia mesmo após algumas décadas”, explicou ao Portal Costa Norte nesta quinta-feira (19) o coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes.

Nas duas aparições, com 25 anos de intervalo entre elas, o colosso oceânico foi foto-identificado por observadores marinhos. O Happy Whale, uma plataforma científica de identificação de animais marinhos, comparou os desenhos das caudas e apontou que se trata do mesmo animal – processo que estudiosos apelidaram de ‘’match’’.

Cauda de Baleia Jubarte no mar de Ilhabela
Cauda da baleia jubarte avistada em Ilhabela mais de duas décadas depois de avistamento na Bahia. Imagem: Frank Santos / Projeto Baleia à Vista

Consultada hoje pela reportagem, a plataforma indica que a primeira aparição aconteceu em setembro de 1998, na costa baiana, e a segunda em julho deste ano, no mar de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Cruciais para o reconhecimento, os registros da cauda do animal foram realizados por observadores do Projeto Baleia à Vista, na própria Ilhabela, e do Projeto Baleia Jubarte, na Bahia.

Estudiosos avaliam que é altamente improvável, pra não dizer impossível, que a baleia tenha passado esse tempo somente em águas brasileiras. “Essas datas representam apenas os momentos que a baleia foi vista e não seu histórico completo de migração. As jubartes são animais migratórios e anualmente percorrem enormes distâncias entre áreas de alimentação e reprodução”, explicou o Projeto Baleia Jubarte ao divulgar a reaparição nas mídias sociais.

MAPA
Locais dos dois avistamentos da baleia. Imagem: Happy Whale

Para o coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, ligado ao projeto que fez o primeiro registro, de toda forma, o retorno da baleia ao litoral brasileiro após mais de duas décadas é um bom sinal.

Mostra que esse animal está na vida adulta, podendo contribuir com a reprodução da espécie. Sinal de que as ações de conservação estão ajudando a proteger as baleias. Além disso, o retorno do animal ao Brasil e a avistagem dela em outra região pode nos ajudar a entender como elas se deslocam ao longo da costa”, avalia Marcondes.

Ele explica que, apesar do grande intervalo de tempo entre os registros, o animal pode ser relativamente jovem.

“As jubartes nascem no Brasil. A estimativa é que elas vivam por volta de 60 anos, mas ninguém sabe ao certo pela dificuldade de estabelecer a idade destas baleias. Elas ficam por aqui de junho a novembro. Machos e fêmeas buscam nossas águas para o acasalamento, depois elas seguem para fora do Brasil para as Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul onde passam o verão se alimentando. Algumas baleias do Brasil chegaram a ser registradas na Península Antártica”.

O intervalo de 25 anos entre o avistamento da baleia é próximo do maior registrado no Brasil, acrescenta Marcondes. “O que sabemos é que no Brasil temos uma baleia fotografada em 1989 e que foi reavistada em 2019, portanto tinha mais de 30 anos [de idade]. No Happy Whale existem algumas baleias com mais de 40 anos entre a primeira e a última avistagem. O recorde é de quase 46 anos entre as avistagens”.

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