“Bom sinal”, diz pesquisador. Vista em 1998 na costa baiana, mesma Jubarte foi registrada recentemente no mar de Ilhabela; plataforma científica compara foto-registro da cauda, que é como impressão digital da baleia
Uma baleia jubarte ressurgiu nas águas brasileiras nada menos que 25 anos após o primeiro avistamento. Padrões únicos na cauda do gigante marinho são como uma impressão digital e possibilitam a identificação precisa.
“Tanto as marcas na parte de baixo da cauda, como o serrilhado em sua borda são únicos para cada indivíduo e nos ajudam a reconhecer uma mesma baleia mesmo após algumas décadas”, explicou ao Portal Costa Norte nesta quinta-feira (19) o coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes.
Nas duas aparições, com 25 anos de intervalo entre elas, o colosso oceânico foi foto-identificado por observadores marinhos. O Happy Whale, uma plataforma científica de identificação de animais marinhos, comparou os desenhos das caudas e apontou que se trata do mesmo animal – processo que estudiosos apelidaram de ‘’match’’.
Consultada hoje pela reportagem, a plataforma indica que a primeira aparição aconteceu em setembro de 1998, na costa baiana, e a segunda em julho deste ano, no mar de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Cruciais para o reconhecimento, os registros da cauda do animal foram realizados por observadores do Projeto Baleia à Vista, na própria Ilhabela, e do Projeto Baleia Jubarte, na Bahia.
Estudiosos avaliam que é altamente improvável, pra não dizer impossível, que a baleia tenha passado esse tempo somente em águas brasileiras. “Essas datas representam apenas os momentos que a baleia foi vista e não seu histórico completo de migração. As jubartes são animais migratórios e anualmente percorrem enormes distâncias entre áreas de alimentação e reprodução”, explicou o Projeto Baleia Jubarte ao divulgar a reaparição nas mídias sociais.
Para o coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, ligado ao projeto que fez o primeiro registro, de toda forma, o retorno da baleia ao litoral brasileiro após mais de duas décadas é um bom sinal.
Mostra que esse animal está na vida adulta, podendo contribuir com a reprodução da espécie. Sinal de que as ações de conservação estão ajudando a proteger as baleias. Além disso, o retorno do animal ao Brasil e a avistagem dela em outra região pode nos ajudar a entender como elas se deslocam ao longo da costa”, avalia Marcondes.
Ele explica que, apesar do grande intervalo de tempo entre os registros, o animal pode ser relativamente jovem.
“As jubartes nascem no Brasil. A estimativa é que elas vivam por volta de 60 anos, mas ninguém sabe ao certo pela dificuldade de estabelecer a idade destas baleias. Elas ficam por aqui de junho a novembro. Machos e fêmeas buscam nossas águas para o acasalamento, depois elas seguem para fora do Brasil para as Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul onde passam o verão se alimentando. Algumas baleias do Brasil chegaram a ser registradas na Península Antártica”.
O intervalo de 25 anos entre o avistamento da baleia é próximo do maior registrado no Brasil, acrescenta Marcondes. “O que sabemos é que no Brasil temos uma baleia fotografada em 1989 e que foi reavistada em 2019, portanto tinha mais de 30 anos [de idade]. No Happy Whale existem algumas baleias com mais de 40 anos entre a primeira e a última avistagem. O recorde é de quase 46 anos entre as avistagens”.