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Litoral norte registra alta mortandade de pinguins após longa viagem de 2.000km

Em três dias, ao menos 47 pinguins-de-magalhães apareceram em praias de Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba. Apenas quatro sobreviveram


Reginaldo Pupo
Publicado em 04/07/2025, às 14h28

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Litoral norte registra alta mortandade de pinguins após longa viagem de 2.000km
Pinguim flagrado cansado e ferido no Canal de São Sebastião, em Ilhabela - Reginaldo Pupo

Todos os anos, entre o final de maio e o início de junho, eles começam a dar o ar da graça. Milhares de pinguins-de-magalhães surgem nas praias do litoral brasileiro, entre o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, vindos da região patagônica argentina e chilena, em busca de águas mais quentes, para fugir do rigoroso inverno no extremo sul do planeta e buscar alimentos.

Nesta época do ano, eles iniciam a jornada, saindo da Argentina e Chile, rumo às praias brasileiras, em um trajeto que pode superar os 2.000km. No entanto, muitos deles não resistem à longa jornada e acabam morrendo. As causas da morte, geralmente, são por fadiga. Mas muitos  perdem a vida por inanição, ou seja, por ingerirem, ao longo do caminho, embalagens plásticas que eles confundem com lulas, por exemplo, que fazem parte de sua dieta.

Neste ano, eles demoraram a aparecer. A primeira “leva” de pinguins surgiu nesta primeira semana de julho. A quantidade, no entanto, surpreendeu o Instituto Argonauta, entidade que resgata e trata os animais que chegam às praias debilitados ou doentes. Durante três dias, ao menos 47 pinguins da espécie Magalhães surgiram encalhados em diversas praias de Caraguatatuba, Ilhabela, Ubatuba e São Sebastião.

Apesar dos esforços dos técnicos e biólogos da entidade para tentar salvá-los, apenas quatro conseguiram sobreviver. Eles estão em processo de reabilitação para serem devolvidos ao mar quando estiverem  recuperados. Apesar da causa das mortes geralmente ser por debilitação, os corpos passarão por análises necroscópicas para identificar os motivos que os levaram a óbito.

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Pinguins em processo de reabilitação no Aquário de Ubatuba - Reginaldo Pupo

Poluição diminui população

Os pinguins jovens vão para o mar com aproximadamente três meses de idade, permanecendo nele durante cinco anos e voltando para o continente apenas para fazer a troca de penas. Após esse grande período no mar, eles voltam para suas colônias para iniciar seu ciclo reprodutivo.

Ainda que não seja considerada ameaçada de extinção, a população da espécie vem diminuindo. Entre os principais fatores de risco estão a poluição marinha, a sobrepesca e os efeitos das mudanças climáticas sobre suas rotas migratórias e áreas de alimentação.

De acordo com Carla Beatriz Barbosa, do Instituto Argonauta, ao avistar um pinguim ou qualquer outro animal marinho encalhado, a população não deve tocá-lo, não oferecer comida e não tentar devolvê-lo ao mar, já que esse tipo de iniciativa pode causar ainda mais estresse ou agravar o estado de saúde do animal.

A orientação é acionar imediatamente autoridades ou equipes técnicas responsáveis pelo atendimento. Qualquer pessoa pode entrar em contato com a equipe de resgate pelo telefone 0800 642 3341.

Além do cansaço, pinguins enfrentam lixo

Além da longa e exaustiva “caminhada” da região da Patagônia argentina e chilena até o Brasil, que, muitas vezes, causa até a morte, os pinguins também enfrentam outro problema crônico durante o trajeto: o lixo no mar. Em 9 setembro de 2020, durante a pandemia, e logo após o feriado prolongado da Independência, banhistas encontraram um pinguim morto na areia da praia de Juquehy, em São Sebastião. Seria mais um entre muitos animais marinhos que aparecem mortos no litoral norte, não fosse por um detalhe que chocou os biólogos que realizaram a autópsia. 

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Pinguim que foi encontrado com máscara facial no estômago, em 2020 - Instituto Argonauta

Profissionais do Instituto Argonauta, para onde o corpo do animal foi levado, detectaram uma máscara facial N95 presa em seu estômago, o que causou sua morte por inanição. Naquele ano, a máscara se tornou um novo lixo comum nas praias da região.

No dia seguinte, uma tartaruga marinha foi localizada, também por banhistas, com uma garrafa plástica presa na garganta, na praia do Perequê, em Ilhabela. De 16 de abril até 13 de setembro daquele ano, foram encontradas 113 máscaras descartadas de forma incorreta nas praias do litoral norte.

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