MISTÉRIO

Novo "Triângulo das Bermudas": Litoral sudeste coleciona mistérios em naufrágios e acidentes aéreos

Do naufrágio do “Titanic brasileiro” a acidentes aéreos com famosos, no litoral norte de SP e sul do RJ, causas até hoje não foram explicadas

Reginaldo Pupo
Publicado em 22/11/2024, às 11h04

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Embarcação naufragada em Ilhabela - Acervo / Prefeitura de Ilhabela
Embarcação naufragada em Ilhabela - Acervo / Prefeitura de Ilhabela

Centenas de naufrágios, acidentes com aviões e helicópteros que caem no mar e desaparecem misteriosamente sem deixar vestígios, pessoas que sucumbem no oceano e nunca mais são encontradas. O litoral norte de São Paulo e o litoral sul do Rio de Janeiro colecionam casos de acidentes aéreos e marítimos enigmáticos sem explicações, que tornaram a região também conhecida como o “Triângulo das Bermudas” brasileiro do litoral sudeste.

A maior parte dos sinistros aéreos no “Triângulo das Bermudas” brasileiro do litoral sudeste ocorre entre Angra dos Reis (RJ) e Ubatuba (SP). Já os acidentes marítimos, geralmente, são registrados entre São Sebastião e Ilhabela. Esta última cidade possui, inclusive, um cemitério de navios naufragados. Entre eles o 'Príncipe de Astúrias', que naufragou em 1916, e que ficou conhecido como o “Titanic” brasileiro.

O original Triângulo das Bermudas fica em uma região triangular em alto mar, com aproximadamente 1,5 milhão de km²,  no norte ocidental do Oceano Atlântico, entre as ilhas Bermudas, o Porto Rico e Miami, onde aeronaves e embarcações teriam desaparecido em circunstâncias misteriosas. Um outro ponto conhecido como "Triângulo das Bermudas" brasileiro é o litoral do Maranhão, na região do Parque Estadual Parcel de Manuel Luís. 

Queda sem rastros

Um dos casos mais famosos no Brasil, e que até hoje não foi explicado, é o acidente aéreo que vitimou o então deputado federal constituinte Ulysses Guimarães, em 12 de outubro de 1992, em Angra dos Reis (RJ). Ele viajava com a mulher Mora, o ex-senador Severo Gomes, também acompanhado da mulher, Maria Henriqueta, e mais o piloto Jorge Comemorato.

O corpo de Ulysses foi o único que nunca foi encontrado, assim como o helicóptero. As buscas foram feitas por diversas semanas, porém, sem êxito. Algumas semanas depois, peças que seriam da aeronave foram encontradas por pescadores da praia de Trindade, em Paraty, mas não houve confirmação de que pertenciam ao helicóptero.

Avião e corpos desaparecidos

Outro acidente no qual a aeronave nunca foi encontrada ocorreu próximo a Ubatuba, no dia 25 de novembro de 2021. Um bimotor, fabricado havia 40 anos, que tinha saído às 20h30 do Aeroporto dos Amarais, em Campinas, levava três pessoas. A torre do aeroporto do Rio de Janeiro perdeu o contato com o bimotor por volta das 21h40.

Segundo os bombeiros divulgaram à época, o avião teria caído por volta de 1h40 da madrugada. Viajavam o proprietário do bimotor, José Porfírio Júnior, que durante o voo atuava como copiloto; Gustavo Carneiro, piloto, e o empresário Sérgio Dias, todos moradores do Rio de Janeiro. Apenas o corpo de Carneiro foi localizado na tarde do dia seguinte ao acidente. As outras duas vítimas nunca foram encontradas.

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Buscas se concentraram entre Ubatuba e Ilhabela - Divulgação / Corpo de Bombeiros

Familiares e amigos das vítimas também fizeram buscas por mar e terra, por conta própria, para auxiliar as autoridades. Além de alugar um barco para ajudar nas buscas, Ana Regina Agostinho, mãe do copiloto desaparecido, chegou a fazer aulas de mergulho para encontrar o filho, de 19 anos.

A região onde o avião bimotor caiu é marcada por um histórico de acidentes com aeronaves. A faixa que se estende de Ubatuba até Angra dos Reis, passando por Paraty, teve ao menos sete quedas nos últimos 12 anos. Os dados são do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado à FAB (Força Aérea Brasileira). Em seis dessas ocorrências, houve 15 mortes relacionadas à queda das aeronaves.

“Titanic brasileiro”

Os acidentes aéreos e marítimos na região, no entanto, vêm sendo registrados desde o início do século XX. Em Ilhabela, um dos mais famosos naufrágios do Brasil ocorreu com o transatlântico espanhol Príncipe de Astúrias, que sucumbiu ao mar às 4h15 da madrugada de 5 de março de 1916, após se chocar violentamente contra a única laje submersa da temida Ponta da Pirabura, no extremo sul da ilha principal.

No momento do acidente, a região sofria uma chuva torrencial e visibilidade quase zero, devido à neblina. Naquele mesmo ponto, já foram registrados mais de 100 naufrágios. O choque provocou um rasgo de 44 metros de comprimento no casco. A imponente embarcação foi a pique em menos de cinco minutos, não dando chance para quase ninguém sobreviver. Não houve tempo, sequer, para pedidos de socorro.

Acontecia ali a maior tragédia marítima brasileira e um dos maiores naufrágios do mundo em número de vítimas fatais, com 477 mortos, perdendo apenas para o Titanic, que afundara quatro anos antes após chocar-se contra um iceberg, em 14 de abril de 1912, deixando mais de 1,5 mil mortos.

Oficialmente, o Astúrias transportava 654 pessoas, das quais 193 tripulantes. Mas cerca de 1,5 mil passageiros, de diversas nacionalidades, viajavam clandestinamente nas classes inferiores, fugindo da Primeira Guerra Mundial, segundo depoimento dos sobreviventes à Capitania dos Portos de Santos, à época.

Entre as cerca de 100 embarcações naufragadas na mesma região do sul de Ilhabela estão outros nove navios: Concar; Crest; Dart; France; Hathor; São Janeco; Aymoré; Therezina e Velasquez. Todos foram à pique misteriosamente.

Passageiro desaparecido

No dia 30 de dezembro do ano passado, um homem teria se jogado do navio  MSC Preziosa, após discussão com sua namorada, enquanto o cruzeiro navegava a cerca de 40km do Arquipélago dos Alcatrazes, em São Sebastião. O transatlântico havia deixado o porto de Santos com destino ao Rio de Janeiro, para as festividades de Ano Novo. A companhia havia informado, em nota, que o homem teria se jogado “intencionalmente” no mar. As equipes de buscas do próprio navio e, posteriormente, a Marinha do Brasil, realizaram diversas buscas, mas o turista nunca foi encontrado.­

Negligência

Nem todos os acidentes aéreos ou marítimos registrados no litoral sudeste estão cercados de mistério. Muitos deles ocorreram por negligência, segundo constatação das investigações policiais. Um deles vitimou a modelo Caroline Bittencourt, em 28 de abril de 2019. À época com 37 anos, ela poderia ter sobrevivido ao acidente que a matou na travessia de barco de Ilhabela para São Sebastião, caso estivesse com colete salva-vidas. Seu marido, o empresário Jorge Sestini, foi indiciado por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, segundo a polícia.

Caroline e seu marido estavam a bordo da lancha Twin Green, em Ilhabela, quando a embarcação enfrentou fortes ventos no canal de São Sebastião. Ela teria caído no mar devido à força das ondas. Sestini disse à polícia, à época, que se jogou no mar na intenção de salvá-la, mas não a encontrou.

Além da falta do uso do colete salva-vidas, segundo a polícia, o empresário ignorou os alertas sobre mau tempo emitidos pela marina onde a embarcação ficava guardada, em São Sebastião, que previam chuvas e ventos fortes. Sestini foi alertado verbalmente para ter cautela no mar, devido à previsão desfavorável para a navegação, e por mensagens via WhatsApp.

João Paulo Diniz

Outro acidente que poderia ter sido evitado, caso os alertas de mau tempo fossem respeitados, foi a queda de um helicóptero modelo Agusta, do Grupo Pão de Açúcar, na praia de Maresias, em São Sebastião, em julho de 2021. Durante uma forte tempestade, a aeronave caiu no mar perto do local de pouso, no início da noite.

Estavam na aeronave o empresário João Paulo Diniz e sua namorada, a modelo Fernanda Vogel. Os quatro tripulantes sobreviveram ao impacto do helicóptero, mas Fernanda e o piloto Ronaldo Jorge Ribeiro não conseguiram nadar até a areia. Triatleta, João Paulo Diniz disse, na ocasião, que conseguiu nadar cerca de três quilômetros até chegar na areia da praia de Maresias, e que tentara salvar a namorada por diversas vezes, mas que não havia conseguido por causa do mar revolto. O copiloto Luiz Roberto de Araújo Cintra também conseguiu se salvar, chegando até a praia duas horas depois de Diniz.

O corpo de Fernanda Vogel foi encontrado três dias depois na praia de Santiago, em local bem próximo de onde, três dias antes, o corpo do piloto Ronaldo Ribeiro havia sido encontrado. João Paulo Diniz morreu em 2022, aos 58 anos, em sua casa de praia em Paraty (RJ), após sofrer um infarto.

Um fato curioso une as modelos Fernanda Vogel e Caroline Bittencourt. Além da coincidência de terem morrido no mar, por causa de acidentes com más condições do clima, João Paulo Diniz também foi namorado de Caroline.

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