USP e IFSP ouviram 707 ciclistas no Brasil e em Portugal e identificaram impactos psicológicos do ambiente na prática esportiva
O ciclismo é cada vez mais praticado no Brasil, como atividade física e meio de transporte. Mas seus benefícios vão além do corpo: pedalar também pode melhorar o bem-estar psicológico, principalmente, quando a atividade ocorre em áreas verdes. É o que aponta uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em parceria com o Instituto Federal de São Paulo (IFSP), e divulgada em matéria publicada no Jornal da USP, por Fernanda Zibordi.
A investigação foi conduzida por Emerson Barão, doutor em ecologia aplicada, com base em testes presenciais e on-line aplicados a ciclistas de diferentes regiões. Foram avaliados aspectos como estresse percebido, sensação de bem-estar, hábitos de ciclismo e conexão com a natureza. Para isso, o estudo usou escalas psicométricas validadas para o contexto brasileiro.
No Brasil, participaram 473 ciclistas, dos quais 156 responderam presencialmente aos questionários antes, durante e após os treinos. O restante respondeu por meio digital. Já em Portugal, todos os 234 ciclistas ouvidos participaram on-line, somando 707 pessoas ao todo.
A análise revelou que os efeitos positivos do ciclismo na saúde mental aparecem em todos os contextos, mas são potencializados em ambientes arborizados e com presença de natureza. Ainda que muitos ciclistas usem espaços urbanos para se exercitar, quando questionados sobre onde se sentem melhor, a maioria mencionou áreas verdes, como trilhas e parques.
De acordo com os relatos, mesmo os ciclistas que costumam pedalar em zonas urbanas associam mais bem-estar às experiências em locais naturais. A natureza apareceu como fator mais citado entre os motivos de escolha dos percursos, à frente de fatores como segurança, distância ou infraestrutura.
A pesquisa também mostrou que, ao se imaginarem pedalando em áreas com vegetação densa, os participantes relataram mais bem-estar do que ao se imaginarem em avenidas ou rodovias. A associação com a paisagem natural parece ser determinante para a experiência emocional com o esporte.
A comparação entre os dois países mostrou diferenças relevantes. Enquanto em Portugal o bem-estar esteve mais ligado ao tempo de pedalada, no Brasil a presença de áreas verdes foi o fator com maior peso. Isso pode ser explicado pelo maior grau de urbanização brasileira e pela menor acessibilidade a áreas naturais, segundo o pesquisador.
Para Emerson Barão, estimular o uso da bicicleta em áreas naturais é uma forma de promover não só a saúde individual, mas também a valorização do território.
Permitir que o ciclista entre em uma área natural pode aumentar sua conexão com o ambiente e fortalecer atitudes pró-conservação”, conclui.
A tese Bem-estar de ciclistas em diferentes ambientes: do urbano à unidade de conservaçãoestá disponível on-line e pode ser acessada aqui.