Novos dados liberados pelo IBGE nesta quinta-feira (19) aponta que um em cada cinco residentes em terras indígenas não é alfabetizado
Mayumi Kitamura
Publicado em 20/12/2024, às 16h16
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) liberou na quinta-feira (19) os dados específicos relacionados a características das pessoas e domicílios indígenas, apurado no Censo Demográfico 2022. Conforme revelou, um em cada cinco residentes em terras indígenas, com idade a partir de 15 anos, é analfabeto.
Nas notícias sobre os novos dados, apesar de apontamentos de que os índices melhoraram com o passar dos anos, há até quem considere alarmante, no entanto, desconsideram as diferenças culturais e dificuldades de acesso à educação.
Conforme o historiador Cadu de Castro, que atua com comunidades indígenas desde 2005, a análise baseada somente nos números incorre em uma interpretação extremamente equivocada.
“O analfabetismo, por exemplo, entre nós, é um motivo, inclusive, de vergonha para as pessoas. Para o indígena, não. Ele não se envergonha de ser analfabeto porque os povos indígenas nunca tiveram escrita”, apontou.
A escrita, ele ressaltou, foi implementada no Brasil pelos colonizadores, portanto não era utilizada pelos povos indígenas, que a desenvolveram somente a partir da necessidade de lidar com a nossa sociedade. E acrescentou: “Um segundo ponto, é entender que o sistema de educação deles é completamente distinto do nosso. A educação entre os povos indígenas é uma educação informal e que funciona muito bem para eles. O terceiro ponto é que, a partir do momento que eles têm um contato maior com a nossa sociedade, a partir do momento que eles precisam conhecer leis para poderem lutar pelos seus direitos e pelos seus territórios, eles começam a desenvolver a necessidade de conhecer a escrita e a leitura, e aí, a partir daí, eles vão começar a se alfabetizar”.
Outro aspecto comentado pelo historiador é que, além dos aspectos culturais, outro fator a ser considerado, principalmente entre as gerações mais antigas, é que não havia escolas em territórios indígenas, e era necessário que eles saíssem dessas áreas para estudar, colocando-os em ambientes em que, muitas vezes, sofriam com discriminação e até violência.
“Eram poucos os que saíam para estudar. Quando começaram a instalar as escolas dentro das aldeias indígenas, e eu estou falando de poucas décadas para cá, eles começaram a se alfabetizar de fato. Portanto, são os mais jovens que têm essa condição. Então o analfabetismo para o indígena tem um significado muito diferente do analfabetismo dentro do contexto cultural da nossa sociedade”, detalhou Cadu de Castro.
Dados do Ministério da Educação (MEC) indicam que, até 2012, havia 2.872 escolas indígenas no território nacional, em dez anos, esse número saltou para 3.521 escolas do ensino básico em terras indígenas.
Publicação da Secretaria do Estado de São Paulo indica que, no litoral paulista, a escola estadual com maior número de matriculados é a EEI Txeru Ba e Kua-i, na terra indígena Ribeirão Silveira, na divisa entre Bertioga e São Sebastião. A informação deste ano indica o atendimento a 99 alunos indígenas, e o povo indígena local se autodeclara falante de Tupi-Guarani.
Mayumi Kitamura
Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá) e técnica em Processamento de Dados. Atua na área de comunicação há mais de 20 anos. Integra a equipe de mídias sociais do portal Costa Norte.