MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Veja quando o calor fora de época dará trégua no litoral de SP

Climatologista Rodolfo Bonafim também explicou um pouco do que pode ter ocasionado a tragédia climática no Rio Grande do Sul

Esther Zancan
Publicado em 07/05/2024, às 15h07 - Atualizado às 16h14

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Frente fria deve passar pelo litoral paulista a partir de quinta-feira (9) - Arquivo/CN
Frente fria deve passar pelo litoral paulista a partir de quinta-feira (9) - Arquivo/CN

O outono chegou em março apenas no calendário, pois é só sair para perceber que o verão não arredou o pé, ainda. A atual onda de calor, que castiga boa parte do centro-sul do Brasil, tem produzido temperaturas dignas da estação mais quente do ano e por um longo período, que já chega a quase 20 dias. Mas quando será que o calor dará trégua, ao menos no litoral de São Paulo?

Para responder esta pergunta, o Portal Costa Norte conversou com o climatologista Rodolfo Bonafim, da ONG Amigos da Água, de Santos. O calorão, provavelmente, dará descanso a partir de quinta-feira (9), com pequena mudança no tempo no litoral paulista. O climatologista explicou que o calor diminuirá devido a passagem de uma frente fria. Ela é relativamente fraca, tanto que o calor não deve diminuir no interior do estado. A mudança no tempo será sentida mesmo na Baixada Santista, litoral sul, litoral norte, Vale do Ribeira e um pouco na Região Metropolitana de São Paulo. 

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A passagem da frente fria deve ser breve e, no sábado (11), o tempo começa a melhorar. Já para a semana que vem, de terça-feira (14) em diante, há a possibilidade da chegada de uma frente fria mais forte no litoral de São Paulo. “Deve dar uma baixada boa na temperatura, uma boa refrescada”, disse Bonafim. Ele lembrou que, previsão com muita antecedência, com mais de cinco dias, é mais sujeita a erros, então, ainda podem ocorrer mudanças nesse prognóstico.

Rio Grande do Sul

Enchentes no Rio Grande do Sul
Enchentes já provocaram 90 mortes no Rio Grande do Sul - Reprodução/Carlos Fabal/AFP

Bonafim comentou a situação no Rio Grande do Sul. As enchentes que arrasaram o estado gaúcho estão muito ligadas ao bloqueio atmosférico que atinge o Brasil no momento. “É como se fosse uma muralha separando o ar frio e úmido do sul, do ar quente e seco do restante do país”. Ele disse que esses bloqueios são mais comuns no inverno e provocam os chamados veranicos, tão incidentes no litoral paulista no mês de julho, onde os dias ficam mais quentes, mas nada parecido com esta onda de calor que estamos vivenciando. 

O climatologista lembrou que a atual onda de calor é um evento inédito no litoral de São Paulo, com muitos dias seguidos de temperaturas acima da média, parecidos com o verão. Parecidos apenas, pois o calor nesta época do ano não chega a ser extremo, pois, mesmo com a anomalia climática, a incidência dos raios solares é mais oblíqua, isto é, mais inclinada. A eficiência do sol em aquecer o solo é menor. Os dias, durante o outono, também são mais curtos, com menos tempo para o aquecimento. O resultado são noites e  manhãs mais frescas que no verão. Mesmo assim, ele frisa que a situação atual do clima é anômala.

Em relação à tragédia climática no Sul, Bonafim disse que o fenômeno El Niño costuma provocar muita chuva por lá. Mas, dessa vez, a situação foi radical porque, atualmente, há apenas um rescaldo do El Niño. Leva um tempo para cessar seus efeitos e a La Ninã ainda não está configurada no Pacífico equatorial, o que só deve acontecer no segundo semestre deste ano. 

Bonafim credita o ocorrido no Sul às mudanças climáticas, previstas há anos, inclusive em um estudo de paleoclimatologia, de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo). Segundo o climatologista, esse estudo atesta que o Sul do Brasil, o Noroeste da Argentina e a região do chaco paraguaio seriam as primeiras regiões atingidas pelas mudanças climáticas. Bonafim diz que as mudanças são potencializadas não apenas pelo aquecimento global, mas também pela monocultura, principalmente, de soja. “Uma cultura só acaba esgotando o solo. O ideal é fazer rodízio de culturas”.

Pampa Gaúcho
Região do pampa gaucho já apresenta indícios de desertificação, em alguns pontos - Reprodução/National Geographic

Ele alertou ainda para a situação do bioma do pampa gaúcho, cada vez menor, com indícios até de desertificação na região sul do Rio Grande do Sul. “Um solo mais raso, mais pobre, tende  a mudar o regime de chuvas e alternar eventos de calor extremo com chuva extrema e frio extremo também, pois os campos estão perdendo a sua cobertura vegetal”, finalizou.

Esther Zancan

Esther Zancan

Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.

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