Ressacas já destruíram residências construídas irregularmente na areia da praia, em São Sebastião; em Ilhabela problema é visto em dois bairros
Dezenas de famílias em cidades do litoral norte de São Paulo vivem um pesadelo comum, o avanço da maré em direção a suas moradias. Em alguns casos, parte das construções foram erguidas na década de 1990, na própria areia e, agora, os proprietários passaram a construir barricadas, com pedras encontradas nas praias e restos de construção, para tentar frear a invasão do mar.
No tradicional bairro São Francisco, na região central de São Sebastião, um dos primeiros a surgirem no município, algumas casas foram construídas há algumas décadas junto à faixa de areia. Até postes de energia foram instalados na areia da praia, com base de cimento reforçada para proteção contra as ondas.
No bairro Canto do Mar, na costa norte de São Sebastião, muitas famílias perderam suas casas ao longo dos anos, também porque as construíram na areia, sem nenhum tipo de preocupação com a fundação das mesmas. As residências que restaram estão cercadas por barricadas, nem sempre eficazes quando a ressaca provoca ondas de mais de três metros de altura. Além de o mar atingir as casas na faixa de areia no Canto do Mar e na vizinha praia da Enseada, as ruas também sofrem alagamentos, que invadem moradias, mesmo algumas distantes cerca de 150 metros da praia.
Em Ilhabela, a elevação do nível dos oceanos também atinge algumas ruas dos bairros Barra Velha e Perequê, na região central. Em dias de ressaca, a água do mar invade ruas, residências e prejudica o trânsito de carros e pedestres, em uma região onde estão localizadas escolas, agências bancárias, supermercados, restaurantes e pousadas.
Diferentemente de São Sebastião, as construções erguidas próximas ao mar, em Ilhabela, são de alto padrão, com casas, condomínios e mansões milionárias, especialmente no extremo norte, como nas praias da Ponta Azeda, do Pinto, Ponta das Canas e Armação.
O aumento do nível dos oceanos e, consequentemente, o avanço do mar em regiões litorâneas, é creditado ao aquecimento global, que também seria responsável por outros impactos profundos no planeta, como a extinção de espécies animais e vegetais, alteração na frequência e intensidade de chuvas, que interferem, por exemplo, na agricultura; e intensificação de fenômenos meteorológicos, como tempestades severas, inundações, vendavais, ondas de calor, secas prolongadas, entre outros fenômenos.
Tais conclusões foram obtidas após análise dos diversos cenários de emissão de gases de efeito estufa para os próximos 100 anos, feitas por cientistas do IPCC (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). As ações humanas têm interferido sobre o ambiente num ritmo muito acelerado.
Estudos indicam, por exemplo, que, enquanto a temperatura média global subiu aproximadamente 5°C, em 10 mil anos, contados desde o fim da última glaciação até 10 mil anos atrás, ela pode aumentar os mesmos 5°C em apenas 200 anos, a continuar o ritmo de aquecimento global que se observa nas últimas décadas.
Aquecimento global é o fenômeno de aumento das temperaturas do planeta Terra, para além do patamar considerado normal, e é entendido como a intensificação do efeito estufa. A Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) estima que a Terra estava 1,36 ºC mais quente no ano de 2023 do que a média do período pré-industrial.