Ave característica de manguezais chegou a ficar extinta no Sudeste do Brasil, mas mostra cada vez mais a sua presença na cidade
Considerada uma das aves mais bonitas do Brasil, e que quase foi extinta em toda a região Sudeste, os guarás (Eudocimus ruber), também conhecidos como guarás-vermelhos, têm marcado presença, nos últimos anos, em Bertioga, no litoral de São Paulo. Entre o outono e o inverno, as revoadas, geralmente em bandos de aproximadamente 50 aves, formam pinceladas em tons vermelhos no céu. Além de encantarem moradores e visitantes, proporcionam momentos inesquecíveis para observação de pássaros, atividade internacionalmente conhecida como birdwatching.
Mesmo quem se depara com essas aves em Bertioga quase diariamente, não deixa de se admirar a cada avistamento, como é o caso de Bruno Guazzelli Filho, que promove passeios de canoa pelo rio Jaguareguava, por meio de sua agência de ecoturismo. “Um dia, vi uma revoada de 200 a 300 guarás sobrevoando a ponte [do rio Itapanhaú]. O céu ficou rosa. Eu estava passando com meu carro e fiquei maluco quando vi aquilo”, recordou.
A ave, que passa a maior parte da vida nos manguezais, é um lembrete da importância desse ecossistema, celebrado mundialmente no dia 26 de julho. É no mangue que os guarás conseguem a cor característica de suas penas, já que se alimenta de animais ricos em carotenoides, como o caranguejo conhecido como chama-maré. Mesmo assim, este é um processo demorado, como conta o biólogo, ornitólogo e guia ambiental, Odemir de Freitas Júnior.
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“Em Bertioga, nessa época, conseguimos observar os adultos, bem vermelhos, de tom bem vibrante, uns jovens totalmente acinzentados e alguns que estão começando essa mudança, porque ela não acontece de uma vez, é aos poucos. Ele vai tendo umas peninhas mais vermelhas, o peito vai ficando mais rosado, e conforme vai ficando adulto, vai ganhando aquela cor linda”, detalhou.
Essa beleza também é um dos motivos para sua quase extinção na região Sudeste, gradualmente eliminado pela caça e perturbação dos ninhais. Um exemplo da predação deste animal, ao longo dos séculos, temos o famoso e raro manto Tupinambá repatriado da Dinamarca para o Brasil, cuja coloração vermelha intensa é oriunda das penas de guarás. Este artefato indígena, datado dos séculos 16 e 17, é um, de 11, que ainda restam no mundo todo; acredita-se que era usado, inclusive, durante os rituais antropofágicos - nos quais os membros da etnia matavam e se alimentavam da carne de seus inimigos.
Após serem dados como extintos no estado de São Paulo, na década de 1980, os guarás, surpreendentemente, voltaram a aparecer em um manguezal poluído, em Cubatão, e daí, acredita-se que esta população tem se expandido, voltando a áreas que habitava em tempos passados. “Em Bertioga, a população de guarás tem crescido bastante, provavelmente, uma divisão da população de Cubatão, que tenha aumentado muito, e eles estão explorando, recolonizando novas áreas. Bertioga, antigamente, era área de guará”, comentou Odemir.
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Conforme destacou o ornitólogo, um dos aspectos positivos para a presença desta espécie na cidade é a presença de mangues em áreas de proteção ambiental, o que garante, legalmente, a preservação. Para poder observar essas aves com o mínimo de impacto e possibilitar que elas continuem a se reproduzir, uma das formas é a descida de barco sem motor na região dos rios Jaguareguava e Itapanhaú. “É uma vantagem para os animais porque você diminui o estresse deles. O barco a motor vai gerar algum estresse, mesmo a nossa aproximação gera, mas é um estresse menor, então conseguimos observar por mais tempo eles se alimentando”, apontou.
Para os observadores de aves ou pessoas interessadas em ver de perto a beleza dos guarás, é possível agendar com o próprio ornitólogo um passeio guiado nos principais pontos de avistamento. Contatos pelo (11) 99780 0279 e direct do @birdwatching_bertioga. A Jaguareguava Ecoturismo, que realiza passeios de canoa pelo rio Jaguareguava, pode ser contatada pelos telefones (11) 94702 0906 e (11) 94700 3923.
Outros monitores e agências autorizadas a passeios por trilhas da cidade também podem ser contatados pelas operadoras: Associação Bertioguense de Ecoturismo (Abeco), pelo (13) 99728 9614, e Associações Locais de Monitores Ambientais Autônomos (Amolb), no (13) 99693 7598.