Inaugurada em 1956, antes mesmo de Praia Grande se emancipar, “Cidade” Ocian foi considerada a mais moderna do país; conheça mais sobre a história e atrações do bairro
Redação
Publicado em 27/05/2025, às 09h16
Vinte e dois edifícios, com 1.350 apartamentos, construídos em apenas dois anos. Chamar de ‘Cidade’ reflete bem o que esta obra, de 1956, representou para a época ao receber o título de mais bem planejada do país, até que a capital federal, Brasília, fosse inaugurada. Este é o bairro Ocian, o mais antigo de Praia Grande, inaugurado antes mesmo da emancipação da cidade.
O tradicional bairro carrega consigo importantes momentos da história da cidade, como o local de comemoração do plesbicito para se separar de São Vicente. O bairro também abrigou a primeira sede da prefeitura. Nesta terça-feira, 27 de maio, o bairro comemora o aniversário de 69 anos, com muita história para celebrar.
Sobre o empreendimento que mudou a história do bairro e de Praia Grande, o sonho do engenheiro Roberto Andraus, presidente da Organizadora Construtora e Incorporadora Andraus - OCIAN (dividindo a diretoria com seus dois irmãos, René e Raul) era proporcionar toda a infraestrutura necessária para que os compradores pudessem aproveitar a região da melhor maneira possível.
A organização Andraus investiu em propaganda, por meio da impressão de panfletos e publicidade nas principais emissoras de rádio, revistas e jornais da época. Tanto empenho resultou em uma verdadeira corrida para a compra de apartamentos na localidade. Foi realmente a primeira revolução no comércio imobiliário da cidade.
Na época, o espaço escolhido foi um sítio comprado pelos Andraus, quando Praia Grande ainda pertencia a São Vicente, e contava com poucos serviços urbanos. Posteriormente, esses sítios iniciaram o processo de loteamento dos bairros, ainda de forma precária.
No Ocian, porém, foi diferente. A construção dos prédios trouxe infraestrutura essencial em uma iniciativa inédita no país: geradores de energia a óleo diesel, coleta e incineração do lixo, moderníssima estação de tratamento de esgotos, avenidas pavimentadas, iluminação pública, água encanada e o estímulo ao comércio, atraindo tanto moradores quanto turistas.
No acervo do Museu da Cidade, de Praia Grande, constam registros que apresentam a dimensão deste empreendimento. O então jornal Folha da Tarde, em maio de 1956, afirmou que mais de 5 mil pessoas estiveram presentes na inauguração da “Cidade” Ocian, inclusive, com caravana da capital paulista para acompanhar o momento.
Um dos autores do livro Sob o olhar de Netuno – Memórias e Narrativas, que traz memórias de moradores, funcionários e de diversas pessoas sobre o bairro, o professor doutor em história da educação, Rafael da Silva e Silva, explica que o Ocian teve papel preponderante no desenvolvimento de Praia Grande e da região da Baixada Santista. “Eu arrisco dizer que a construção do bairro Ocian é o início da verticalização do litoral sul, porque, até então, as construções eram basicamente de casas. A partir da Cidade Ocian, você tem uma construção verticalizada e passamos a ter esse processo junto com o desenvolvimento dos bairros que compõem a cidade”, explicou o historiador.
Mesmo após a construção da Cidade Ocian e pressão popular por melhorias, a administração vicentina não dava a devida importância para os moradores de bairros adjacentes. Em 1967, Praia Grande se emancipou de São Vicente e a comemoração da conquista não tinha outro lugar para ocorrer: a tradicional Estátua de Netuno, entregue juntamente com o empreendimento de Andraus. Foi lá que os praia-grandenses celebraram o “SIM” do plebiscito, para se separar de São Vicente, e acenderam a chamada fogueira comemorativa, marco da emancipação, ao redor do monumento.
Devido à falta de estrutura da cidade, a primeira sede da prefeitura de Praia Grande também teve total conexão com o bairro: o Ocian Praia Clube recebeu, em 1967, a instalação provisória do governo do interventor federal Nicolau Paal, que foi o engenheiro responsável por auxiliar Roberto Andraus na obra de construção do bairro.
A história da construção do empreendimento foi representada exatamente com o título da matéria do jornal Folha da Baixada, em 1977: “Cidade Ocean (sic): um marco inicial do progresso de Praia Grande”.
Engana-se quem pensa que o nome do bairro tem ligação com a questão do mar. Ocian é a sigla composta a partir das iniciais da empresa Organizadora Construtora e Incorporadora Andraus, de Roberto Andraus e seus irmãos. Justa homenagem para quem transformou a história de Praia Grande.
Outro ponto icônico do Ocian foi a caixa d’água, considerada por muito tempo um dos símbolos do local, com sua construção pelo grupo Andraus, em 1962. Na construção da caixa, inicialmente, foram abertos 12 poços artesianos (1956), com 90 metros de profundidade, tendo captação da água feita por meio de 4.800 metros de tubulação, que retirava água do rio Branco. Ela tornou-se a principal abastecedora de água de Praia Grande até 1969, quando a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) se tornou a responsável pelo abastecimento. Devido à ação do tempo, ela foi desativada e depois demolida em meados de 2003.
O bairro é considerado o segundo centro econômico mais importante de Praia Grande (rivaliza com o do bairro Boqueirão), com centenas de comércios, empresas e prestadores de serviços de diversos setores e tamanhos sediadas por lá. Em uma mescla de história com modernidade, o bairro também conta com um lindo calçadão na orla, com a icônica Estátua de Netuno e a charmosa Boutique do Peixe, em formato de barquinho de pesca.
Sétimo bairro mais populoso de Praia Grande (de acordo com dados de 2022), o Ocian conta com aproximadamente 17 mil moradores e muitas opções para todas as idades, para quem mora ou apenas o visita. Escola de surfe, pista de skate, Espaço Kids com temática do fundo do mar, unidade do programa Conviver, Usafa, Academia da Saúde, Ecoponto e escolas municipais são encontrados no bairro, além da praça Roberto Andraus, que recebe a Feira de Artesanato fixa do bairro, em frente à igreja Nossa Senhora das Graças.
A presidente da Associação de Moradores do Bairro Ocian (AMO), Damares Oliveira, é moradora do local há 20 anos e fala do seu carinho pelo bairro. “Aqui temos tudo que a comunidade precisa para sobreviver. Temos, na área da saúde, a Usafa, e o comércio que facilita bastante. Escolhi o Ocian para morar pela localidade e praticidade na locomoção. É perto de tudo e o Ocian é o local do meu coração”.
