Litoral norte de São Paulo se une às praias de Alagoas, Espírito Santo e Santa Catarina, no reconhecimento do Programa Brasileiro de Reservas de Surf
Lenildo Silva
Publicado em 04/09/2024, às 16h35 - Atualizado às 16h46
A praia de Itamambuca, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, foi reconhecida como Reserva Nacional de Surfe, conforme anunciado pelo Programa Brasileiro de Reservas de Surf (PBRS). A decisão coloca Itamambuca ao lado de outras três praias: Francês (AL), Regência (ES) e Moçambique (SC).
A seleção das praias baseou-se em critérios como qualidade das ondas; características sócio-ecológicas do ecossistema; histórico de desenvolvimento do surfe no local e engajamento da comunidade. De acordo com o projeto, a iniciativa busca promover a conservação e a gestão sustentável dos ecossistemas marinhos e costeiros; as quatro eleitas formam uma rede de áreas protegidas para o surfe no Brasil.
A praia de Itamambuca é famosa por suas condições de ondas consistentes e pela preservação dos elementos naturais, como o rio Itamambuca e as dunas frontais. A comunidade, composta por caiçaras, quilombolas e indígenas, desempenha papel crucial na manutenção da biodiversidade da região, que abriga ecossistemas variados do bioma Mata Atlântica e Marinho Costeiro. A história do surfe em Itamambuca remonta à década de 1950, e a praia continua sendo um local importante para campeonatos e encontros de surfistas.
O surfista profissional Deivid Silva, de 29 anos, compartilhou com a reportagem as lembranças de Itamambuca, na qual competia anualmente, no início da carreira, e acumulou troféus e boas memórias. “Quando eu era criança, o campeonato da nova geração, voltado para amadores, ocorria exclusivamente nessa praia, então Itamambuca é de grande significado na trajetória no surfe na minha vida”, relembrou o atleta que compete desde os seis anos de idade.
Deivid também elogiou a beleza e a atmosfera acolhedora de Itamambuca; ele ressalta a vegetação exuberante e as ondas de qualidade, especialmente, no canto direito da praia. “Além das ondas incríveis, a praia oferece boa infraestrutura, com hospedagens, mercados e restaurantes próximos, o que torna ideal tanto para a prática do surfe quanto para momentos de lazer com a família”, destacou.
O Programa Brasileiro de Reservas de Surf, coordenado pelo Instituto Aprender Ecologia, em parceria com a Conservação Internacional (CI-Brasil), objetiva implementar uma rede de reservas de surfe ao longo do litoral brasileiro. Fabricio Almeida, presidente da Aprender, disse: “Não entrou só uma onda, entrou uma série. Ficamos muito felizes com este resultado e em anunciar esta seleção que nos permite lançar a Rede Brasileira de Reservas de Surf, contando com picos de notório reconhecimento como importantes ecossistemas de surfe da costa brasileira”.
Para Maurício Bianco, vice-presidente da Conservação Internacional, a preservação das áreas de surfe é fundamental para enfrentar a crise climática, já que muitos picos de surfe estão situados em ecossistemas que armazenam grandes quantidades de carbono. Bianco destacou ainda que esses ecossistemas, além de contribuírem para a biodiversidade e o clima, geram benefícios socioeconômicos por meio da criação de empregos e renda.
Com a nova designação, as praias selecionadas deverão iniciar a formação de um comitê de gestão local e organizar eventos para celebrar a titulação como reserva nacional de surfe. Esses comitês serão responsáveis pela elaboração de planos de gestão, que definirão ações e metas a serem realizadas nas comunidades, sempre acompanhadas pelo Sistema de Monitoramento das Reservas de Surf.
A expansão do PBRS pretende abrir oportunidades para que mais praias no Brasil adotem o modelo de gestão participativa e sustentável, inspirado nos Programas Australiano e Mundial de Reservas de Surf. Atualmente, a Guarda do Embaú (SC) é a única representante brasileira no Programa Mundial de Reservas de Surf.
Lenildo Silva
Cursa jornalismo na Faculdade Estácio
