Entre os naufrágios, está o do Príncipe de Astúrias, considerado o "Titanic brasileiro"; transatlântico espanhol naufragou em 6 de março de 1916
Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, além de ser um pedacinho de paraíso, é um excelente destino para os praticantes de mergulho. Com natureza exuberante, a cidade-arquipélago registra em sua história diversos naufrágios. Ela é considerada o maior parque de naufrágios do estado de São Paulo, e esses pontos são atraentes para os praticantes de mergulho.
Tais locais de naufrágio foram destaque no guia Roteiros de Mergulho, lançado pelo governo do estado, em novembro de 2024. A localização geográfica de Ilhabela, interposta nas rotas de navegação entre os maiores portos do país, o grande número de lajes e parcéis submersos em seu entorno, frequentes ocorrências de densos nevoeiros, fortes ventos, mar agitado e intensas correntes marítimas facilitaram a ocorrência desses naufrágios. Confira alguns deles:
Naufrágio Concar - Profundidade: 3 a 14 metros - Características: na madrugada de 29 de outubro de 1999, o navio cargueiro espanhol Concar perdeu o rumo, quando se dirigia para o sul, encalhando sobre as pedras nas proximidades da Ponta de Pirassununga. Após o encalhe, o navio adernou para bombordo, ficando parte de seu casco sobre uma laje. A popa, devido a esta inclinação, ficou quase ao nível d’água. Com o mar agitado, a cada onda mais água entrava pelo convés. Na madrugada do dia 19 de novembro, em meio a um grande temporal, o navio partiu-se em três pedaços, dois deles, popa e meia-nau, afundaram. Apenas a proa ficou presa sobre as rochas, permanecendo ali durante alguns anos.
Naufrágio Príncipe de Astúrias (“Titanic” brasileiro) - Profundidade: 18 a 35 metros - Características: transatlântico espanhol, com 150 metros de comprimento, casco de aço e propulsão a vapor. Naufragou em 6 de março de 1916, devido ao mau tempo. O naufrágio do Príncipe de Astúrias é considerado um dos mais difíceis mergulhos do Brasil, tanto no critério de planejamento da operação, quanto no mergulho propriamente dito, pois há nele vários fatores complicadores. Fortes correntes marítimas contribuem para que o mar no local fique agitado mesmo em dias de calmaria. Por isso, a visibilidade média da água é de 1,5 metro.
O acidentado relevo do fundo e o amontoado de ferros retorcidos, devido às inúmeras explosões feitas por exploradores, obrigam os mergulhadores a dominar técnicas avançadas de mergulho. O naufrágio está paralelo ao costão, com sua popa voltada para leste e a proa para oeste. Boa parte da estrutura encontra-se desmantelada, com seus destroços estendendo-se entre 15 e 35 metros de profundidade. A meia-nau e a popa estão apoiadas na areia e as caldeiras estão soltas e caídas no fundo. Na faixa dos 30 metros, está depositado o grande eixo que, em alguns pontos, mostra flanges abertas, o que poderia evidenciar que o navio colidiu com o fundo ainda com as hélices funcionando.
Naufrágio Campos - Profundidade: 40 a 55 metros - Características: cargueiro brasileiro, com 114 metros de comprimento e casco de aço. Naufragou em 23 de outubro de 1943, torpedeado por um submarino alemão U-170. Devido à grande profundidade e ao fato de estar afastado da costa, em área sujeita a fortes correntes marítimas, este é um perfil de mergulho técnico.
Naufrágio Hathor - Profundidade: 6 a 18 metros - Características: cargueiro inglês, com 104 metros de comprimento, casco de aço e propulsão a vapor. Naufragou em 24 de março de 1909 devido ao mau tempo. O naufrágio está paralelo ao costão, com a proa voltada para o sul. Aos 6 metros, visualiza-se uma âncora Hawkins, um aglomerado de correntes e um escovém, logo abaixo, espalhado pelo fundo, turcos, dois cabeços de amarração e fragmentos dos costados de bombordo e boreste, sendo que, no de boreste, os cavernames estão expostos.
Aos 12 metros, parcialmente apoiada sobre uma grande pedra, a belíssima máquina a vapor tipo “triple expansion engine” e outras peças do maquinário, como pistões, bielas e cilindros. Aos 16 metros, uma caldeira íntegra “aquatubulare” com 3,5 metros de altura, e outra quebrada, com os trocadores de calor expostos. Nessa mesma profundidade, muito próximo às grandes caldeiras, encontram-se partes de uma caldeira auxiliar parcialmente soterrada. A popa do naufrágio está destruída e só é possível identificar o que restou do casco.
Naufrágio Dart - Profundidade: 5 a 15 metros - Características: cargueiro inglês, com 105 metros de comprimento, casco de aço e propulsão a vapor. Naufragou em 11 de setembro de 1884 devido ao mau tempo. O naufrágio encontra-se paralelo ao costão, totalmente desmantelado. Aos 7 metros de profundidade, pode ser encontrada uma grande estrutura com cavernames. Sobre ela, estão posicionadas duas grandes âncoras tipo almirantado, presas uma a outra em oposição. Uma terceira âncora encontra-se caída próximo ao guincho e, a 2 metros deste, um cabeço de amarração. Descendo em direção à areia, encontra-se outro cabeço de amarração e parte do maquinário do navio. Um cilindro ou câmara de condensação está caído por volta dos 12 metros. Na popa, pode-se encontrar o que restou do leme e de sua estrutura de suporte. No fundo, junto à areia, há grande quantidade de cacos de louças e vidros.
Naufrágio São Janeco - Profundidade: 6 a 15 metros - Características: cargueiro inglês, com 80 metros de comprimento, casco de aço e madeira e propulsão a vapor e a vela. Naufragou em 3 de dezembro de 1929, devido ao mau tempo. Atualmente, o naufrágio encontra-se desmantelado, restando apenas segmentos de destroços de meia-nau até a popa, estendendo-se do costão, aos 6 metros, até o fundo de areia, aos 15 metros. No fundo, pode-se ver a estrutura inteira da popa tombada para boreste. A hélice apresenta duas pás expostas e a terceira enterrada ao lado desta. O leme e o volante do leme estão separados da estrutura do navio. Da popa, podemos seguir pelo longo eixo até o que restou das máquinas a vapor, aos 6 metros, ou seja, um grande cilindro corroído, sua tampa, um pistão e parte do virabrequim. Os flanges de união do eixo ainda mostram continuidade e ladeando este, encontram-se cavernames e outras peças auxiliares, como diversos mancais, um guincho e uma câmara de condensação.
Naufrágio Therezina - Profundidade: 5 a 13 metros - Características: cargueiro brasileiro, com 97 metros de comprimento, casco de aço e propulsão a vapor. Naufragou em 2 de fevereiro de 1919, devido ao mau tempo. O naufrágio encontra-se desmantelado, sem seguimento normal e com peças espalhadas por todo o perímetro. Os destroços começam junto ao costão, com a presença de um guincho, correntes e outras partes não identificáveis. Seguindo em direção ao fundo e ligeiramente para a direita do costão, podem ser vistas duas das caldeiras posicionadas em pé: uma delas está colapsada, enquanto a outra apresenta-se íntegra. Ao lado de uma destas caldeiras, está encostada uma hélice de quatro pás, parecendo ter parado aí, em uma das tentativas de resgate da peça. Abaixo das caldeiras pode ser visto o bloco da máquina, o virabrequim, pistões e parte do eixo. Junto ao bloco, partes do cavername e do casco ainda estão íntegras. Já na areia, encontra-se uma câmara de condensação da caldeira e alguns turcos. Uma série de outras peças, como cabeços de amarração e partes do casco, está colocada nos arredores deste grupo principal de destroços.
Naufrágio Velasquez - Profundidade: 5 a 20 metros - Características: transatlântico inglês com 153 metros de comprimento, casco de aço e propulsão a vapor. Naufragou em 17 de outubro de 1908, devido ao mau tempo. No costão, em alinhamento com a posição dos destroços e próximo da linha d’água, encontra-se uma das âncoras Hawkins ainda passada no escovém, correntes e um cabeço de amarração. O naufrágio encontra-se desmantelado, em posição perpendicular ao costão. Junto a ele, aos 5 metros, podem ser vistas algumas peças de ferro sem partes identificáveis.
Nadando em direção ao fundo, chega-se à primeira caldeira, posicionada à frente das demais e perpendicularmente ao sentido do casco. Há pontos onde pode ser feita a penetração sob o casco, já que o navio repousa sobre um fundo formado por grandes pedras. Aos 8 metros, no centro dos destroços, encontram-se três grandes caldeiras, com a terceira ligeiramente afastada a bombordo do navio. Atrás das duas caldeiras principais encontram-se as máquinas, onde podem ser vistos os virabrequins, pistões, camisas e mancais. A bombordo, há uma grande parte do casco e, a boreste, pequenos fragmentos, turcos e cabeços de amarração. Seguindo o eixo em direção ao fundo, pode-se acompanhar os mancais até alcançar a popa ainda inteira. O comando do leme é nítido, estando apoiado em ângulo de 45° com o fundo. Logo abaixo do leme, está o corpo (cuba) da hélice, de onde foram retiradas três đas quatro pás.
Naufrágio Aymoré - Profundidade: 5 a 10 metros - Características: cargueiro brasileiro com 60 metros de comprimento, casco de aço e propulsão a vapor. Naufragou em 23 de julho de 1920, devido ao mau tempo. O naufrágio encontra-se paralelo ao costão e sua proa está a menos de um metro de um dos pilares do píer. Nesta região, podem ser vistos um grande guincho, parte das correntes, algumas ferragens da proa e diversos turcos. Próximas ao guincho, são visíveis partes do cavername e do casco e dois cabeços de amarração.
Aproximadamente a 15 metros da proa, posicionada no centro dos destroços, está a grande caldeira. Junto a ela, existem dois condensadores menores e outras peças do sistema de vapor. Há também vestígios de outra caldeira, que possivelmente teria explodido. Seguindo na direção da popa, pode-se notar partes dos costados de bombordo e boreste, com respectivos cavernames em alinhamento. Ao centro, está a máquina propulsora, com virabrequins, pistões e camisas, ainda conectada ao eixo que segue apoiado sobre seus mancais no sentido da popa. Ao longo dele, existem muitas partes enterradas e descobertas. O eixo penetra no casco ainda inteiro da popa, que mantém sua integridade. O encaixe do leme permanece em sua posição original, enquanto o leme está caído a bombordo. A hélice permanece no local, porém suas pás foram cortadas.
É importante observar previamente as condições climáticas, de navegação e de fundeio. Ao longo do ano, a temperatura média da água situa-se na casa dos 22°C, podendo chegar aos 27°C entre meados de janeiro até a chegada do outono. Ocasionalmente, no início do verão, pode ocorrer o fenômeno das termoclinas, correntes extremamente frias, em determinada faixa da coluna d’água.
Ilhabela possui diversas escolas de mergulho, e que também levam os mergulhadores até os pontos de naufrágio. Mais informações turísticas podem ser obtidas pelo telefone do Centro de Informações Turísticas (12) 3895 2035.
Com informações de guia Roteiros de Mergulho de SP