ESTUDO

Veneno de escorpião da Amazônia pode ajudar a tratar câncer de mama

Pesquisadores brasileiros identificam molécula promissora no combate a tumores; estudo busca alternativas menos agressivas à quimioterapia tradicional


Redação
Publicado em 18/06/2025, às 14h46

FacebookTwitterWhatsApp

Veneno de escorpião da Amazônia pode ajudar a tratar câncer de mama
Molécula do veneno do Brotheas amazonicus apresentou efeitos comparáveis ao do quimioterápico paclitaxel em células de câncer de mama - Pedro Ferreira Bisneto/iNaturalist

Uma substância presente no veneno do escorpiãoBrotheas amazonicus, comum na região amazônica, pode se tornar uma nova aliada no combate ao câncer de mama. A molécula, batizada de BamazScplp1, apresentou resultados promissores ao ser testada em laboratório, com ação semelhante à do quimioterápico paclitaxel, um dos mais usados no tratamento da doença.

Segundo pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o composto induz a morte das células tumorais por necrose, um comportamento também observado em toxinas de outras espécies de escorpiões.

O estudo faz parte de  projeto apoiado pela Fapesp e vinculado ao Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. Os cientistas já utilizam técnicas de clonagem e expressão de moléculas bioativas, como proteínas extraídas de serpentes e escorpiões, para criar medicamentos em laboratório.

Um exemplo é o selante de fibrina, um tipo de “cola biológica” desenvolvido com uma serinoproteinase retirada de veneno de cobra, combinada com sangue de bubalinos ou ovinos. Essa solução já foi patenteada e vem sendo testada clinicamente para acelerar a cicatrização de lesões ósseas e nervosas.

“Nossa ideia, agora, é obter essa serinoprotease por expressão heteróloga em Pichia pastoris”, afirmou à Agência Fapesp Eliane Candiani Arantes, coordenadora do projeto. A mesma técnica poderá ser usada para reproduzir outras moléculas promissoras, como o fator de crescimento endotelial CdtVEGF e as neurotoxinas com efeito imunossupressor identificadas em escorpiões.

A molécula BamazScplp1 também será produzida dessa forma, com o objetivo de viabilizar futuros testes em humanos e ampliar a escala de produção do possível medicamento. Além desse avanço, outras frentes de pesquisa financiadas pela Fapesp também desenvolvem abordagens inovadoras contra o câncer:

  • Diagnóstico e tratamento com radioisótopos: pesquisadores da Unicamp integram o Centro de Inovação Teranóstica em Câncer (CancerThera) e trabalham com moléculas marcadas que permitem visualizar tumores e, depois, tratá-los com radiação.
  • Vacinas personalizadas: projeto do Instituto de Ciências Biomédicas da USP desenvolve uma imunoterapia baseada em células dendríticas de doadores saudáveis fundidas a células tumorais dos próprios pacientes.
  • Uso de IA em exames de imagem: em Toulouse, na França, um grupo de cientistas emprega inteligência artificial na análise de ressonâncias magnéticas de pacientes com glioblastoma, para prever sobrevida e resposta ao tratamento.

Essas abordagens combinam inovação científica com biotecnologia de ponta e abrem caminhos para terapias mais eficazes e personalizadas no futuro próximo.

Com informações da Agência Fapesp

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!