Substituição gradual do exame Papanicolau visa rastreio mais eficaz do câncer de colo do útero, com foco na prevenção e na ampliação do acesso ao diagnóstico
O Ministério da Saúde inicia, neste mês, a substituição do tradicional exame de Papanicolau pelo teste molecular de DNA-HPV,, no Sistema Único de Saúde (SUS). O estado de Pernambuco é o primeiro a passar pela transição; previsão do governo federal, conforme determinado pela portaria que instituiu a mudança, é de que a ampliação para todo o país deve ocorrer ainda neste ano.
A aplicação integra as novas diretrizes para o rastreamento do câncer de colo do útero e, desde 2013, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já indica o uso do teste de DNA-HPV em qualquer novo programa de rastreamento da doença. Para as pacientes, a coleta continuará sendo feita no consultório ginecológico, mas a análise do material será diferente e permitirá detectar o vírus com anos de antecedência, o que proporciona um intervalo maior entre os exames e um rastreamento mais eficiente.
Dessa forma, o intervalo entre as coletas passará a ser de cinco anos nos casos em que não houver detecção do vírus. A faixa etária para rastreamento permanece entre 25 e 49 anos, para pessoas sem sintomas ou suspeita de infecção.
O DNA-HPV é mais sensível que o Papanicolau e permite identificar os subtipos do vírus, especialmente os oncogênicos, como o HPV 16 e 18, que concentram 70% das lesões precursoras do câncer. Segundo o Inca, o exame também oferece maior valor preditivo negativo, ou seja, é mais confiável para descartar a doença. “O teste DNA-HPV tem um valor preditivo negativo muito forte. É uma margem segura aguardar cinco anos para fazer um novo teste”, afirma o pesquisador Itamar Bento, da Divisão de Detecção Precoce do Inca.
O Ministério da Saúde pretende implantar um rastreamento organizado, no qual o sistema de saúde convoca diretamente o público-alvo. A proposta busca corrigir falhas do modelo atual, que depende da iniciativa da paciente para buscar o atendimento.
Entre os principais pontos da nova diretriz estão:
De acordo com dados do Sistema de Informação do Câncer, entre 2021 e 2023, apenas três estados chegaram a coberturas próximas de 50% do público-alvo com o Papanicolau. Em muitos estados, os resultados são entregues com atraso, dificultando a confirmação diagnóstica e o início do tratamento em até 60 dias, como exige a legislação.
Com a mudança, especialistas estimam que o câncer de colo do útero pode ser erradicado em até 20 anos no Brasil, desde que o país mantenha altas coberturas vacinais e de rastreamento.