Em todo o país, foram registrados mais de 1,1 milhão de internações por pneumonia entre janeiro a agosto deste ano; alto índice já era esperado
O passar dos anos ainda não anulou os reflexos da pandemia de covid-19. Em Santos, no litoral de São Paulo, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Leste alerta para o aumento de casos de pneumonia bacteriana, que aumentaram 327% neste ano. Em todo o país, entre janeiro e agosto de 2024, 1,1 milhão de pacientes foram internados por causa da doença, de acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS).
A médica e diretora técnica da UPA, Gisele Abud, informou que os atendimentos saltaram de 37, no período de janeiro a outubro de 2023, para 158, entre os mesmos meses deste ano. “Com o isolamento social imposto durante a pandemia, muitos patógenos pararam de circular. Agora, eles passam a voltar e encontram mais focos, principalmente, nos mais frágeis, como crianças e idosos”, explicou.
A profissional também destacou que as mudanças bruscas no clima contribuem para reações alérgicas, como rinite e sinusite, que podem diminuir a imunidade e favorecer a infecção. Ainda assim, ela reforçou que o uso indiscriminado de antibióticos pode prejudicar, em vez de colaborar com o tratamento da doença. “Sob qualquer sinal de tosse persistente, seca ou mucosa, acompanhada de febre alta e dificuldade respiratória, é necessário ir ao médico. A pneumonia pode evoluir para casos mais graves e requer tratamento adequado”, alertou Abud.
Conforme apurado em reportagem assinada por J.Perossi, para o jornal da USP, em novembro de 2023, a sociedade internacional de doenças infecciosas informou uma nova onda de pneumonia bacteriana em hospitais chineses, sobrecarregados com crianças doentes. Mais tarde, países da Europa e os Estados Unidos também registraram aumento de casos. No entanto, esse crescimento já era esperado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o fim do período de isolamento ocorrido pela covid-19.
Ainda na reportagem, Alberto Cukier, diretor do Serviço da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explicou a relação entre a nova onda de pneumonia bacteriana e a pandemia. “O que está por trás disso é que, no dia a dia em que vivemos, nós ficamos expostos a esses agentes infecciosos e, ao nos expormos, nós adquirimos uma imunidade por causa dessa exposição. Quando nós ficamos vários meses reclusos em casa, vírus e bactérias desse tipo do microplasma circulavam e nós não estávamos expostos. Havia essa percepção de que, quando da retomada, nós estaríamos mais desarmados para responder a uma invasão de um desses microrganismos”, detalhou.