CULTURA

Educação bilíngue transcende ganhos didáticos e agrega valores socioculturais

Especialista em ensino infantil explica o assunto

Paulo Taroco
Publicado em 19/11/2024, às 16h54

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"Acelerar alguns métodos enquanto o indivíduo é ainda criança pode levar ao aumento de algumas capacidades", diz Laís Lobo - Arquivo pessoal
"Acelerar alguns métodos enquanto o indivíduo é ainda criança pode levar ao aumento de algumas capacidades", diz Laís Lobo - Arquivo pessoal

Em um mundo cada vez mais distante das barreiras geopolíticas, é inegável que os valores agregados por uma educação bilíngue desde cedo deixaram apenas de ser um diferencial para, dependendo do contexto, virar sinônimo de necessidade.

Não resta dúvida também de que a nova era de revolução industrial, seja na terceira ou quarta etapa, conforme o ponto de vista, potencializou consideravelmente o ressignificado do conceito em questão. Muito além dos valores didáticos, colocar em prática esse recurso educacional é algo que alcança novos horizontes e quebra barreiras no âmbito sociocultural.

Embora ponderem os cuidados relacionados aos limites das menores idades, são comuns os desfechos de pesquisas os quais enumeram os ganhos aumentados com a educação bilíngue iniciada o quanto antes. De forma mais aprofundada, abranger os aspectos social e cultural nesse quadro benéfico ajuda a entender o poder dessa transformação ainda que em caráter incipiente.

Para compreender melhor essa proposta, Laís Lobo, especialista em ensino bilíngue desde a idade infantil, ajuda a entender mais efetivamente o valor inicial desses ganhos. Vale ressaltar que, de acordo com os próprios especialistas, por exemplo Laís, a dimensão de alguns controles desenvolvidos estão longe de ser mensurados somente na etapa inicial do processo, uma vez que a fase adulta passa a ser a principal beneficiada em alguns aspectos.

Segundo Lais, “acelerar alguns métodos enquanto o indivíduo é ainda criança pode levar ao aumento de algumas capacidades exigidas tão somente na fase adulta, conforme já é esperado. Expandir visões, significados o quanto antes, também no campo social e também no campo cultural, ajuda o indivíduo ampliar a lista de valores, e melhorá-los, desde pequeno.”

O cenário

O Brasil possui cerca de 1.200 instituições voltadas ao ensino bilíngue, conforme dados da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi). Os dados foram extraídos do ano de 2023. Um recorte anterior, de 2014 a 2019, havia apontado um crescimento de cerca de 10%, em um cenário praticamente desconhecido da realidade da grande maioria, ainda que quando inserida no ensino particular.

A busca por avanços também recebeu certa contribuição vinda do poder público, mesmo que de forma tímida até então. Se isso não se aplica diretamente ao ensino oferecido, a afirmação pode ser feita se considerado o novo olhar vindo do campo legislativo. Novas leis encaminharam o acesso a usuários da linguagem nacional de sinais (a Libras).

“Falar em aprender cultura, falar em aprender sobre um contexto social, seus benefícios e suas lutas, está plenamente relacionado a aprender sobre idioma, aprender sobre línguas. É algo praticamente impossível de desassociar.”

Por mais complexos que os fins pareçam, os objetivos da proposta passam pelo mesmo processo de comunicação inerente a outros tipos de aprendizado, apesar de vistos como mais simples. É a chamada abertura da porta de entrada para as informações, as quais são processadas para melhor uso da chamada porta de saída cognitiva, assim conhecida por alguns profissionais da área pedagógica, como é o caso de Laís Lobo.  

“Claro também, assim como ocorre com qualquer processo de aprendizado, a evolução é ainda mais gradativa quando o resultado final depende de caminhos um pouco mais complexo, mais desafiadores. Mas é um ganho que vale a pena. Os horizontes ampliados posteriormente são muito mais significativos do que as ponderações, que precisam ser levadas em conta, de fato”.

Contudo, antes de ampliar janelas e acumular potencial para abastecer a porta de saída, o processo de aprendizado liderado por especialistas da área de Laís Lobo precisa contar com o apoio e incentivo vindo da família. Aliás, reforçar e aperfeiçoar valores socioculturais é algo que começa desde o núcleo central de convivência. Logo, as circunstâncias não estão apenas ligadas a métodos e ao período de aplicação.

“A cultura de um povo, de uma nação, é tipificada por meio da linguagem, seja verbal ou não. Ambas têm sua relevância. A forma como esse mesmo povo venha a lidar com suas questões de ordem social também tem vínculo ainda mais direto com a sua expressão, com sua linguagem. A linguagem pode ser apenas um dos sentidos que conduzem isso, porém é um elemento determinante”.

A trajetória da especialista

Envolvida com o ensino há quase 20 anos, período em que se formou na área da pedagogia, Laís Lobo Ruz Tesolin é de São Paulo, e mora em Riverton, Utah, nos Estados Unidos. Nessas duas décadas, as primeiras experiências acadêmicas já abrangiam os cursos de português e inglês. Nos Estados Unidos, segue colaborando com a área educacional. Em Riverton, os trabalhos tem como foco expandir o impacto dessa bagagem acumulada no ensino e na aprendizagem. No Brasil, trabalhos semelhantes foram colocados em prática também por meio do voluntariado.

“Desenvolver uma identidade cultural é algo que aumenta a empatia, habilidades, comunicação, traz vantagens sociais e emocionais. Mas é um trabalho que exige esforço, exige continuidade e tem uma face multidisciplinar, a qual abrange a escola, como também outras convivências para trazer a consistência buscada.”

Por trabalhar com crianças, Laís Lobo destaca estratégias eficazes no aprendizado de duas línguas simultâneas. O uso de jogos, atividades lúdicas, músicas, histórias e rimas compõem a lista de recursos já ministrados pela especialista.

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