Responsável pelas imagens, o biólogo e fotógrafo da natureza Renato Martins revela que o desejo de demonstrar a escala da espécie com uma pitanga começou há muitos anos
Mayumi Kitamura
Publicado em 26/03/2025, às 15h22
Pensar ‘fora da caixa’ é fugir dos padrões e mostrar uma nova visão ao mundo. O biólogo e fotógrafo Renato Martins fez isso ao idealizar e colocar em prática um ‘ensaio’ fotográfico de demonstração de escala com um exemplar da espécie de anfíbio conhecida como sapo-pitanga (Brachycephalus pitanga), junto com a pequena fruta que inspira seu nome, a pitanga, que mede entre 2 e 3 centímetros de diâmetro.
“Quando a gente pensa em escala, na fotografia de anfíbio, no geral, as pessoas costumam usar moeda, pilha, até régua, paquímetro para demonstrar o quão pequena é uma espécie. Sabendo que a pitanga é uma fruta tão brasileira, tão tropical e, justamente, dá o nome à espécie, que é o Brachycephalus pitanga, a ideia era trazer duas coisas ao mesmo tempo. Também seria uma escala familiar para as pessoas que, assim que olhassem, pensassem na pitanga e percebessem o quão pequeno é”, detalha o biólogo.
Renato Martins explica que trabalha com a espécie desde 2011 na Serra do Mar - onde analisa anfíbios pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Endêmico da Mata Atlântica e, em especial, em áreas de montanha, o sapo-pitanga do ‘ensaio’ especial foi registrado em Ubatuba, onde ocorre com maior incidência, em janeiro deste ano.
O doutorando em biologia comentou também que preferiu não levar um exemplar para laboratório para produzir a imagem, mas fazer o registro no próprio habitat, com o mínimo de interferência. Para isso, ele colocou a fruta próxima do animal, que se encarregou das poses inusitadas.
Apesar da cara mal-humorada do sapinho, as imagens se tornaram curiosamente divertidas, e dão a impressão de que ele aponta para a fruta na tentativa de indicar seu próprio nome: pitanga. Esse é o resultado da paixão de Renato pelos anfíbios, como tentou definir, já que, diferente dos mamíferos, os anfíbios não têm expressão e, para a fotografia selvagem, “tem que tentar trazer um sentimento para a imagem de alguma outra forma. Essa talvez seja uma das coisas legais proporcionadas pelos anfíbios, tentar colocar mais sentimento na imagem como um todo”.
O tamanho diminuto, de 11 milímetros nos machos e 13 milímetros nas fêmeas, não é a única peculiaridade da espécie. Renato Martins explica que o sapinho é desajeitado, caminha lentamente e não pula bem; além disso, não possui fase larval aquática, como a maioria dos sapos, o girino se desenvolve em ovo e, quando sai, já está formado como uma ‘miniatura’ do adulto - denominado desenvolvimento direto.
“Então ele precisa de muita umidade, mesmo que não seja dentro da água; o ambiente tem que ser muito úmido para desenvolver o ovo [...] e isso tem a ver também, diretamente, com o ambiente em que ele vive, de montanha. É uma espécie que vai de 800 a 1.300 metros de altitude, abaixo disso não ocorre porque essa elevação tem mais umidade”, explica.
Outra curiosidade é que os sapos costumam ‘cantar’ para o acasalamento mas, entre os sapos-pitanga, apesar de os machos cantarem a ponto de ouvirmos, a espécie é surda, por isso, há outras hipóteses sobre como eles chamam a atenção das fêmeas. “Ele tem outras comunicações visuais: o macho abre a boca, passa a mão na frente do rosto e, o que a gente acredita, é que ele usa esses estímulos visuais para atrair a fêmea”, detalha. Sobre o canto, é possível também que a fêmea sinta a vibração do som e seja atraída.
Além disso, se você sabe que animais de cores vibrantes costumam ser venenosos, deve deduzir que é o mesmo caso com essa espécie. No entanto, Renato esclarece que, no caso dos sapo-pitanga, não existe problema se o tocarmos, só se ingerirmos.
A coloração de pitanga que chama a atenção não é a única que pode ser vista na espécie. Em março de 2019, foi descoberto que ela apresenta fluorescência, ou seja, ele brilha com a utilização de luz ultravioleta. Essa mesma característica foi encontrada em outros exemplares de anfíbios endêmicos da Mata Atlântica.
Mayumi Kitamura
Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá), atua na área da comunicação há mais de 20 anos. Também possui formação técnica em Processamento de Dados e, atualmente, é estudante de Engenharia de Software pela Universidade Estácio.