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Raias mortas em praia do litoral de SP estão na lista vermelha de risco de extinção

Mais de 130 raias ticonha mortas foram encontradas na praia do Itararé, em São Vicente; coordenadora do projeto Mantas do Brasil explicou o caso

Esther Zancan
Publicado em 26/02/2025, às 11h03

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Morte das raias está sendo apurada, para identificação dos responsáveis - Reprodução/Redes Sociais
Morte das raias está sendo apurada, para identificação dos responsáveis - Reprodução/Redes Sociais

O caso das mais de 130 raias encontradas mortas na praia do Itararé, em São Vicente, litoral de São Paulo, na terça-feira (25), teve repercussão nacional. As raias eram da espécie ticonha (Rhinoptera brasiliensis), que consta da lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). O Instituto Gremar, responsável pelo monitoramento das praias e proteção do ambiente marinho entre São Vicente e Bertioga, foi acionado, mas como a raia não se trata de fauna-alvo do projeto, a apuração está a cargo do Instituto Mantas do Brasil e da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

O Costa Norte conversou com Paula Romano, coordenadora do Mantas do Brasil. Paula explicou que, apesar de o foco do instituto serem as móbulas, ou raias-manta, animais de grande porte, não havia como não se envolver com esse caso das raias ticonha, uma espécie cujos indivíduos não ultrapassam 1 metro, mas que se concentram em enormes cardumes. 

Paula confessou sua perplexidade com o ocorrido. Foram 132 raias recolhidas ao longo da praia do Itararé, mas ela acredita que o número de raias mortas pode ser maior. O instituto está ao lado dos pescadores da região, na apuração dos culpados. A coordenadora explicou que a morte das raias ocorreu devido a um caso isolado de pesca de arrasto de praia. Nesta modalidade de pesca, os barcos soltam as redes um pouco mais afastadas da praia, mas com boias. A partir deste ponto, os pescadores trazem a rede até uma profundidade na qual seja possível puxá-la até a areia. Em uma operação assim, normalmente, participam mais de 20 homens. 

Esse tipo de pesca visa espécies como tainha, peixe-espada e robalo, e o produto da pescaria, geralmente, é para consumo próprio ou para distribuição entre a comunidade. Quando raias caem na rede, a atitude padrão dos pescadores é tomar muito cuidado para retirá-las da rede e devolvê-las ao mar ainda com vida, o que torna esse caso de São Vicente ainda mais intrigante.

“Eles simplesmente puxaram a rede e não tiveram a capacidade de devolvê-las ao mar. Chocante, um descaso sem tamanho”, lamentou Paula. Ela explicou, ainda, que os próprios pescadores da modalidade, com o apoio do Mantas do Brasil, estão atrás deste único pescador, que cometeu essa "barbaridade". 

Paula explica que a atuação padrão dos pescadores em casos como este, é soltar as raias antes da chegada da rede à praia. Mas, neste caso atípico, o pescador não tomou este cuidado. Ela acredita que, no caso da praia do Itararé, os pescadores envolvidos deixaram as carcaças das raias no mar, talvez muito próximo à areia, por isso chegaram à praia. A coordenadora acredita que as raias vieram puxadas pela rede, ficaram agonizando fora da água e depois foram levadas de volta ao mar. Mas frisa que só os responsáveis é que poderão contar o que de fato ocorreu, daí a importância de logo identificá-los. 

Raia ticonha

Raia ticonha
Raia ticonha não ultrapassa 1 metro e vive em grandes cardumes - Reprodução/Universidade Federal do Paraná

Paula contou que a raia ticonha é uma espécie endêmica (que ocorre exclusivamente em uma determinada região geográfica) do Atlântico sul, principalmente no Brasil. Não à toa, seu nome científico - Rhinoptera brasiliensis - faz menção ao Brasil. A espécie costuma viver em grandes cardumes, com mais de 1.000 indivíduos, e se aproximam muito das praias, pois preferem áreas estuarinas (regiões onde os rios encontram o mar). A raia ticonha não tem valor comercial. Os principais motivos de a raia ticonha constar da lista vermelha de risco de extinção da IUCN são a pesca excessiva, a captura acidental por redes e espinhéis e o baixo potencial reprodutivo da espécie. 

As raias encontradas mortas na praia do Itararé foram recolhidas da faixa de areia pela prefeitura de São Vicente e tiveram a destinação correta. Algumas carcaças foram enviadas à Unesp para análises. A Secretaria de Meio Ambiente (Semam) vicentina ressaltou que já iniciou o monitoramento do caso, por meio de processo de investigação e apuração das possíveis causas e justificativas.

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Esther Zancan

Esther Zancan

Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.

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