Parceria entre instituições permitirá que luzes, na forma de lasers pulsados, possam ser utilizadas para obter dados de distância com alta precisão
Pesquisadores dos institutos de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e de Geociências (IGc), da Universidade de São Paulo (USP), identificaram mil pontos de escorregamento de solo em São Sebastião, com base em um inventário com imagens aéreas.
Essas imagens foram feitas logo após a tragédia causada pelas fortes chuvas, em fevereiro de 2023, que provocou a morte de 64 pessoas. O trabalho foi publicado na revista científica Brazilian Journal of Geology e está disponível também no site Zenodo, um repositório de publicações e informações de acesso aberto, criado para compartilhamento de dados e software.
Antes, as áreas naturais e não habitadas só conseguiam ser mapeadas após ocorrências de escorregamentos. Agora, esse trabalho pode ser feito com o uso de uma tecnologia chamada Light Detection and Ranging (Lidar).
Ela consiste na utilização de luzes, na forma de laseres pulsados, para a obtenção de dados de distância com alta precisão, por meio de aviões e helicópteros com sensor laser acoplado. A ferramenta é uma parceria com o Instituto Geográfico e Cartográfico de São Paulo (IGC-SP) e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O coordenador do projeto, Carlos Henrique Grohmann, disse que, até hoje, só existiam dados que mostram como é o relevo, com menos detalhes. "Agora, com esse laser, a gente vai conseguir fazer e ver a topografia com pixel na casa de um metro. Quer dizer que ela vai ficar mais precisa, vai melhorar muito o nível de detalhe de como vemos a superfície e o relevo”, disse Carlos para a Agência Brasil.
O professor e coordenador também declarou que esse modelo de análise pode ser replicado em outras áreas da Serra do Mar. "Como a região é muito parecida em termos da própria morfologia, o tipo de morro, a chuva, a vegetação, então será possível expandir esse modelo para outras áreas da Serra do Mar”, contou o profissional.
Carlos disse que a maior parte dos mil pontos de escorregamento de solo não estão localizadas em áreas urbanas, mas que, apesar disso, são importantes de serem identificados para a orientação de políticas públicas na região. “As áreas urbanas já estão mapeadas como áreas de risco. Agora, as áreas naturais, as áreas não habitadas, onde será que pode escorregar? Essa é uma análise que a gente chama de suscetibilidade a escorregamento”, explica o professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.