Estudo revela que espécie de coral em Alcatrazes captura carbono equivalente à queima de 324 mil litros de combustível por ano
No fundo do mar, no litoral sul de São Paulo, um coral pode estar ajudando a combater o aquecimento global. De acordo com pesquisa publicada na Marine Environmental Research e divulgada por André Julião, na Agência Fapesp, uma única espécie presente no arquipélago de Alcatrazes é capaz de capturar anualmente o equivalente ao carbono emitido pela queima de 324 mil litros de gasolina.
O estudo foi conduzido por cientistas do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), com apoio da Fapesp, e analisou colônias do coral-cérebro (Mussismilia hispida), espécie abundante na ilha principal do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Alcatrazes. Utilizando tomografias computadorizadas, os pesquisadores estimaram uma produção anual de 170 toneladas de carbonato de cálcio, substância que armazena cerca de 20 toneladas de carbono por ano em forma mineralizada.
Queríamos entender o crescimento do coral, mas fazer cortes no esqueleto não era viável. Com as tomografias, conseguimos visualizar as bandas de crescimento e calcular a taxa de acúmulo de carbono ao longo dos anos”, explicou Luiz de Souza Oliveira, autor do estudo, desenvolvido em seu mestrado na Unifesp.
Outro dado impressionante é que os corais subtropicais de Alcatrazes, mesmo fora das áreas tropicais ideais, apresentaram taxas de crescimento comparáveis às de regiões como Abrolhos e Fernando de Noronha. Isso chamou a atenção da equipe liderada pelo professor Guilherme Henrique Pereira Filho, coordenador do LABECMar (Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha), que supervisionou a pesquisa e ressaltou o potencial desse serviço ecossistêmico: armazenar carbono por séculos ou milênios.
Além dos corais, o estudo aponta que os sedimentos marinhos na região, formados por restos de conchas, esqueletos e outros organismos, também acumulam carbonato de cálcio, ampliando ainda mais o papel de Alcatrazes como possível sumidouro de carbono.
Com base no levantamento de Mônica Andrade da Silva, coautora da pesquisa, foi possível mapear a área total ocupada pela espécie. Os dados apontam que o arquipélago de Alcatrazes pode contribuir de forma silenciosa, mas efetiva, para reduzir os impactos das mudanças climáticas.
A sociedade costuma valorizar áreas como Alcatrazes por protegerem a pesca. Mas o sequestro de carbono é outro serviço ambiental essencial que esses ambientes oferecem”, conclui Pereira Filho.
A pesquisa integra o projeto Mar de Alcatrazes, uma colaboração entre Unifesp, Petrobras e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A matéria completa de André Julião está disponível na Agência Fapesp.
O estudo original pode ser acessado em ScienceDirect – Marine Environmental Research.