ALERTA NO LITORAL

Mortes de peixe ‘gigante dos mares’ mobilizam monitoramento e ciência cidadã

APA Marinha Litoral Centro convoca a todos para levantamento de informações sobre novos casos de mortes do peixe mero no litoral de SP

Mayumi Kitamura
Publicado em 28/11/2024, às 14h29

FacebookTwitterWhatsApp
Mesmo com a diminuição da mortandade, ação visa analisar os casos na região - Foto: Áthila Bertoncini / Projeto Meros do Brasil
Mesmo com a diminuição da mortandade, ação visa analisar os casos na região - Foto: Áthila Bertoncini / Projeto Meros do Brasil

Desde o início de outubro, o Portal Costa Norte tem noticiado a incidência de mortes de peixe mero (Epinephelus itajara), conhecido como ‘gigante dos mares’, no litoral de São Paulo, especificamente em áreas da Baixada Santista e do Vale do Ribeira. Diversas imagens que circularam nas redes sociais e grupos de WhatsApp registraram exemplares da espécie, ameaçada de extinção, boiando no mar ou em margens de rio e praias.

Por sua pesca ser legalmente proibida, o surgimento misterioso em cidades como Guarujá, Santos, São Vicente e Iguape chamou a atenção de ambientalistas e pescadores. Algumas hipóteses chegaram a ser levantadas para as causas da mortalidade, como o fenômeno da ressurgência, em que águas profundas e frias sobem para a camada superficial do oceano. Ocorre que, quando a temperatura da água permanece em níveis abaixo de 15ºC,  torna-se um ambiente fatal para os meros. Outras possibilidades podem ser conferidas na matéria com entrevistas de especialistas.

Apesar da diminuição de publicações de encontro de peixes da espécie mortos, na região, a gestão da segunda maior unidade de conservação marinha do Brasil, a Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha Litoral Centro, que abrange oito dos nove municípios da Baixada Santista, publicou uma iniciativa que incentiva a prática da ciência cidadã. 

Quem encontrar um mero morto, pode colaborar com a análise dos dados, enviando informações sobre o espécime e local, conforme explicou a gestora da APA, Maria Tereza Lanza. “A ideia é não só ter coletado os dados no período crítico de mortalidade dessa espécie, mas acompanhar em longo prazo para ver se conseguimos ter uma resposta mais efetiva, e entender  por que aconteceu e se existe alguma ação, alguma medida de gestão, que podemos adotar para evitar que episódios como esse voltem. Por isso vai ser a longo prazo”, comentou.

Ciência cidadã

Para colaborar com a análise dos casos, qualquer pessoa que se deparar com um mero pode enviar as informações para o e-mail [email protected]. Podem colaborar com a coleta de dados: o registro fotográfico, se possível com imagem do órgão reprodutor do animal; a data e hora do avistamento; a localização com ponto de referência ou, se souber, coordenadas geográficas; o tamanho estimado do animal e o estado de decomposição. 

A especificação da APA Marinha Litoral Centro sobre o estado de decomposição é a seguinte: fresco (pele brilhante, odor suave e carne firme); decomposição inicial (leve odor com início de deterioração da textura); decomposição moderada (odor forte, textura viscosa, alteração de cor e sinais visíveis de deterioração); decomposição avançada (odor muito forte, carne mole e presença de insetos) e decomposição total (odor intenso, presença de larvas e aparência altamente comprometida).

Com base nesses dados, explicou Maria Lanza, é possível verificar algumas evidências e alinhar a outras informações. Por exemplo, caso ocorra incidência em local próximo, pode se tratar de um mesmo exemplar, conforme as características. Além disso, pela indicação do tempo de morte, a partir do estado de decomposição, será possível analisar outros dados e verificar se houve incidência relacionada a mudanças climáticas, da espécie ou algum outro elemento perturbador no ambiente.

Peixe mero

peixe mero
Foto: Áthila Bertoncini / Projeto Meros do Brasil

Conforme publicação da Fundação Florestal, instituição ligada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística e gestora da APA Marinha Litoral Centro, o peixe mero - conhecido também como canapú, bodete, badejão, merete e merote - chega a pesar entre 250kg a 400kg e medir até três metros. Por suas características, é uma das espécies mais susceptíveis à captura, que é proibida, assim como o transporte, a descaracterização, a comercialização, o beneficiamento e a industrialização desta espécie ameaçada de extinção, de acordo com a Portaria MMA N° 445/ 2014.

Mesmo que encontrados mortos, o recolhimento é proibido e, caso sejam capturados de forma incidental, devem ser devolvidos inteiros ao mar, com ou sem vida, no momento do recolhimento do aparelho de pesca, seguido de registro nos Mapas de Bordo (INI Nº 26/ 2005). Conforme apontado pela Fundação Florestal, a captura só será permitida para fins de pesquisa científica, contanto que devidamente autorizada pelo órgão ambiental competente.

Os infratores estão sujeitos à detenção de um a três anos, multa, ou ambas as penas cumulativas (Lei Nº 9.605 de 12/02/98 e Decreto Nº 6.514 de 22/07/08). Ela esclareceu que as embarcações, pescadores profissionais ou amadores, e indústrias de pesca que atuarem em desacordo, terão cancelados seus cadastros, autorizações, inscrições, licenças, permissões ou registros da atividade pesqueira.

Mayumi Kitamura

Mayumi Kitamura

Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá) e técnica em Processamento de Dados. Atua na área de comunicação há mais de 20 anos. Integra a equipe de mídias sociais do portal Costa Norte.

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!