FOMENTO AO TURISMO

Após décadas de discussões, construção de aeroporto no litoral norte continua no papel

Litoral norte está no radar do governo, que planeja anunciar três aeroportos no estado até novembro; porém, até o momento, não há projeto confirmado

Reginaldo Pupo
Publicado em 27/06/2024, às 18h54 - Atualizado às 19h20

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Vista  da área na qual estava planejada a construção do aeroporto internacional do litoral norte, em Caraguatatuba - Reprodução/Google
Vista da área na qual estava planejada a construção do aeroporto internacional do litoral norte, em Caraguatatuba - Reprodução/Google

Um dos mais esperados empreendimentos do litoral norte, a construção de um aeroporto regional, continua no papel. O novo modal é um sonho que o trade turístico aguarda há décadas para se tornar realidade. Empresários do setor e as prefeituras de Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba veem, no aeroporto, mais um mecanismo para alavancar o turismo e atrair visitantes de vários estados e, principalmente, de outros países.

Embora a região seja detentora de algumas das mais belas praias do litoral brasileiro e de um extenso trecho de Mata Atlântica ainda intocável, não é contemplada com um aeroporto de grande porte. Apenas Ubatuba possui um aeródromo para aeronaves pequenas, usado, na maioria das vezes, por particulares. Os atrativos da região também não são ofertados por grandes agências de turismo, como a CVC.

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A notícia mais recente sobre a construção do aeroporto data de 2012. À época, após décadas de discussões e várias tentativas em vão, enfim, o litoral norte teria seu aeroporto. E internacional. A estrutura, de caráter privado, seria construída em Caraguatatuba pelo Grupo Serveng, uma das maiores empreiteiras da região Sudeste, sediado em Guaratinguetá (SP).

Inclusive, à época, foi anunciado que as obras começariam em janeiro de 2013 e que a estrutura ficaria pronta em 12 meses. De acordo com o projeto, a pista teria 1.200 metros de extensão, apenas 150 metros menor que o Santos Dumont, no Rio de Janeiro; e 145 metros menor que uma das pistas do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

Segundo as características da pista projetada, o aeroporto internacional do litoral norte, como passou a ser chamado à época, poderia receber voos de aeronaves de grande porte, como as da Boing ou Air Bus, o que possibilitaria que companhias aéreas como a Latam, Gol e Azul, as três maiores do mercado aéreo, operassem na região. A entrega e o início das operações estavam previstos para junho de 2014, um mês antes da Copa.

Ainda segundo o projeto divulgado inicialmente, o aeroporto seria construído na Fazenda Serramar, que pertence ao Grupo Serveng, detentor do maior shopping da região, no mesmo local, o que não ocorreu.

Aeroporto de São José dos Campos

O aeroporto mais próximo do litoral norte fica em São José dos Campos, a cerca de 90km de Caraguatatuba. Mas é pouco utilizado e operado apenas pela Gol, que o conecta, por meio de escala, ao aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, em três voos semanais de ida e volta, às quartas-feiras, sextas-feiras e domingo. Mas essa malha viária, inaugurada há apenas três meses, atende apenas ao turismo de negócios dos dois destinos.

Antes, o aeroporto joseense estava ainda mais ocioso, mesmo após investimentos de mais de R$ 16 milhões em obras de modernização, bancadas pelo governo estadual. Em 2014, após quatro anos de operação, a Azul Linhas Aéreas, que mantinha duas conexões diárias para Belo Horizonte e Rio de Janeiro, anunciou o encerramento de suas operações no local.

A saída da companhia ocorreu justamente no ano em que as obras de modernização foram entregues, que ampliaram sua capacidade para 500 mil passageiros por ano, tornando-se cinco vezes maior. A saída foi movimentar o aeroporto com aviões de carga. O motivo da saída, segundo a Azul anunciou, à época, foi justamente o baixo movimento de passageiros, o que tornava a operação economicamente inviável.

Com a inauguração da nova rota da Gol, em março deste ano, o trade turístico do litoral norte voltou a se animar, com a expectativa de que a conexão entre os aeroportos de São José dos Campos e Tom Jobim possa atrair turistas de, ao menos 12 estados, que se conectam ao aeroporto carioca. Mas, na prática, isso ainda não foi percebido pelos hotéis, restaurantes e atrativos particulares.

Por enquanto, a esmagadora maioria dos turistas continua chegando ao litoral norte por meio rodoviário, com exceção de Ilhabela, que também recebe visitantes de navios de cruzeiro durante a temporada de verão.

Eia/Rima

A construção (ou não) do aeroporto do litoral norte é cercada de mistérios. Nem a iniciativa privada e nem o governo do estado se pronunciam oficialmente a respeito. Em 2012, foi anunciado que o Grupo Serveng aguardava apenas a liberação dos licenciamentos ambientais para iniciar as obras. Procurada por diversas semanas para comentar o assunto, a Serveng não atendeu aos questionamentos da reportagem.

Em nota, a prefeitura de Caraguatatuba, cidade escolhida para receber o aeroporto, informou que “até o momento, não há registro de entrada de processo referente à construção de um aeroporto no município durante a atual gestão”. Já a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado de São Paulo não confirmou, mas também não negou, a existência do trâmite de um Eia/Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) sobre o aeroporto do litoral norte.

Na última segunda-feira (24), a pasta havia indicado à reportagem que informações neste sentido seriam divulgadas nesta próxima sexta-feira (29). Mas, na quinta-feira (28), após ser procurada novamente, a assessoria voltou atrás e informou que “não há novidades”. Questionada mais uma vez sobre a existência ou não de uma Eia/Rima em tramitação, a secretaria, desta vez, disse que tal estudo “não existe”.

Litoral norte no radar

O litoral norte, no entanto, parece continuar no radar do governo estadual. Durante a inauguração da nova rota da Gol Linhas Aéreas, no aeroporto regional de São José dos Campos, em março deste ano, o secretário de Turismo e Viagens do estado de São Paulo, Roberto de Lucena, disse que mais três aeroportos seriam anunciados até novembro deste ano.

De acordo com Lucena, estão planejadas estruturas para o Vale do Paraíba, região das serras e litoral norte, sem, no entanto, especificar quais cidades receberiam esses novos aeroportos. Também não informou se as obras seriam de responsabilidade do estado ou da iniciativa privada. Entre outras metas do estado, estariam o acréscimo de 840 frequências aéreas semanais até dezembro deste ano, para além das 4,2 mil aferidas em julho de 2019.

Outro indício de que o aeroporto possa de fato ser concretizado é a construção de um hotel de grande porte, de bandeira internacional, que será erguido no Serramar Shopping,  também pertencente ao Grupo Serveng. O centro de compras fica  próximo da Fazenda Serramar, do conglomerado, justamente onde estaria projetada a construção do aeroporto.

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