ATENÇÃO!

Você sabia que coletar conchas na praia pode colocar a vida marinha em risco?

Biólogo marinho explica os efeitos no ecossistema causados pelo ato, aparentemente inofensivo, que algumas pessoas praticam ao viajar para o litoral

Mayumi Kitamura
Publicado em 23/11/2023, às 11h45

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Conchas vazias podem servir de proteção até para polvos - Reprodução/PxHere
Conchas vazias podem servir de proteção até para polvos - Reprodução/PxHere

O calor pede praia e promete muitas recordações, levando algumas pessoas a considerarem levar conchas como “souvenir” para casa, mas o ato, aparentemente inofensivo, pode causar grandes impactos no ecossistema marinho, principalmente, a longo prazo. Então, para não se render ao impulso, conheça os efeitos no meio ambiente.

Primeiro, é preciso entender o que são as conchas e o que representam. O biólogo marinho Luís Felipe Natálio explica que elas são parte dos corpos de organismos pertencentes ao grupo dos moluscos, como ostras e mariscos, e têm a função de sustentação e proteção. 

A partir da morte destes animais, quando seguem seu curso natural, as conchas encontram dois possíveis destinos: servir de proteção para outros animais que não desenvolvem esta estrutura, como ermitões e até polvos, ou passar a compor o próprio ambiente em que estão inseridas. Nesta última, a decomposição das conchas libera no mar componentes químicos como o cálcio que, posteriormente, passa a ser utilizado por outros seres na formação de suas conchas ou até recifes de corais - organismos cuja existência está ameaçada pelas mudanças climáticas. 

“Levar as conchas do mar significa reduzir a disponibilidade para animais que usam essas conchas vazias para abrigo e proteção, além de representar um fluxo de retirada de um potencial cálcio disponível na água do mar para que outros animais possam construir suas estruturas. Locais onde a retirada de conchas pelas pessoas é intensa, causando praticamente a inexistência de conchas na praia podem, eventualmente, prejudicar animais que demandam de cálcio diluído na água”, detalha o biólogo.

Quando interrompemos este ciclo natural, é que colocamos em risco o ecossistema marinho. “Em alguma instância, todo o oceano pode ser afetado. Pensando em efeitos mais diretos, eu acredito que praias, recifes de coral e costões rochosos”, comenta Luís Felipe.

E se resgatarmos conchas?

Em armarinhos ou lojas de artesanato à beira mar é comum encontrar ítens ou até mesmo saquinhos com conchas à venda. Você pode até se inspirar e pensar em comprar para devolver ao mar, mas essa atitude requer cuidado. 

“Teoricamente não teria problema nenhum, mas têm dois pontos muito importantes. O primeiro é que estas conchas podem estar envernizadas, então as pessoas podem acabar jogando uma substância nociva ao ambiente no mar. Conchas não costumam ficar tão brilhantes, são mais opacas. A segunda é que, apesar de ser muito difícil, tem que ficar atento se as conchas são de outra região para não ter o risco de ter um ovinho, pedaço de algum animal marinho para que, ao devolver ao mar, não cause uma bioinvasão”, detalha o biólogo.

Boas práticas na praia

Agora, ciente da questão das conchas, saiba mais algumas boas práticas na praia conforme orientações do próprio Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. 

  • Além das conchas e corais, não colete estrelas do mar e outras carapaças ao visitar praias. Elas servem de abrigo ou substrato para outros organismos;
  • Alimentar peixes com sobras, ração ou pão pode prejudicar a saúde deles e dos corais, então, não faça;
  • Não compre ou comercialize artesanato com corais. Isso é ilegal, proibido pela Lei de Crimes Ambientais (Art.33 da Lei nº 9605/98) e estimula a depreciação dos recifes;
  • Nunca jogue lixo no mar, pois isso prejudica a fauna marinha;
  • A captura excessiva de animais da praia, como ermitão ou corrupto, coloca em risco a existência deles. Não os use como isca de pesca.
Mayumi Kitamura

Mayumi Kitamura

Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá) e técnica em Processamento de Dados. Atua na área de comunicação há mais de 20 anos.

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