CRISE DO CACAU

USP desenvolve substituto sustentável do cacau e propõe novo caminho ao chocolate

Fórmula criada a partir de resíduos agroindustriais busca reduzir impacto da crise global do cacau e mantém sabor, cor e textura do chocolate tradicional

Redação
Publicado em 02/05/2025, às 09h52

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Pesquisadores da USP criam fórmula em pó com compostos bioativos para substituir o cacau - Eleni Nogueira / CN
Pesquisadores da USP criam fórmula em pó com compostos bioativos para substituir o cacau - Eleni Nogueira / CN

Diante da crise global da produção de cacau, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma alternativa que pode transformar a indústria do chocolate. A fórmula, registrada sob o nome Composição Alimentícia de Chocolate com Reaproveitamento de Resíduos Agroindustriais, substitui o cacau em pó e o licor de cacau tradicionais por uma composição rica em nutrientes e com alta capacidade antioxidante.

O desenvolvimento é liderado pela professora Suzana Lannes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Segundo ela, a fórmula utiliza subprodutos agroindustriais que seriam descartados, como resíduos do malte da indústria cervejeira, para criar um pó com compostos bioativos. “A composição tem compostos bioativos, fenólicos, flavonoides, fibras, lipídios nutricionais, proteínas e carboidratos, além de ter alta capacidade antioxidante”, afirma Suzana.

Mais que substituição: valor nutricional e sustentabilidade

Embora existam no mercado produtos conhecidos como Cocoa Extenders, a tecnologia desenvolvida pela USP se diferencia por agregar valor nutricional e promover maior sustentabilidade. A proposta é voltada para a indústria alimentícia e chocolateira, que busca alternativas diante da instabilidade do mercado.

Segundo Suzana, a formulação permite o desenvolvimento de produtos com características semelhantes ao chocolate tradicional. “Assim, a tecnologia prevê a formulação da mistura para substituir o cacau e também de formulação de chocolates, chocolate ao leite e sugestão para substituição em outras formulações que utilizem cacau em pó ou licor de cacau”, esclarece.

A docente também destaca que a composição apresenta textura, cor e sabor similares ao chocolate ao leite convencional, com o diferencial de possuir maior teor de fibras e nutrientes.

Crise global e aplicação imediata

A nova tecnologia surge em um momento crítico para o setor. Segundo relatório da Organização Internacional do Cacau, divulgado em novembro de 2024, a previsão para 2025 é de um dos maiores déficits de produção dos últimos 60 anos.

“Nossas expectativas nem seriam para o futuro, mas imediatas, pois estamos vivenciando um período de alto custo do cacau, gerado pela crise de oferta da matéria-prima em países africanos como Gana e Costa do Marfim”, analisa Suzana.

O projeto está atualmente na fase de protótipo e aplicação em ambiente realista. A equipe da USP acredita na adoção rápida da tecnologia pela indústria diante da urgência do cenário.

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