Escritor modernista esteve no Forte São João em 1937, quando trabalhava para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Mayumi Kitamura
Publicado em 21/02/2025, às 16h31
Um dos principais nomes do modernismo, Mário de Andrade, cuja morte completa 80 anos no dia 25 de fevereiro, é lembrado por seu legado no cenário artístico-cultural e no movimento modernista. Mas, um do atos do autor de Amar, Verbo Intransitivo, pouco conhecido, contribuiu para o restauro e preservação do Forte São João, patrimônio histórico tido como a primeira fortificação colonialista em território brasileiro, localizada em Bertioga, no litoral paulista.
No ano de 1937, quando o escritor e poeta trabalhava como pesquisador para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) - atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) -, ele visitou a estrutura, chamada de Forte São Tiago à época, e escreveu em carta: “Este forte está bastante danificado pelo tempo e ameaçando ruína. Ora, trata-se justamente de um dos mais deliciosos perfis da arquitetura militar colonial que possuímos e há que conservá-lo. Na quebra da praia, olhando o mar e as águas sombrias do rio, entestando o maciço montanhoso da ilha de Santo Amaro, o forte de São Tiago é uma expressão magnífica. No primeiro século, defendeu Santos dos Tamoios que vindos do mar, desejariam atacar a vila pelas costas. Hoje é simplesmente gracioso. As suas pedras enérgicas, a sua plataforma de vasta perspectiva, e suas vigias pueris, são duma elegância arquitetônica impecável”.
Em outro trecho, destacou também: “O Forte de S. Tiago necessita de reparos urgentes. O paredão da fachada principal sofreu uma rachadura de alto a baixo, e o peso do material que enche o bloco esforçou a fachada noroeste, que está cedendo. Já está quase vertical e a sua vigia pendendo para a terra, ameaça a ruir”. A partir daí, o Forte São João foi tombado, ou seja, oficialmente reconhecido e protegido como patrimônio brasileiro, e o restauro tão aguardado ocorreu entre 1941 e 1942.
Poucos anos depois, em 1945, o autor de “Macunaíma” e “Pauliceia Desvairada” morreu aos 51 anos, de infarto. Os restos mortais estão sepultados no cemitério da Consolação, na capital paulista, assim como dos colegas modernistas Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.
Mayumi Kitamura
Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá), atua na área da comunicação há mais de 20 anos. Também possui formação técnica em Processamento de Dados e, atualmente, é estudante de Engenharia de Software pela Universidade Estácio.