Climatologista Rodolfo Bonafim prevê que verão será de neutralidade, com chuvas dentro da média, mas com possibilidade de ciclones extratropicais
Esther Zancan
Publicado em 20/12/2024, às 11h05
A estação mais quente do ano bate à porta. O verão começa oficialmente na manhã deste sábado, 21 de dezembro, às 6h20 (horário de Brasília) e segue até 20 de março de 2025. E, para quem estava apreensivo com a possibilidade de este verão ser tão quente quanto o verão passado, pode começar a se acalmar. A tendência é que, sem a presença do fenômeno El Niño, a estação seja mais amena no litoral de São Paulo.
O Portal Costa Norte conversou com o climatologista Rodolfo Bonafim, da ONG Amigos da Água, de Santos, e do canal Geoastrodicas, do YouTube, sobre a nova estação. Bonafim lembrou que estamos em um período no qual os climatologistas brincam ser de “la nada”, já que não há El Niño e o tão aguardado e comentado La Niña está, até agora, muito fraco. “A temperatura superficial do oceano Pacífico equatorial está ligeiramente abaixo da média, o que indicaria até um sinal de La Niña, mas é tão fraco que o fenômeno deve passar despercebido. Houve um exagero sobre a possibilidade de um La Niña, mas é fato que não se concretizou”, disse o climatologista.
“O que vai prevalecer neste verão é a neutralidade. Não será um verão tão quente quanto o do ano passado, que foi regido pelo El Niño”, seguiu Bonafim. Mas ele lembra que essa condição é referente às temperaturas médias, pois há sim a possibilidade de as temperaturas alcançarem 40 graus no litoral paulista, em determinados dias, pois é algo normal para a época do ano, principalmente entre janeiro e fevereiro.
Bonafim explicou que esses episódios de calor serão picos rápidos, algo como cinco dias de calor, mas que logo vem uma frente fria que derruba um pouco as temperaturas. Os períodos de altas temperaturas não devem perdurar por duas semanas, por exemplo, como ocorreu no verão passado. Ele não descarta a possibilidade de até alguns episódios de sensação de frio, devido às mudanças climáticas.
Quanto às chuvas, o climatologista disse que elas devem ficar dentro da média no litoral paulista. Mas, ele lembra que, em se tratando de litoral de São Paulo, isso quer dizer que não é pouca chuva, pois as precipitações são algo normal para o verão na região. Podem ocorrer casos pontuais de transtornos devido às chuvas, mas a meteorologia não vê uma tendência para grandes desastres naturais. Há chances de ocorrer episódios de chuvas persistentes, de 4 a 5 dias, aquela chuva fraca, mas que acumula e encharca o solo.
Por outro lado, podem ocorrer ciclones. “Poderá haver a incursão de ciclones extratropicais mesmo no verão, pois está tudo muito louco”, disse Bonafim. Um exemplo disso foi o ciclone Biguá, que se formou no litoral do Rio Grande do Sul na semana passada, devido às águas do oceano Atlântico estarem muito quentes no litoral gaúcho, algo esperado mais entre janeiro e fevereiro. Biguá não avançou para o litoral paulista, mas provocou o calor do fim de semana passado, já que o centro de baixa pressão atraiu vento quente da Amazônia.
Com relação a esse episódio de calor, o climatologista disse que ele foi quase um calor “artificial”, pois foi provocado por um fenômeno anômalo (ciclone Biguá), que trouxe o calor do Norte do Brasil para cá. Em condições normais, o calor seria mais brando.
Ainda sobre as mudanças climáticas, Bonafim também comentou que houve quem dissesse que o aquecimento global fará que o litoral de São Paulo fique cada vez mais quente, mas ele crê em um “pé no freio” no calor, pelo menos na Baixada Santista. “O calor da Baixada Santista está sendo refreado pelas mudanças climáticas. O litoral de São Paulo está tendo muita incursão do clima marinho, aquele clima mais ameno, com névoa”. Ele pontuou que também há a possibilidade de episódios de névoa durante o verão, algo raro neste período do ano.
Outro ponto que merece atenção, no próximo verão, devido à possibilidade de ciclones, é o de que podem ocorrer dias de ventanias pontuais durante a estação.
O verão que começa neste sábado, em todo o hemisfério sul do planeta, é o chamado verão astronômico, que se refere a uma posição aparente do Sol na esfera celeste, explicou Bonafim. Nesta época do ano, o Sol nasce mais a sudeste, e isso favorece que os raios solares cheguem menos inclinados ao hemisfério sul. A prova disso é que neste dia 21 de dezembro, o Sol estará a pino, ou seja, ao meio-dia, no Trópico de Capricórnio (que passa nas proximidades da Grande São Paulo, em direção ao interior), o Sol não irá projetar sombra nenhuma.
O início da estação também marca o solstício de verão, que será a data do ano com o dia de maior duração (maior período de insolação) e a noite mais curta. No dia 20 de março, quando entrar o outono, ocorre o chamado equinócio de outono, que é quando o Sol estará sobre a linha do Equador e iluminará os dois hemisférios terrestres com a mesma intensidade. Nesse dia, a duração do dia e da noite será a mesma.
Esther Zancan
Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.