TEMPO MALUCO

“Primavera histérica” tem assustado litoral de SP e outras regiões do país

Onda de calor, tempestades, tornados… Climatologista Rodolfo Bonafim explica um pouco os eventos do clima que vêm marcando a primavera 2023

Esther Zancan
Publicado em 16/11/2023, às 14h34

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Temperatura em Santos chegou a 40,3 graus nesta quinta-feira (16), com sensação de 49 graus - Reprodução/Agência Brasil
Temperatura em Santos chegou a 40,3 graus nesta quinta-feira (16), com sensação de 49 graus - Reprodução/Agência Brasil

Faltando mais de um mês para o fim da primavera 2023, a estação que para muitos tem uma aura de “good vibes”, por ser simbolizada pelas flores e pelo renascimento, este ano tem mostrado sua face mais "perversa". 

No mês de outubro o sol só deu as caras de fato no litoral de São Paulo por pouquíssimos dias. A chuvinha insistente parecia que não ia ter fim. No início de novembro, um temporal fortíssimo atingiu a Baixada Santista e a Região metropolitana de São Paulo, provocando diversos estragos e um verdadeiro colapso no sistema de distribuição de energia na capital paulista. Nesta semana, uma onda de calor que castiga diversos estados brasileiros, pegou o estado de São Paulo em cheio. Nesta quinta-feira (16) em Santos, por exemplo, a temperatura alcançou os 40,3 graus, com sensação térmica em alguns momentos de 49 graus, segundo a ONG Amigos da Água. Como dizem nas redes sociais, é a própria “queimavera”.

Imagem de satélite de tempesatde que atingiu a Baixada Santista
Imagem de satélite mostra aglomerado de nuvens "marchando" em dirção a Baixada Santista em 3 de novembro - Reprodução/MetSul

E, parece que vem mais fortes emoções por aí. A Defesa Civil do estado emitiu um alerta de fortes chuvas e fortes ventos para este próximo fim de semana no litoral paulista e demais regiões do estado. E para quem acha que a Defesa Civil está exagerando no prognóstico, o climatologista Rodolfo Bonafim, da ONG Amigos da Água, disse que o órgão não foi alarmista, não. Há realmente a possibilidade de pancadas de chuva que podem ser fortes, com trovoadas, ventos e até granizo até o sábado (18) e com mudança de tempo total no domingo (19). 

Mas não é só o litoral de São Paulo que vem se assustando com o tempo nesta primavera. Além dos outros estados afetados pela onda de calor, a região Sul do Brasil vem sofrendo demais com as intempéries. O susto mais recente foi na cidade de Giruá, no noroeste do Rio Grande do Sul, na noite de quarta-feira (15). Uma forte tempestade causou destruição no município. Segundo informações do jornal Zero Hora, uma jovem morreu e outras 57 pessoas ficaram feridas. 

Destruição na cidade de Giruá
Destruição provocada por tempestade deixou uma pessoa morta em Giruá, no RS - Redes Sociais/Metsul

“Primavera histérica”

Segundo Bonafim, a primavera já é uma estação “histérica” normalmente, mas esse ano, sob a influência do fenômeno El Niño, essa “histeria” piorou ainda mais. 

O climatologista explicou também que tempestades são uma forma da atmosfera buscar o equilíbrio que ela perdeu. Em 3 de novembro na Baixada Santista, por exemplo, o temporal violento veio porque o tempo vinha ruim o mês de outubro inteiro, com aquela chuvinha que não parava mais. Para poder limpar o céu, precisou vir uma tempestade. Depois disso, o tempo se endireitou, antes de vir essa nova onda de calor. “Quanto maior a perda de equilíbrio, mais a atmosfera ‘se vinga’, mais ela busca esse equilíbrio de uma forma violenta”, disse Bonafim. 

Rio Grande do Sul

Já a respeito do que aconteceu no Rio Grande do Sul na noite de quarta-feira, Bonafim disse que o que atingiu Giruá provavelmente tenha sido um fenômeno conhecido como Complexo Convectivo de Mesoescala. Ele se caracteriza por ser vários aglomerados de nuvens, várias tempestades celulares, também chamado de tempestade multicelular, porque são várias células de trovoadas, que se movem juntas como se fossem um “pelotão do exército marchando”. Quando atinge algum local, o fenômeno provoca muita chuva, muito vento, pode ter queda de granizo e até formação de tornado.

O climatologista também explicou que fica difícil cravar se o que atingiu Giruá foi de fato um tornado, pois somente com relatos de testemunhas daria para saber se alguém conseguiu filmar se houve alguma tuba tocando o solo. 

Imagem de satélite de tempestade no RS
Imagem de satélite mostra a formação da tormenta que atingiu o Rio Grande do Sul nesta quarta-feira (15) - Reprodução/MetSul

Bonafim comparou o evento em Giruá com um acontecido em Santos em 14 de janeiro de 2009. Naquela ocasião, fortes ventos arrancaram mais de 100 árvores na região central da cidade, em bairros como a Vila Belmiro, Marapé, Campo Grande e Vila Matias. Curiosamente, o vendaval quase não foi sentido nos bairros da orla. 

O climatologista lembrou que não deu para saber se aquela tempestade foi um tornado, pois não houve nenhum flagrante de tuba tocando o solo. Mas todas as características levavam a crer que teria sido, sim, um tornado. A tormenta teve uma força equivalente a de um tornado e uma área de abrangência pequena, como na cidade gaúcha. Ele lembrou que um tornado é relativamente pequeno, com apenas alguns quilômetros de abrangência. 

Outra hipótese para o que tenha ocorrido em Giruá é o fenômeno conhecido como microexplosão na atmosfera, ocasionada devido ao choque térmico do ar muito quente e úmido vindo da região da Bolívia e sul da Amazônia.

Esther Zancan

Esther Zancan

Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.

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