INUSITADO

'Serra das Calotas': peças perdidas viram obras de arte no litoral de SP

Trecho de serra da Oswaldo Cruz é famoso por ocasionar a queda de calotas; artista aproveita manancial abundante em obras de arte visionária

Lenildo Silva
Publicado em 26/02/2024, às 11h42

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Profissional de arte visionária e psicodélica retira calotas das estradas e as transforma em arte - Fotos: Marcello Lopes/arquivo pessoal
Profissional de arte visionária e psicodélica retira calotas das estradas e as transforma em arte - Fotos: Marcello Lopes/arquivo pessoal

Um vídeo, que viralizou nas redes sociais há uma semana, mostra uma "montanha" de calotas no final da descida do trecho de serra, popularmente conhecida como 'Serra das Calotas', na rodovia Oswaldo Cruz, que liga o Vale do Paraíba ao litoral norte de São Paulo. A cena inusitada chamou a atenção para uma iniciativa criativa, que transforma as calotas perdidas na natureza em obras de arte.

Morador de Itamambuca, em Ubatuba, o artista visual Marcello Lopes, de 38 anos, encontrou, nas peças deixadas na rodovia, um material inusitado para suas pinturas visionárias e psicodélicas. Com  fundo preto e desenhos simétricos, Marcello transforma as calotas em verdadeiras telas, expressando sua busca interior por autoconhecimento e a conexão entre a vida humana e a espiritual. Em entrevista à reportagem do Portal Costa Norte, ele explica que a ideia surgiu em 2017, durante um congestionamento em São Paulo.

Eu olhei para baixo e vi uma calota quebrada. Tive um insight e, no dia seguinte, já estava na serra recolhendo calotas. As formas simétricas e abstratas me permitiram explorar novas texturas e combinações, ampliando minha criatividade", relata.

Desde então, Marcello já transformou mais de 200 calotas em obras de arte. Ele também oferece oficinas, para ensinar outras pessoas a pintar nas calotas; assim, demonstra que não é preciso ser artista profissional para fazer arte. Como método, o artista conta que deixa o participante fluir, por meio das formas da calota, e colocar cores e outras formas que lhe inspiram, criando assim sua própria arte psicodélica. “Vou acompanhando e ajudando nesse processo, falando sobre a vida, dando dicas sobre as cores e formas, mas deixando cada participante criar sua arte com autenticidade”, explica.

Algumas de suas peças retratam paisagens da região, como o mar de Ubatuba e a Serra do Mar. Outras exploram temas abstratos, como a mandala e o universo. "Meu objetivo é mostrar que a arte pode ser acessível a todos e que podemos transformar materiais descartados em algo bonito e significativo", conclui.

Calotas na rodovia

O Departamento de Estradas e Rodagens (DER) informou à reportagem que, como parte dos serviços de conservação, recolhe, mensalmente, cerca de duas mil calotas nesse trecho da rodovia durante a alta temporada. O motivo são as curvas fechadas e íngremes, que provocam o uso excessivo dos freios; as calotas superaquecem e os fixadores, de plástico, derretem.

Segundo o DER, na alta temporada, circulam diariamente cerca de 6,2 mil veículos nesse trecho da rodovia, em um total de mais de 180 mil veículos ao mês. O departamento recomenda aos motoristas, para minimizar os efeitos da pista íngreme, seguir o limite de velocidade de 20km/h, no trecho de serra, conforme indica a sinalização, assim como manter o veículo engrenado.

Dessa forma, é possível reduzir significativamente o uso do freio, principal responsável pelo aquecimento das rodas, o que pode levar à queda da calota, a depender das condições do veículo. O DER ressalta, ainda, que o respeito às leis de trânsito e a manutenção adequada dos veículos são fundamentais para evitar acidentes.

Lenildo Silva

Lenildo Silva

Cursa jornalismo na Faculdade Estácio

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