Área contígua ao sítio arqueológico São Francisco, a 200 metros de altitude, guarda riquezas do final do século 18 e início do século 19
A prefeitura de São Sebastião, no litoral de São Paulo, anunciou a reabertura do sítio arqueológico São Francisco, no próximo dia 1º de julho, às 9h, após muito tempo fechado para readequação e nova sinalização turística. O local passou uma série de melhorias, que incluem a readequação do acesso, revitalização do ponto de apoio e de atendimento aos visitantes, restruturação completa da trilha, com uma nova infraestrutura como degraus e corrimãos de madeira, itens básicos de primeiros socorros, implantação de um deque de contemplação, placas de comunicação, áreas de descanso e recuo para embarque e desembarque de visitantes.
O que poucos sabem é que nesta região está o maior achado arqueológico do país. O sítio arqueológico São Francisco foi descoberto em 1991 pelo arqueólogo Wagner Bornal, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), e durante seis meses, após a descoberta da nova área, os pesquisadores realizaram um minucioso processo de mapeamento e identificação das construções e objetos encontrados no local, que faz fronteira com o Parque Estadual da Serra do Mar.
Em março de 2007, os pesquisadores encontraram uma extensa área contígua ao sítio, a cerca de 200 metros acima do nível onde foi localizado um complexo de senzalas e as estradas originais que permitiam acesso a essas construções. Ela mede aproximadamente 5,5 mil metros quadrados, mas, somada à área total do sítio já existente, possui 1,2 milhão de metros quadrados, segundo Wagner Gomes Bornal.
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A área calculada refere-se apenas ao que já foi encontrado, mas, à época, já havia evidências de que a nova área descoberta é muito mais extensa, mas não havia como calcular sua real dimensão. Um quilômetro em linha reta separa a nova área descoberta do sítio arqueológico.
O trabalho de mapeamento começou após fotos obtidas por meio de satélites mostrarem “cicatrizes” que cortavam a Serra do Mar. Essas “cicatrizes” denunciavam a existência de cursos de rios e construções ainda desconhecidas. Os técnicos levaram quase dois anos para localizar as estradas, que estavam escondidas sob mata fechada e terreno íngreme.
A partir da localização, foram feitos vários estudos e mapeamento com a utilização de altímetros, bússolas e trena. O trabalho recebeu autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão do Ministério da Cultura.
O trecho descoberto começa à beira da rodovia Rio-Santos, sentido morro acima, até atingir o patamar de 200 metros de altitude. No trecho de subida, os técnicos identificaram diversas estradas que se cruzam perpendicularmente. Elas eram utilizadas para o escoamento da produção de cerâmicas feitas por escravos. O transporte dos produtos era feito por tração animal. No local da descoberta, além das estradas originais, existe um ponto onde se tem uma visão panorâmica do canal de São Sebastião, que era utilizado como ponto de vigilância, de onde era feito o controle de chegada e saída de navios.
Em toda a área há vestígios de cursos d´água, pontes, resquícios de cerâmica, telhas, fornos, e muitos alicerces de construções, que impressionam pela técnica utilizada. As pedras eram apenas encaixadas entre si, sem a necessidade de nenhum material, como argamassa, para fixarem-se umas às outras. A água era abastecida por um engenhoso processo de distribuição, feito por canaletas, hoje, todas secas. Todo o material encontrado data do final do século 18 e início do século 19.
No caminho, ruínas denunciam a existência de várias unidades habitacionais, onde os escravos eram mantidos. As paredes eram feitas em pedras. Havia muitos fragmentos de potes de cerâmica no local e fornos. Os pesquisadores identificaram também muitas pontes, construídas com rochas (gnaise). Todo material se encontra intacto e foi catalogado, identificado e enviado ao laboratório da Secretaria de Cultura e Turismo de São Sebastião, que já contém em seu acervo mais de 100 mil peças do sítio arqueológico descoberto em 1991.
O sítio arqueológico tem mais de 200 anos e é uma das relíquias históricas do município. O local vem sendo estudado há anos e pode se transformar em parque arqueológico, por causa do tamanho de sua área. A cada dia, os pesquisadores encontram novidades da história da colonização brasileira nos séculos 18 e 19.
Durante esse período de pesquisa, já foram resgatados milhares de fragmentos de faiança inglesa, vidro, metal e cerâmicas neobrasileiras (mistura da cultura negra, branca e indígena). Grande parte do material encontrado é manifestação simbólica da nobreza, do poder militar e da crença, esta última com a presença de uma igreja e um oratório.
Foram encontradas também peças em cerâmica produzidas na região, o que caracteriza a importância da cidade como produtora do material no Brasil, além de pedras que simbolizavam trabalho de cantaria. As construções do sítio foram feitas em sistema de terraço, divididos em nove patamares, sendo na parte mais alta a casa do senhor da fazenda. Os elementos decorativos das fachadas, tanque de abastecimento e oratórios revelam uma preocupação estética dos moradores.
O acesso ao sítio arqueológico São Francisco exige acompanhamento de um guia credenciado. Os agendamentos podem ser feitos a partir do dia 2 de julho (até 15 pessoas por passeio). Para mais informações, entre em contato com o Centro de Informações Turísticas da Rua da Praia (CIT) pelo telefone (12) 3892 2206 e pelo e-mail [email protected].