ACQUABUS

Serviço de “ônibus marítimo” transportará 1,5 mil passageiros por dia em Ilhabela

Meio de transporte ainda em teste, no arquipélago, funcionará independente da travessia de balsas entre São Sebastião e Ilhabela

Reginaldo Pupo
Publicado em 07/05/2024, às 08h41

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Lanchas têm capacidade para transportar 57 passageiros - Reginaldo Pupo
Lanchas têm capacidade para transportar 57 passageiros - Reginaldo Pupo

Ilhabela terá, nas próximas semanas, um importante reforço para desafogar o sistema viário, que, aos finais de semana e principalmente feriados, costuma ficar congestionado devido à quantidade de carros que chega ao arquipélago. E o reforço virá do mar. Após quase uma década suspenso por disputas políticas e judiciais, o transporte de passageiros por meio marítimo entrará em operação, inicialmente, com duas embarcações em percurso que ligará a ilha de norte a sul.

Os aquabus, como a prefeitura batizou as lanchas, têm capacidade para transportar 57 passageiros por viagem e  até 1.546 pessoas diariamente. Eles serão acessíveis a pessoas com deficiência e mobilidade reduzida e são equipados com sistema de ar climatizado e TVs de tela plana. Uma terceira embarcação começará a operar após o término das manutenções necessárias.

A tarifa será a mesma dos ônibus urbanos, que trabalharão de forma integrada com os aquabus. Os usuários com bilhete único pagarão R$ 2,10. A tarifa sem o cartão será de R$ 5,00. As embarcações, inicialmente, irão operar nos píeres dos bairros Praia Grande, Barra Velha, Perequê, Engenho D’Água, Vila (centro histórico) e Ponta Azeda.

No momento, os aquabus estão em fase de testes. Diversas viagens foram feitas para verificar o comportamento das lanchas, nos píeres de atracação distribuídos pela orla, que servirão como  equivalentes aos pontos de ônibus em terra. As estruturas foram adaptadas para o embarque e desembarque de passageiros.

Entre os testes, estão o funcionamento e capacidade dos motores, cronometragem de tempo entre os píeres, treinamento dos marinheiros, e outros ajustes finais. Até o momento, de acordo com a prefeitura, todos os testes foram realizados com sucesso.

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No dia 24 de abril passado, o prefeito Antônio Colucci  acompanhou um dos testes operacionais. Ele aproveitou para criticar a demora para colocar o sistema em prática. “Os aquabus foram abandonados em uma marina na cidade vizinha por mais de cinco anos, o que gerou a abertura de um processo judicial por parte da marina contra a prefeitura de Ilhabela. Conseguimos reverter a situação e, em breve, vamos entregar para a cidade mais uma opção de transporte público de qualidade para nossos moradores e os turistas”.

Entenda a polêmica

As três embarcações foram adquiridas no final de 2015 pela prefeitura, por R$ 4,5 milhões, com recursos dos royalties do pré-sal. Apesar da comodidade, as embarcações não foram utilizadas, pois os píeres de atracação já existentes em diversas praias de Ilhabela não possuíam acessibilidade. O que foi corrigido agora.

Aquabus
Usuários com bilhete único pagarão R$ 2,10; tarifa sem o cartão será de R$ 5,00 - Reginaldo Pupo

Por quatro vezes, a prefeitura, ainda na segunda gestão de Colucci, tentou abrir uma licitação para a contratação de uma empresa para readequar os píeres, mas o TCE (Tribunal de Contas do Estado) barrou todas as tentativas. Após ficarem cerca de um ano ancoradas no canal de São Sebastião e expostas ao tempo, em 2017, o então prefeito Márcio Tenório, que sucedeu Colucci, decidiu enviar as embarcações para uma marina particular em Caraguatatuba, na qual permaneceu por cinco anos.

Neste período, as lanchas se deterioraram, e as más condições estruturais eram evidentes, o que impediria sua navegabilidade. Os barcos estavam fora da água, os cascos apresentavam acúmulo de matéria orgânica, podridão e rachaduras. Em julho de 2019, a então secretária de Turismo de Ilhabela, Bianca Colepicolo, afirmou que seriam necessários R$ 900 mil para recuperar as embarcações.

Além dos R$ 4,5 milhões investidos na aquisição dos aquabus, a prefeitura também teria que arcar com os custos com a marina, herdados da gestão de Márcio Tenório, embora nenhuma manutenção teria sido feita nas embarcações, segundo o então ex-prefeito Antônio Colucci disse à época. A conta, porém, caiu no colo da então prefeita de Ilhabela, Maria das Graças Ferreira dos Santos, à época no PSD, que era vice de Márcio Tenório, cassado pela Câmara em 16 de maio de 2019, por improbidade administrativa.

Segundo ela, em março de 2020, um acordo teria sido celebrado entre a marina e a prefeitura, no valor de R$ 388.756,28. “Os débitos foram pagos por via judicial, porque a administração anterior não deixou contrato firmado e licitado”, disse a prefeita, à época, se referindo ao ex-prefeito Márcio Tenório. Segundo Maria da Graça, o município abriu processo para corrigir a questão da infraestrutura, licitando flutuantes para os oito píeres, para permitir o transporte aquaviário.

Naquela ocasião, a então prefeita afirmou também que o município não deveria operar as embarcações, conforme o plano inicial. “Vamos fazer a concessão do serviço para a iniciativa privada. Os estudos, inclusive, estão previstos em nosso plano de mobilidade”. Disse, então, que uma ação civil pública estava em andamento, para apurar a locação da marina e um possível ressarcimento dos valores à prefeitura.

O então ex-prefeito Colucci, que adquiriu as embarcações, disse também que as adaptações de acessibilidade dos píeres de atracação foram uma exigência do Ministério Público Federal, por tratar-se de transporte público.

Licitação

À época, o então ex-prefeito Antônio Colucci afirmou que as embarcações, que passaram por processo de licitação, chegaram em Ilhabela em perfeito estado e que foram abandonadas, posteriormente, na gestão de Márcio Tenório. “Os barcos, inclusive, vieram navegando de Santa Catarina, onde foram construídos, atravessando esse marzão todo”, afirmou. Segundo Colucci disse, à época, os barcos foram “escondidos” na marina, às margens do rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba, e puxados para dentro da propriedade, posteriormente. “Não deram partida nos motores, não fizeram nenhum tipo de manutenção e agora querem cobrar por isso”.

O ex-prefeito Márcio Tenório não foi localizado para comentar o assunto.

Após toda a polêmica, Colucci, agora em sua terceira gestão, conseguirá implantar o serviço. No entanto, a prefeitura ainda não definiu uma data para o início da operacionalização do sistema, que funcionará independente da travessia de balsas entre São Sebastião e Ilhabela.

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