TRETA DE BILHÕES

Ilhabela pede na Justiça novo bloqueio de R$ 1 bi do petróleo liberado para São Sebastião

Disputa judicial por dinheiro grosso proveniente de royalties de exploração petrolífera segue semeando discórdia entre cidades do litoral norte de SP

Da redação
Publicado em 24/08/2023, às 12h43

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Vista aérea e do mar de Ilhabela - Imagem: Viagens e Caminhos
Vista aérea e do mar de Ilhabela - Imagem: Viagens e Caminhos

Surpreendendo um total de zero pessoas, a decisão judicial que concedeu mais de R$ 1 bi em royalties de petróleo a São Sebastião pode não ter sido o desfecho da disputa pelo vultoso montante com Ilhabela.

Na Justiça, a cizânia se arrasta desde 2020, quando a prefeitura de Ilhabela moveu uma ação questionando uma revisão dos royalties que contemplou São Sebastião no rol de cidades com direito a acessar os recursos provenientes da exploração de petróleo na Bacia de Santos. Com isso, a soma bilionária foi bloqueada judicialmente em uma conta na Caixa Econômica Federal.

O imbróglio parecia ter chegado a uma conclusão na semana passada, quando o juiz federal Carlos Alberto Antonio Junior, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), deferiu outra ação movida pela prefeitura de São Sebastião e determinou que a Caixa Econômica Federal realizasse a transferência dos valores para a conta da cidade. 

No entanto, tão logo saiu a decisão, a prefeitura de Ilhabela anunciou que iria recorrer no STJ. Rapidamente, São Sebastião também anunciou que R$ 600 milhões vão para a reconstrução de grandes áreas da cidade devastadas pelas chuvas históricas em fevereiro.

Questionada se já abriu o recurso anunciado e se vai insistir na tese, rechaçada pelo TRF-3, de que não foi plenamente consultada durante a revisão, a prefeitura de Ilhabela informou na manhã desta quinta-feira (24) que recorreu no mesmo TRF-3 e não no STJ como havia propalado.

A gestão municipal de Ilhabela também não informou se vai insistir na alegação derrotada ou se vai apresentar novas teses, mas alertou que, caso o valor por ora liberado seja gasto por São Sebastião e a Justiça determine novo bloqueio ou devolução, futuras gestões sebastianenses terão de devolver o dinheiro e se verão numa enrascada financeira.

Questionada sobre o recurso de Ilhabela, a prefeitura de São Sebastião não respondeu. A prefeitura também não informou quanto exatamente foi liberado e se a soma foi efetivamente transferida para os cofres da cidade - como tem dado a entender em anúncios de investimentos de reconstrução.

Ignorada por São Sebastião, a reportagem perguntou à Caixa Econômica Federal se o saldo de mais de R$ 1 bilhão, antes bloqueado judicialmente, já foi liberado para a prefeitura da cidade. A Caixa respondeu, ontem (23), que obedece à imposição legal de sigilo das operações de instituições financeiras e não informou o montante. Mas, segundo informações obtidas pela reportagem, o valor é de  R$ 1.091.940.806,41.

Também questionada se, com a nova judicialização de Ilhabela, o valor pode ser bloqueado novamente, a Caixa disse que  “cumpre as ordens judiciais que lhe são endereçadas e não comenta sobre ações judiciais em andamento, especialmente aquelas nas quais não é parte”.

A disputa em resumo

Judicializada em 2020, a disputa entre São Sebastião e Ilhabela começou três anos antes, em 2017, quando a prefeitura sebastianense ajuizou uma ação administrativa na ANP (Agência Nacional do Petróleo), exigindo sua fatia dos royalties de produção de petróleo e gás natural na sua faixa litorânea. Até então, a soma era exclusiva de Ilhabela.

O pedido fez com que o IBGE, órgão tecnicamente responsável pela delimitação, revisasse suas projeções para a Bacia de Santos. Em uma nota técnica de 2020, o IBGE reconheceu que o traçado geodésico dos campos de exploração de petróleo atravessa a faixa costeira de São Sebastião, o que garantiu à cidade o direito a uma parcela dos royalties.

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