Schmidt trabalhou em diversas redações dentro e fora do país, e, aos 73 anos, recebeu o troféu Juca Pato, de intelectual do ano
O píer do bairro Jardim Casqueiro, em Cubatão, no litoral de São Paulo, agora conta com a presença de um visitante ilustre, que recebe merecida homenagem póstuma: Afonso Schmidt, jornalista, romancista, contista, dramaturgo, ativista e poeta que, inclusive, intitulou um poema com o nome da cidade. Um monumento em sua homenagem será inaugurado nesta sexta-feira (20), às 17h30, como parte da programação de Natal do município.
O escritor nasceu ao pé da Serra do Mar, em Cubatão, no dia 29 de junho de 1890, quando a cidade ainda era um bairro pertencente a Santos. No começo da carreira, que começou bem cedo, aos 16 anos de idade, Afonso Schmidt decidiu aventurar-se em reportagens, sozinho no Rio de Janeiro. Um ano depois, viajou pela Europa, onde trabalhou em editoras e adquiriu bagagem literária e experiência de vida suficientes para retornar ao Brasil com um olhar diferenciado.
Na capital paulista, fez história; foi repórter de importantes periódicos da época como A Plebe e A Lanterna, ao lado de figuras lendárias do movimento anarquista brasileiro como Edgard Leuenroth e Oreste Ristori. Também atuou na redação de O Estado de S. Paulo e da Folha de São Paulo.
Schmidt lançou 40 livros durante sua vida, entre eles, a obra Zanzalá (1938), pioneira de ficção científica brasileira, de grande destaque na primeira metade do século XX. Em 1963, o escritor, consagrado por narrar belas histórias e defender as lutas sociais de maneira pungente, recebeu o troféu Juca Pato, que elege o intelectual do ano. Afonso faleceu um ano depois, no dia 3 de abril de 1964.
Em 1945, foi lançado o poema Cubatão, obra na qual Afonso Schmidt criou uma cidade ideal, batizada por ele de Zanzalá, nome da flor aleluia, que floresce no coração da Serra do Mar; na obra, ele reproduz uma visão da cidade do alto.
Minha terra não passa de uma estrada,
um bambual que rumoreja ao vento;
sol de fogo em areia prateada,
deslumbramento e mais deslumbramento.
O chafariz em forma de carranca,
confidente das moças do arrabalde,
despeja a sua gargalhada branca
no bojo de latão de um velho balde,
Nas portas, parasitas cor de sangue,
um mastro esguio em cada casinhola;
gente tostada que desfolha o mangue,
crianças pálidas que vêm da escola.
Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxas,
de ouro e tristeza, em fundo azul. Aquelas
manchas que são jacatirões — as roxas,
e aleluias — as manchas amarelas.
A minha terra, quando a vejo, escampa,
cheia de sol e de visões amigas,
lembra-me o cromo que enfeitava a tampa
de uma caixa de goma, das antigas...
(Afonso Schmidt, Mocidade (1921), in Poesia, Ed. Nacional, 1945)