SITUAÇÃO DE RUA

Praia se transforma em “moradia” e banheiro em Caraguatatuba

Em outras áreas da cidade, condição de pobreza leva pessoas em situação de rua a abordar moradores e turistas em busca de dinheiro e comida

Reginaldo Pupo
Publicado em 02/05/2024, às 15h27

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Moradores em situação de rua na ponte que interliga o centro ao bairro Indaiá - Reginaldo Pupo
Moradores em situação de rua na ponte que interliga o centro ao bairro Indaiá - Reginaldo Pupo

Um trecho da praia, que faz divisa entre o centro e o bairro Indaiá, em Caraguatatuba, vem se transformando em “residência” para moradores em situação de rua. Eles se aglomeram debaixo de uma ponte que passa sobre o rio Santo Antônio, já na areia do mar, onde dormem durante o dia e à noite. Sem banheiro nas proximidades, homens e mulheres fazem suas necessidades fisiológicas na beira do rio ou no mar.

Alguns dos moradores em situação de rua usam o local para pernoitar, pois tentam ganhar dinheiro durante o dia com a venda de artesanato produzido com folhas de bananeira, que eles encontram nas redondezas, ou miçangas. Outros passam dia e noite consumindo bebidas alcoólicas e drogas.

Ana Lúcia, 36 anos, que prefere não divulgar o sobrenome, diz que residia em Campinas antes de chegar a Caraguatatuba, e que usa o local, eventualmente, para dormir à noite. Durante o dia, vende doces nas redondezas para tentar tirar o sustento. “Eu trabalhava em Maresias (em São Sebastião) vendendo bijuterias na praça, mas fui roubada e estuprada. Pedi dinheiro para pegar um ônibus e tentar a vida aqui em Caraguá”; ela  diz não se recordar da data do suposto estupro. Por esse motivo, a reportagem não conseguiu confirmar a versão com a Secretaria de Segurança Pública.

Ela diz que dorme em cima de papelões, e que divide a comida que consegue comprar com a venda dos doces com os demais “moradores”. “Nossa preocupação agora é com a chegada do frio. Vivemos de doações de roupas, pois ninguém aqui tem condições para comprar”, afirma ela, em meio a muito lixo e debaixo de um varal improvisado.

Lúcia, única mulher a viver sob a ponte, afirma que toma banho à noite, no rio, sem ser incomodada pelos demais ocupantes do lugar. “Apesar da nossa situação, sempre há o respeito. Quando vou tomar banho, eles saem da ponte para me dar privacidade”. Ela confessa que, por falta de banheiros próximos, faz suas necessidades no rio. “O número um faço no rio, já o dois tenho que ir no mar mesmo”, diz, visivelmente constrangida.

Outros pontos

Os moradores em situação de rua estão espalhados pela cidade. Além da ponte do Indaiá, eles também são vistos sob marquises e portas de comércios, especialmente na avenida Miguel Varlez, onde também fica a praça da Bíblia. Neste local, dezenas deles vivem por ali dia e noite, a maioria consumindo bebidas alcoólicas.

O canto esquerdo da praia Martim de Sá também é utilizado por moradores em situação de rua, para dormir sob as coberturas de quiosques. A condição de pobreza os leva a cair na mendicância e abordam moradores e turistas nas ruas, supermercados e, até, em residências em busca de dinheiro ou comida.

Já os moradores em situação de rua que vivem na praça, que fica em frente ao terminal rodoviário, têm mais “sorte”. Eles dormem no ponto de ônibus coberto e utilizam o banheiro da rodoviária, que é gratuito, além de receberem comida, suco e água de fiéis de algumas igrejas evangélicas.

Comendo cachorro

No mês passado, um morador em situação de rua foi flagrado comendo um cachorro em outro ponto da cidade. Ele teria chegado a Caraguatatuba após ter saído da cidade de Mogi das Cruzes, há nove meses. A cena foi filmada por residentes próximos ao local. Segundo as testemunhas, partes do animal estariam em uma caixa. Eles também informaram que o indivíduo estava armado com um facão.

Uma equipe do Serviço de Abordagem Social, acompanhada pela Guarda Civil Municipal, foi até o local indicado pelos residentes, mas não o localizaram. A prefeitura registrou um boletim de ocorrência. O suposto autor do crime já é conhecido pela prefeitura. À época, a prefeitura informou que o homem possui “aparentes problemas psiquiátricos”, e que mais de uma vez a equipe de abordagem da Secretaria de Assistência Social tentou falar com ele, mas foi recebida a pedradas. “Desde o ocorrido, as autoridades do município acompanham o caso, mas o homem segue desaparecido”, informou a prefeitura à época.

Acolhimento

A prefeitura de Caraguatatuba informou que o município possui quatro equipamentos de atendimento e acolhimento voltados às pessoas em situação de rua, e que as abordagens são feitas diariamente. No entanto, acrescenta que o acolhimento não pode ser feito de forma coercitiva, por causa de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com a administração, em caso de atendimento a pessoas em situação de rua, o munícipe pode acionar o telefone (12) 99784 9860, do Serviço de Abordagem Social. Se houver violência ou a prática de algum crime, o cidadão pode acionar o 190.

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