MISTÉRIO

Após um ano, enchente sem chuva que invadiu casas e comércios intriga moradores de Caraguatatuba

Bairros ficaram ilhados após enchente ocorrer sem uma gota de chuva e moradores foram surpreendidos; relembre o caso e veja teorias sobre as causas

Reginaldo Pupo
Publicado em 06/03/2025, às 08h58

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Ruas do bairro Martim de Sá ficaram alagadas com a cheia do rio Guaxinduba - Foto: Reginaldo Pupo
Ruas do bairro Martim de Sá ficaram alagadas com a cheia do rio Guaxinduba - Foto: Reginaldo Pupo

No dia 6 de março do ano passado, moradores de alguns bairros de Caraguatatuba foram surpreendidos, ao final da tarde, com uma enchente que deixou ruas, casas e comércios alagados devido ao transbordamento de rios. Algumas famílias ficaram desalojadas e perderam móveis, roupas e eletrodomésticos, estragados pelas águas. Mas, um detalhe chamou a atenção da população naquele dia: não caíra uma gota de chuva.

No bairro Rio do Ouro, dezenas de famílias se concentraram na entrada do bairro à espera do nível da água baixar, já que não havia como acessar a localidade. O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil foram acionados para retirar algumas pessoas ilhadas dentro do bairro, que fica localizado aos pés da Serra da Mar.

Já na praia Martim de Sá, na qual ficam casas e apartamentos entre os mais nobres da cidade, o nível do rio Guaxinduba, que corta o bairro sentido praia, subiu e invadiu diversas residências. Como não choveu, os moradores da região central foram surpreendidos pela enchente. A força da água chegou a levar alguns carros.

Caraguatatuba
Rio do Ouro, localizado no bairro de mesmo nome, registrou cheia e forte correnteza  - Foto: Reginaldo Pupo

“Até hoje não entendi”

“Eu estava na cozinha preparando o jantar quando um vizinho gritou para eu subir os móveis, tirá-los do chão, porque a água estava invadindo a minha casa. Fiquei sem entender nada. Quando saí na garagem, já não dava mais para ver a rua porque a água do rio tinha subido tanto, que já estava no meu portão. Vi um carro boiando, sendo arrastado. É algo que até hoje não entendi o que aconteceu, pois não estava chovendo na hora e nem havia chovido naquele dia”, relembra a dona de casa Luciane Almeida de Freitas, 39.

Ela disse que seu marido não conseguiu chegar em casa, pois todas as ruas no entorno do rio Guaxinduba estavam alagadas. Ele retornava do trabalho por volta das 19h. “Meu marido disse que a água passou de um metro de altura e que a correnteza do rio estava muito forte. Ele só conseguiu entrar em casa por volta de 1h da manhã, quando a água baixou”.

Teorias da conspiração

Por muitos meses, os moradores tentavam descobrir qual seria a causa da “enchente sem chuva”. A teoria que ganhou força era a de que a represa da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), localizada na cidade de Paraibuna, teria se rompido ou extravasado, e que a água teria descido a serra, por meio de vários rios e cursos d´água que chegam até a cidade, causando a enchente, e explicaria a falta de chuva.

Paraibuna é vizinha de Caraguatatuba, localizada na Serra do Mar. Os moradores sustentaram a teoria após observarem que, semanas antes do sinistro, o nível da represa estava muito alto. A Cesp informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que a represa não possui comportas e que, por esse motivo, não havia como ocorrer o extravasamento de água.

“Na estrutura da barragem existe um mecanismo, chamado tulipa, que impede o vertimento de água. Em simulados realizados frequentemente, nunca houve extravasamento. O volume que chegou até Caraguatatuba provavelmente é de outra origem, não da Cesp, até porque, não existe nenhuma ligação entre a barragem e a cidade”, explicou a estatal.

Mistério continua

O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) informou que não possui estações meteorológicas em Caraguatatuba e Paraibuna e que, por esse motivo, não teria como informar a possível ocorrência de chuvas na região naquela data. “A precipitação deve ser correlacionada com outras variáveis geográficas/hidrológicas para verificação do fenômeno”, disse o meteorologista do órgão, Franco Villela.

Já Maicon Veber, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), afirmou que entre a noite do dia 5 de março e a manhã de 6 de março do ano, ocorreram eventos de chuva intensa. Segundo ele, “foram registrados volumes de chuva bastante expressivos, em grande parte da faixa litorânea entre o estado de São Paulo e o sul do estado do Rio de Janeiro”.

No entanto, não foi afirmado que choveu especificamente em Caraguatatuba. “Em alguns pontos do litoral de São Paulo e áreas do estado do Rio de Janeiro, os volumes de chuva superaram os 100mm em poucas horas”, finalizou Veber. O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) não respondeu aos contatos da reportagem.

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