Segundo a prefeitura, discussão sobre o tema, para reforçar o abastecimento na cidade, reuniu Sabesp, Fundação Florestal, Cetesb e SP Águas
Mayumi Kitamura
Publicado em 08/01/2025, às 16h41 - Atualizado às 16h52
A Sabesp estuda a possibilidade de uma nova captação de água para integrar o sistema de abastecimento de Bertioga, no litoral paulista. Trata-se da proposta de utilização das águas do rio Jaguareguava, localizado em área de Unidade de Conservação, e que deságua no rio Itapanhaú.
Em entrevista recente ao portal Costa Norte, a superintendente da Sabesp na Baixada Santista, Olívia Mendonça, informou que a companhia busca nova captação, com vazão de 50 litros por segundo, ainda para este verão. “Ainda depende de algumas liberações de cunho ambiental, mas com grandes expectativas. Já estamos com toda infraestrutura pronta, é de instalação rápida e com expectativas para a gente conseguir operar também já nesse verão, o que vai deixar o sistema de Bertioga muito preparado do ponto de vista de abastecimento, de segurança hídrica”, revelou ela na ocasião.
O interesse em uma nova captação ocorre após a cidade ser uma das mais afetadas com a estiagem registrada em meados do último semestre de 2024. Moradores de bairros da área central chegaram a sofrer dois meses consecutivos sem abastecimento, e medidas emergenciais foram adotadas pela Sabesp, como uma interligação parcial entre dois sistemas e o início das operações de um novo reservatório, no Jardim Mogiano. Ainda assim, a nova captação, no rio Jaguareguava, pode ocorrer.
Procurada pela reportagem, a prefeitura de Bertioga enviou a seguinte resposta, por meio de nota:
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, a prefeitura continua apoiando todas as obras e intervenções necessárias para garantir o abastecimento público à população, desde que sejam seguidos todos os trâmites e licenciamentos necessários. A prefeitura participou da reunião sobre o assunto, que contou com a presença da Fundação Florestal, Sabesp, Cetesb e SP Águas. A proposta está em fase de elaboração dos estudos e seguirá os trâmites e licenciamentos necessários. Além disso, estão em andamento outros estudos, todos com o objetivo de garantir a segurança hídrica para o município, a fim de evitar problemas durante o período de estiagem”.
Conhecido pelas águas cristalinas, preservação e por guardar vestígios da história em seu trajeto, o Jaguareguava é um dos principais rios a desembocar no Itapanhaú, formando canais sinuosos de água salobra, que favorece o desenvolvimento dos mangues. O rio localizado no Parque Estadual da Serra do Mar (Pesm) é reconhecido pela prática de atividades de ecoturismo, como passeios de caiaque e stand-up e até a observação de aves, o chamado birdwatching. Seu percurso atravessa uma parcela de mangue e restinga, onde reside grande variedade de exemplares da flora e fauna. Daí também vem o nome, já que jaguareguava (îagûary'ûaba, em tupi) significa lugar em que a onça bebe água.
A possibilidade de captação de água neste rio é vista com preocupação por quem vivencia diariamente o seu assoreamento, caso do monitor de ecoturismo e proprietário da empresa Jaguareguava Ecoturismo, Bruno Guazzelli Filho. “Fiquei em choque, era só o que nos faltava agora. O rio tem ficado cada vez mais assoreado, isso tem me preocupado porque aqui já foi um porto de areia, esse rio recebe muita areia”, comentou.
Ele afirmou também já ter iniciado um levantamento, por meio de fotos, que mostram que o Jaguareguava está cada vez menos profundo. “Com todo esse assoreamento e uma possível retirada de água daqui, sabe-se lá Deus o que vai ser do nosso rio. Se a Sabesp simplesmente consertasse o que existe, grande parte do problema já seria solucionado, mas ela insiste em novas captações”, finalizou Bruno Guazzelli Filho.
Essa preocupação é compartilhada por outros monitores locais, que não quiseram se identificar, já que o rio demonstra ter baixo volume de água e profundidade média de 1 a 1,5 metro, a depender da maré. Por isso, eles pensam em iniciar uma movimentação popular pelo rio Jaguareguava.
Procuradas para dar mais detalhes sobre a proposta, tanto a Sabesp quanto a Secretaria de Meio Ambiente Infraestrutura e Logística (Semil) não se manifestaram até a publicação desta reportagem.
Mayumi Kitamura
Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá) e técnica em Processamento de Dados. Atua na área de comunicação há mais de 20 anos. Integra a equipe de mídias sociais do portal Costa Norte.