Lorrana Fernanda fraturou a coluna em acidente causado por linha com cerol na praia do Indaiá em dezembro passado; instrutor que a acompanhava faleceu
Lorrana Fernanda Rodrigues de 24 anos voltou a andar oito meses depois de ter sofrido um acidente na praia do Indaiá em Bertioga, onde passava as férias de fim de ano com a família. Na ocasião, uma linha de pipa com cerol cortou o paraglider em que ela estava. “Desespero e pânico foi o que senti quando percebi que havia algo errado e eu estava caindo”, relata Lorrana, que esteve sob risco de ficar tetraplégica.
Ela caiu de uma altura de 15 metros e fraturou a vértebra L1 da coluna lombar, além dos dois calcanhares. O instrutor que a acompanhava, José Hélio da Rocha de 61 anos não resistiu aos ferimentos da queda e faleceu. O paraglider, também conhecido como parapente, exige equipamento de segurança como um rádio, mas Lorrana relata que o de seu instrutor não estava funcionando.
Superação
A jovem, residente em Americana no interior de São Paulo, relata que tem duas vidas: uma antes do acidente e outra depois. “Tudo agora é uma grande conquista. Nunca achei que ia usar cadeira de rodas, mas no período que utilizei senti o olhar indiferente das pessoas, foi muito difícil. Hoje, valorizo as pequenas coisas. Após dias tomando banho no leito depois do acidente, na primeira vez que consegui tomar banho de chuveiro [eu] chorei. Hoje sou grata até porque consigo lavar a louça”, brinca a garota.
Depois de quatro dias hospitalizada em Bertioga, Lorrane foi transferida para a ala neurocirúrgica do Hospital Irmã Dulce na Praia Grande; ficou internada por 24 dias até realizarem uma cirurgia em sua coluna em 10 de janeiro, que durou mais de cinco horas. “Quando o médico foi fazer a cirurgia, viu que a situação era pior do que ele tinha pensado porque eu estava perdendo também o líquido da medula óssea. Dia 18 de janeiro, eu fiz a cirurgia dos calcanhares. No dia 20, eu recebi alta e voltei para Americana”, conta a sobrevivente.
“Por enquanto ainda não posso correr, pular, nem pegar minha irmã mais nova de quatro anos no colo, mas apesar disso sou grata por não ter perdido completamente meus movimentos. Deus me livrou da morte naquele dia”, pondera Lorrana, que segue fazendo acompanhamento médico e fisioterápico.
Riscos do Cerol
A mistura de cola de sapateiro com vidro moído que é aplicada em linhas de pipas é extremamente cortante e traz risco de morte para quem a aplica, para quem usa e ainda para terceiros: de pássaros a pedestres, ciclistas, motociclistas e aeronaves. No Brasil, as atividades envolvendo o cerol têm seu ápice nos meses de férias escolares.
O uso de material cortante para empinar pipa é proibido em Bertioga pela lei municipal nº 270/98. A legislação desautoriza também estabelecimentos comerciais e comércio ambulante a vender o produto. Quem desrespeitar, pode receber multa de R$ 1.325. “A gente vê notícias na tv, mas não acha que isso pode acontecer com a gente até que acontece. Acredito que a própria pessoa que estava utilizando cerol naquela data não tenha consciência do estrago que causou”, analisa Lorrana.
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