NOITE TENSA

Espera por travessia marítima vira a madrugada e usuários sofrem por 10h

Os relatos dos usuários que passaram a noite de quarta (27) à espera da travessia de Ilhabela foram de frio, fome e sede, além da falta de suporte

Gabriela Petarnella
Publicado em 28/09/2023, às 15h32 - Atualizado às 21h07

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O tempo de espera neste momento é de mais de 3 horas em ambos os lados - Departamento Hidroviário de São Paulo
O tempo de espera neste momento é de mais de 3 horas em ambos os lados - Departamento Hidroviário de São Paulo

Na madrugada de ontem (27), usuários da travessia entre São Sebastião e Ilhabela passaram por momentos de muita tensão. As operações foram paralisadas às 22h40 e seguiram até as 8h30 da manhã de hoje (28), totalizando quase dez horas em que os usuários permaneceram nas filas, o que causou um grande transtorno.

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Em depoimento, um grupo de amigos, residentes de São Sebastião, afirmou ter passado a noite desabrigado em Ilhabela, em meio à baixa temperatura. Cláudio Santos afirmou que foi uma noite de muita tensão. Ele e seus amigos, Cristiane Tavolaro e Alexander Rodrigues, acreditavam que a travessia seria normalizada após duas ou três horas de espera, como já havia acontecido na semana passada. Mas, com o passar das horas, tiveram que achar um lugar para se abrigar.

Em parte da noite, os três dormiram abraçados e deitados no chão do lado de fora de um estabelecimento localizado ao lado do embarque, onde ventava menos, mas igualmente frio. Quando o comércio fechou, os taxistas ofereceram a base como abrigo. O grupo conseguiu atravessar apenas na balsa das 9 horas desta quinta-feira (28). “Só cheguei em casa, peguei o uniforme e corri”, disse Cristiane, que trabalha no serviço público. De acordo com ela, seus supervisores foram compreensivos, mas o transtorno poderia ter lhe custado o emprego.

Assim também foi a noite de dezenas de pedestres e motoristas em ambos os lados da travessia. Nas redes sociais, há diversas reclamações sobre a falta de suporte por parte do departamento hidroviário e das administrações de ambas as cidades. Os usuários tiveram uma madrugada privada de alimentação e água. As bases de embarque têm filtros de água disponíveis para a população, mas, de acordo com relatos, não estavam funcionando.

Outras questões que remetem à falta de suporte apontados foram os banheiros públicos na base de São Sebastião, que estavam sujos e sem papel higiênico, além do fato de que as bases de embarque e desembarque não oferecem abrigo do vento e não atendem a uma alta demanda de pedestres e ciclistas, como na noite anterior. Além disso, apenas por volta das 4 horas da manhã, o catamarã que estava atracado em São Sebastião foi liberado para que pudessem dormir.

Débora da Silva, que faz faculdade em Caraguatatuba, disse ter tido “sorte” neste momento, já que ela estava no ônibus que transporta os universitários de Ilhabela. Mas, estar abrigado em um veículo não permitiu que a experiência fosse melhor, já que em diversos veículos havia crianças e idosos, por exemplo, que também foram restritos à alimentação e água e condições adequadas de higiene. Segundo ela, houve muitas pessoas que desistiram das filas, mas a grande maioria não tinha essa opção, como ela que tentava retornar para casa.

Charles Eugene Lefevre, morador de São José dos Campos e com família em Ilhabela, destacou um ponto muito importante que, de acordo com ele, deve ser levado em consideração na cobrança por melhorias na travessia. Havia também nas filas pacientes de diversos tratamentos, como quimioterápicos, por exemplo, que provavelmente chegaram atrasados às suas consultas e sessões.

Segundo ele, a paralisação também afetou a sua rotina de hoje, que perdeu um compromisso em São Paulo, mas que esta não foi a primeira vez. Ao longo da última semana, o sistema de operação tem apresentado problemas faça sol ou chuva. Como alguém que utiliza o transporte com frequência, Charles ressalta que mesmo em condições climáticas favoráveis, a travessia tem operado lentamente, causando um extenso tempo de espera nas filas.

Um ponto em comum nas queixas de Charles e Débora, que também utiliza o sistema diariamente, é a falta de comunicação eficiente entre funcionários e usuários. A universitária afirmou que durante o trajeto até a balsa o site apontava o sistema em operação e apenas ao chegar, o site atualizou, indicando a paralisação. Mas mesmo assim, não houve nenhuma troca de informação por parte da empresa, aos que aguardavam nas filas.

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL), a paralisação foi necessária devido à ocorrência de ventos fortes no canal e de condições desfavoráveis de maré, que chegaram a 33,5 km/h (equivalente a 62 km/h) no canal, para um limite de segurança de 25 nós.

Nesta semana, ainda houve outras paralisações em condições climáticas semelhantes. A constante instabilidade do serviço tem sido alvo de inúmeras críticas, além do fato de que, mesmo com o clima bom para transporte, os períodos de temporada têm sido igualmente caóticos, com filas extensas, por falta de infraestrutura que atenda à demanda.

Diante de tantas problemáticas no serviço oferecido, a SEMIL apontou apenas que preza pela segurança dos usuários ao não operar as balsas nestas circunstâncias climáticas. Não é de hoje que a população cobra das autoridades competentes em nível municipal e estadual para que as melhorias necessárias sejam feitas, tanto no suporte nos embarques, quanto durante a travessia.

É importante ressaltar que, a partir de hoje, quinta-feira, as filas voltam a ficar extensas com o movimento natural de visitantes dos finais de semana em Ilhabela. Neste momento estão em operação três balsas, em travessia lenta. O tempo de espera é de 210 minutos (cerca de três horas e meia).

Gabriela Petarnella

Gabriela Petarnella

Jornalista formada pelo Centro Universitário Módulo. Possui experiência em videorreportagem e fotojornalismo

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