O observador de baleias

Costa Norte
Publicado em 26/08/2016, às 13h28 - Atualizado em 23/08/2020, às 15h27

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*Foto: Júlio Cardoso

Avistar uma baleia já é sensacional, desperta a atenção de todos. Imagine ver um grupo delas com machos, fêmeas e filhotes. “É espetacular”, diz Júlio Cardoso, de 68 anos, observador de baleias do litoral norte. Há 12 anos, Júlio navega os mares do litoral paulista com um único objetivo: ajudar pesquisadores. Ele fotografa e anota dados, como o local e frequência que aparecem e qual a espécie. Em seu currículo invejável de observador de baleias (quem não gostaria de ficar bem pertinho delas), ele tem 140 vistas. “Já vi grupo de 9 baleias juntas. Vi baleias perto de Maresias, Boiçucanga, São Sebastião, em Ilhabela. Às vezes elas chegam perto da costa”, conta.

Júlio Cardoso, o observador de baleias

As baleias mais vistas no litoral norte são as baleias-de-bryde, mas este ano Cardoso foi surpreendido. Em Julho, ele avistou 27 baleias jubartes em São Sebastião e Ilhabela. “É um fenômeno raro de ver por aqui”, diz. A jubarte pode pesar de 35 a 40 toneladas e chegar a 16 metros de comprimento. Todos os anos, elas migram da Antártida para Abrolhos, na Bahia, em busca de alimentos e passam pelo litoral paulista. Este ano elas resolveram passar bem pertinho e viraram atração. “Teve uma que deu um salto fantástico bem perto de onde eu estava. Imagina um bicho de 40 toneladas dando saltos. É espetacular”, comemora Cardoso. Segundo ele, os saltos proporcionam cenas incríveis. “Teve uma que passou por baixo do barco, parecia que tinha sumido. Aí ela foi e deu um salto numa distância de 50 metros. E foi um salto de corpo inteiro”. Para o observador, conseguir fotografar a sequência de um salto é uma experiência inesquecível. E ele viveu essa experiência!

Um dos registros da sequência de saltos da Jubarte, no Arquipélago de Alcatrazes

Emoção e susto são as duas sensações ao presenciar um salto, segundo Cardoso. “Primeiro o medo que dá... Imagina se salta e cai em cima do barco. Não sobra nada. Além da beleza, tem o perigo”. É por isso que algumas regras devem ser seguidas. As normas de segurança e as leis precisam ser respeitadas. Uma das recomendações é uma distância mínima de 50 metros, outra é sempre andar paralelo a elas. “Os motores do barco têm que estar desengatados para evitar perturbar. Elas são muito sensíveis”, complementa. Esse respeito e cuidado, com certeza, premia o observador com cenas espetaculares. Uma delas está no vídeo abaixo. A gravação foi feita em julho, próximo a Ilhabela. “Paramos o barco e a jubarte chegou próxima. Elas são curiosas. Nesse dia, elas estavam tranquilas e se alimentando. Subiam para respirar e mergulhavam com intervalos de poucos minutos. Ficamos lá parados umas 3 horas só observando. Um show”, lembra.

*Vídeo gravado por Juliano Candisani

Mas nem tudo é para ser comemorado. Ser observador de baleias também tem seu lado ruim. “Algumas chegam à costa e vão em cima das redes em busca de comida. Outras são atropeladas por embarcações”, conta Cardoso. Os incidentes acabam tirando a vida de muitas baleais. O observador diz que, desde que apareceram no litoral norte, 20 jubartes foram encontradas mortas. Uma pena para a natureza e para quem tem o mar como sua segunda casa. Júlio Cardoso sai em busca das baleias toda semana e fica o dia inteiro navegando. É como se ele já fizesse parte da vida marinha. O prazer de navegar com o propósito de registrar os mamíferos, quem sabe, já não tenha virado uma bela história de amizade entre as baleias e um homem apaixonado por elas.

Erica Rueda

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