Muito além da agressão, o relacionamento abusivo surge sorrateiramente, de maneira imperceptível para a vítima, enlaçando-a em um ciclo tóxico. Fique atenta!
Relacionamentos abusivos podem passar a errônea imagem de perceptíveis e escandalosos, porém, este tipo de abuso pode ser sorrateiro, cruel e esmagadoramente silencioso.
Este tipo de ocorrência criminal pode ocorrer com diversas pessoas conhecidas, familiares, amigos ou até você. Alguns identificam, outros não. O que muitos não sabem é que o abuso físico é somente UM dos fatores que compõe o abuso no relacionamento.
Psicológico, financeiro, emocional, entre outros... todos os aspectos da vida da vítima podem estar em risco com os predadores do relacionamento abusivo.
Um parceiro tóxico que invalida seus sentimentos está ‘treinando’ seu psicológico para ignorar sinais de intuição ou socorro. Este tipo de pessoa falará que seus pensamentos e angústias não tem fundamento, ou até mesmo te colocará como ‘louca’, fazendo você e seu ciclo social duvidarem de seus pensamentos e atitudes, invalidando seu raciocínio e consequentemente dominando os seus próximos passos.
Controle de roupas, amizades, passeios e até de redes sociais. A alegação dos ciúmes no início do relacionamento pode parecer ‘fofo’ e inofensivo, porém, a sensação de posse crescerá com a permissão de pequenos controles do cotidiano, transformando sua vida, aos poucos, controlada pelo abusador.
Pouco se fala sobre um dos motivos mais graves que prendem a vítima em um relacionamento abusivo. O controle financeiro em hipótese alguma deveria ser normalizado em uma vida a dois. Muitos abusadores utilizam o termo ‘compartilhar’, que deveria ser algo saudável, para denominar o domínio sobre a vida do outro.
A dependência financeira também é um dos motivos de maior recorrência para o aprisionamento de vítimas nestes elos inafetivos. Principalmente mulheres, que deixam de trabalhar quando casam ou têm filhos, acabando presas aos maridos.
Toda e qualquer relação sexual forçada é estupro! Este crime de violação sexual ocorre com diversas vítimas, que acreditam que suas vontades são invalidadas e que seu corpo é partilhado com o parceiro. Suas vontades devem ser respeitadas, seu corpo é seu.
Ao contrário do que muitos pensam, a violência física não caracteriza somente as grandes agressões com tentativa de homicídio. Os sinais de homens agressores começam aos poucos, com empurrões e apertões.
As vítimas geralmente acreditam que o parceiro irá mudar, que não irá piorar, porém, aos poucos vai se adaptando e aceitando cada vez mais abusos, que vão piorando a cada briga.
É comum este tipo de companheiro alegar que se arrepende e até usar presentes para agradar e conquistar novamente a parceira, porém, este ciclo irá se perpetuar.
Amizades e familiares podem perceber quando uma pessoa está passando por abusos psicológicos e físicos, além de marcas visíveis, há também o abalo mental de estar vivendo abusos constantes. Para o abusador, o ideal é afastar o companheiro de elos sociais que podem ajudá-lo a sair do relacionamento tóxico.
Manobras emocionais que podem desencadear culpa e vergonha nas vítimas podem ser corriqueiramente usadas para convencê-las a fazer a vontade do abusador. Seja por gatilhos emocionais sensíveis ou por vitimismo, o companheiro tóxico consegue extrair da sua angústia o necessário para te controlar.
Monique* (nome fictício), foi marcada severamente por relacionamentos abusivos, e pediu para não ser identificada por medo de desencadear problemas relacionados aos abusadores do passado.
“Passei por dois relacionamentos abusivos. O primeiro durou quase 3 anos, com um homem, e o segundo cerca de 11 meses, com uma mulher”, conta a vítima.
A jovem relata como foram os primeiros sinais perceptíveis [para ela] dos relacionamentos abusivos: “Quando estava em meu primeiro relacionamento, e tivemos uma briga numa questão que era muito óbvio que eu não era a errada, mas ele contornou a situação de uma forma que eu saí como a errada e, no fim, eu me encontrei pedindo perdão pra ele pelo que eu tinha feito”, desabafou.
Ela completa: “No segundo relacionamento, um pequeno ciúmes de uma amizade acabou se tornando uma briga enorme onde eu ouvi a frase 'não quero que você tenha outros amigos além de mim, só eu posso ser sua melhor amiga'.
Monique também conta que conseguiu se reestabelecer com ajuda da família e amigos, além da essencial terapia com auxílio de um psicólogo: “Eles sempre têm uma visão muito mais ampla, e enxergam coisas que não vemos pois estamos cegas pela paixão e pelo amor. É possível sair, e isso demanda uma força interior muito grande. Geralmente as pessoas acham que não têm essa força”.
Está vivendo ou conhece alguém em situação de abuso? Ligue para o 180, o serviço registra denúncias sobre abusos contra a mulher e também auxilia vítimas em busca de socorro.
Além do número de telefone 180, é possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço. No site está disponível o atendimento por chat e com acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
De acordo com o artigo 7 da lei 11.340 (Lei Maria da Penha), a violência doméstica e famíliar se enquadram criminalmente com:
Física – agressões e lesões físicas
Psicológica – danos à auto estima, degradação moral, manipulação, constrangimento, isolamento, vigilância constante, retirada do direito de ir e vir, e quaisquer outros meios que retirem da vítima a saúde psicológica e a autodeterminação.
Sexual – qualquer atividade sexual não desejada é considerada crime.
Patrimonial – comportamento de retenção, subtração, controle ou quebra de objetos ou quantias financeiras da vítima.
Moral- enquadra crimes de calúnia, difamação ou injúria.
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