Acúmulo de lixo, falta de locais para estacionar e filas em supermercados, padarias e postos de combustíveis atrapalham o dia a dia de moradores da região
A temporada de verão chegou e, com ela, uma série de transtornos para quem reside nas cidades do litoral norte paulista. Segundo estimativas das prefeituras de Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba, cerca de 2,5 milhões de turistas visitam a região, que possui 348 mil habitantes fixos, de acordo com o censo do IBGE (2022).
Um dos maiores problemas enfrentados pelos moradores é o trânsito. Seja nas regiões centrais ou nos acessos às praias, a lentidão gera demora de cerca de 1h30 a 2h em trechos que, fora da temporada, são percorridos em cerca de 15 minutos. Para se deslocar para o trabalho ou tentar chegar aos compromissos no horário, os moradores precisam se programar, com antecedência, por causa do grande fluxo de veículos.
Outro problema apontado pelos moradores são as filas em supermercados, padarias e postos de combustíveis. “Hoje fui ao supermercado para comprar pães, mas desisti. As filas em todos os caixas estavam enormes e demorando cerca de 40 minutos. Sem contar que ainda demorei a estacionar, pois não tinham vagas”, queixou-se a aposentada Maria Lúcia Rangel, 71 anos, de Caraguatatuba, que, diariamente, vai até o ponto comercial para adquirir o produto.
Quem reside na região também enfrenta filas para abastecer em postos de combustíveis. O empresário Antônio Augusto Santos, 45, trabalha com passeios de lancha em Ubatuba e precisa abastecer galões de diesel para as embarcações. “Geralmente, chego às 7h aos finais de semana e não tem filas. Hoje (29), precisei esperar quase 20 minutos. Amanhã vou tentar chegar mais cedo para não pegar fila”.
Em todas as cidades da região, os turistas também enfrentam filas. Na noite do domingo (29), a maioria dos restaurantes de Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba estava com filas de espera. Alguns visitantes chegaram a esperar cerca de uma hora até conseguir uma mesa. Situação semelhante também ocorre em bares, sorveterias, adegas e hamburguerias.
A grande quantidade de turistas também gera outro problema para os moradores. O acúmulo de lixo é visto em praticamente todos os bairros dos municípios, embora a coleta esteja ocorrendo normalmente. “A maioria das casas existentes na região é de temporada. E, nesta época, estão quase todas ocupadas. Isso gera muito lixo para um sistema (de coleta) projetado para uma população fixa. Isso também acontece onde eu moro, em Búzios (região dos Lagos, no Rio de Janeiro)”, salientou o engenheiro agrônomo Paulo Roberto Zacharias, 56, que possui casa de veraneio em Caraguatatuba.
Os moradores mais prejudicados durante a temporada de verão são os que residem em Ilhabela. Quem necessita sair da ilha para algum compromisso, compras ou consultas médicas no continente, precisa enfrentar uma longa fila para embarcar de volta em uma das balsas, em São Sebastião. Na tarde desta segunda-feira (30), o tempo de espera era de 45 minutos.
Até o início do ano, moradores de Ilhabela tinham preferência no embarque às balsas, mas uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo considerou inconstitucional uma lei municipal que concedia o benefício. Agora, os moradores precisam acessar a mesma fila dos turistas; idosos, gestantes, portadores de deficiências continuam com prioridade.
A cidade possui apenas uma avenida principal, que liga a ilha de norte a sul, em faixa simples, justamente onde estão situados os acessos às praias, hotéis, pousadas e comércio em geral. O trecho entre a balsa, no bairro Barra Velha, até o centro (Vila), que normalmente é feito em 15 minutos, durante a temporada chega a cerca de 1h a 1h30. O congestionamento atrapalha não só os moradores, como os veículos de emergência.
A cidade recebe, em média, cerca de 200 mil turistas, que chegam por balsas entre dezembro e o Carnaval, cinco vezes mais a população fixa, de 40 mil habitantes. Além desse nicho de turista, a prefeitura espera receber outros 250 mil turistas provenientes de cruzeiros marítimos, 6,2 vezes mais a população residente.
Outro ponto negativo é a falta de estacionamento, já que, em muitos trechos da avenida (que também é a SP-131), não há acostamentos. Muitos motoristas se veem obrigados a estacionar em cima das calçadas, prejudicando o trânsito de pedestres. Isso ocorre com frequência na praia do Curral, a mais frequentada de Ilhabela. Na região sul, há trechos estreitos, onde dois ônibus em sentidos opostos não conseguem trafegar.
“Infelizmente, essa é a única época do ano que podemos viajar em família para ficarmos alguns dias fora de casa. Mas nos sentimos em São Paulo. É como se a capital, nesta época do ano, se transferisse para o litoral, pois aqui enfrentamos o mesmo trânsito e filas existentes por lá. A diferença é que aqui enfrentamos trânsito para ir à praia e não ao escritório com ar condicionado”, disse a engenheira Paula Muzauskas, 46, que está em Ilhabela para passar o Réveillon com o marido e os dois filhos.