Mito ou verdade: ler no ônibus causa descolamento da retina? Oftalmologista explica

A resposta para a pergunta do título é "não". Fabricio Perino, oftalmologista e cirurgião ocular especialista em catarata pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que não é possível descolar a retina ao ler um livro ou no celular, durante uma viagem de ônibus: “Não há relatos recorrentes”, explica.

Este é um dos vários mitos que as pessoas propagam a respeito da visão, geralmente por distorção de alguma informação, por conhecimentos trocados numa conversa entre vizinhos ou dos mais velhos para os mais novos da família. Quem nunca ouviu da mãe ou da avó que comer formiga faz bem para a visão, não é mesmo?

Aliás, essa história da formiga também é outro mito. Não há nenhuma comprovação científica. Portanto, deixe as formigas em paz, combinado?

A seguir, o Dr. Fabricio Perino desmente outras histórias a respeito da visão. Confira:

Parar de usar óculos pode piorar o grau?

Mito. Contrário ao que muita gente pensa, os óculos de grau não são uma cura para doenças como a miopia, astigmatismo ou hipermetropia, e sim uma ferramenta que ajuda a aliviar um sintoma - no caso, a falta de clareza na visão. “O grau pode melhorar ou piorar, mas isso independe do uso de óculos”, diz o especialista.  

A pessoa que não tem problemas de visão pode desenvolvê-los ao passar muito tempo em frente a tela do computador ou celular?

Mito. “Não. Porém, pode dar sintomas, como dor de cabeça, tontura, cansaço nos olhos - aquele ardor e sensação de que os olhos estão sendo puxados -, mas nenhum problema grave”.

Usar telas no escuro pode fazer mal à visão?

Depende. No caso de adultos, o médico explica, não vai fazer necessariamente mal; nada além de sintomas como a dor de cabeça e a enxaqueca. No entanto, pode prejudicar as crianças, em longo prazo.

Segundo o especialista, o uso excessivo de telas por crianças pode favorecer uma evolução de miopia. A formação do sistema ocular ocorre até em torno dos nove anos de idade, e esse é o período mais importante para tratar qualquer tipo de grau. 

“Sempre ensino às  crianças a exercitar a visão, por exemplo, olhando para horizontes em vez de olhar apenas o que está por perto. E peço aos pais para regularem o uso de telas - o que hoje em dia é difícil, pois elas estão em todo lugar. Isso pode afetar as próximas gerações”, afirma. Para o especialista, não é culpa da tela, mas mostra que isso acontece com mais frequência agora do que 20 anos atrás.

A partir dos nove ou dez anos, explica o Dr. Fabricio, o paciente passa da fase de manutenção para uma fase de acompanhamento. Nela, o médico monitora o grau e, eventualmente, receita óculos ao paciente.

“A partir desta idade o sistema ocular já se desenvolveu e o uso de telas no escuro não desencadeia mais problemas. Dá apenas para corrigir. Mas nunca é bom usar telas no escuro justamente por conta dos sintomas que podem ser causados em qualquer idade”, explica o oftalmologista. O uso do celular antes de dormir, ele afirma, também não traz prejuízos à visão em si. 

Pode usar colírio sem prescrição médica?

Depende. Segundo Dr. Fabricio, quando se trata de olho seco ou algum corpo estranho presente no olho, na maioria dos casos, não há problema em comprar um colírio lubrificante apenas para alívio imediato dos sintomas. 

“O problema é quando você vai à farmácia e o atendente pode vender algum colírio com substância vasoconstritora. Isso pode dar um efeito rebote, ou seja, o olho fica bom por duas, três horas e, se o problema não for sanado, ele volta. O perigo não está nem tanto em comprar colírio sem prescrição médica, mas sim em quem está prescrevendo, se sabe o que está prescrevendo. Já atendi pacientes com herpes que não podem usar corticoides, mas que portavam receita médica com essa substância”, relata. 

Usar óculos de outra pessoa faz mal?

Depende. “Pode dar sintomas. Se você tem miopia e usa um óculos para hipermetropia ou vice-versa, o [par de] óculos não vai ajudar, pelo contrário, vai piorar sua visão. Mas quando você coloca o [par de] óculos de alguém, por exemplo, se ambos tiverem miopia em graus parecidos, não há problema algum”, afirma Dr. Fabricio.

Quando a pessoa tem problemas para enxergar, se ela forçar a visão, piora o problema?

Mito. O problema em si não piora, mas o sintoma, sim, atesta o médico: “Causa desconforto, pois pode atenuar o sintoma. A pessoa começa a exigir mais da musculatura facial e isso pode ocasionar essa piora”.

Esfregar ou aquecer anel de prata/aliança no terçol ajuda a melhorar?

Mito. O ideal, explica o oftalmologista, é fazer uma compressa de água morna filtrada, em vez do anel. A prática ajuda, mas não melhora o problema em si. 

O terçol é uma inflamação da glândula palpebral. Para ficar mais claro, é como se fosse uma espinha na região da pálpebra. O olho, como todo tecido, é formado por uma população de bactérias que fazem parte desse processo. Quando há um desequilíbrio na flora ocular das bactérias, as que são comuns ao olho podem se tornar patológicas, e é aí que nasce o terçol.

Geralmente, o terçol vai embora sozinho. “Às vezes ele nasce com o pontinho branco, exterioriza, sai a secreção, fica um pouco mais interno. Obviamente, tentamos amenizar os sintomas e, para evitar o ‘calázio’, o terçol que fica um pouco mais duro”, diz.

O especialista alerta, no entanto, que se depois de dois meses o terçol não for tratado adequadamente e virar um caroço com uma bolinha, mais duro, é caso de cirurgia.  

Ele reforça a importância de tratar apenas com água morna, ao invés da gelada. “É muito comum eu pegar pacientes que tratam terçol com água gelada, o que pode acelerar o processo de calázio. A água morna drena o terçol mais rápido, fluidifica”, diz.

Pode usar fórmulas caseiras para melhorar a vista em vez do colírio?

Mito. Não existe nenhuma fórmula que substitui o colírio comprado em farmácia. O oftalmo  relata que já recebeu pacientes que aplicavam limão, e até mesmo leite materno nos olhos para tentar tratar algum problema. Isso pode desencadear irritações no olho até problemas mais graves. 

“A única coisa que pode substituir o colírio em uma eventual necessidade é água natural gelada e filtrada ou soro fisiológico em flaconete [um recipiente pequeno com soro para uso imediato]”, recomenda. 

Falta de vitamina A, presente nas cenouras, pode causar cegueira noturna?

Verdade. Que criança nunca ouviu da mãe que precisava comer cenoura para melhorar a visão? Pois, ao contrário do resto da lista, isto é fato. 

“A falta de vitamina A, conhecida como retinol, pode causar cegueira noturna. Substâncias carotenóides presentes nos alimentos, como a zeaxantina e a luteína, ajudam a prevenir doenças como a catarata, cegueira e outros problemas oculares. O betacaroteno, além de prevenir contra a catarata (junto a outros antioxidantes), por sua vez também protege a estrutura ocular e a córnea, evitando problemas como olho seco, bastante comum, principalmente no inverno”, conclui.

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