Especialistas alertam sobre os riscos da febre maculosa transmitida por carrapato-estrela: saiba como reconhecer os sintomas, prevenir a infecção e obter tratamento adequado
Amanda Oliver
Publicado em 19/06/2023, às 09h04 - Atualizado às 11h50
O quinto caso de febre maculosa foi confirmado pela Secretaria da Saúde de São Paulo, até o momento, todos os casos estão ligados à fazenda Santa Margarida, em Campinas. De acordo com informações oficiais, a paciente é uma mulher de 38 anos.
Foi confirmado pelos órgãos de saúde pública, um surto de febre maculosa durante um evento na Fazenda em questão, o que resultou em quatro mortes. Porém, há 19 casos registrados neste ano de 2023, com registro de nove mortes.
A Fazenda Santa Margarida emitiu uma nota à imprensa expressando profundo pesar pelos casos de febre maculosa ocorridos em suas instalações e desenvolveu o Plano de Ação de Contingenciamento Ambiental e de Comunicação para Mitigação de Riscos de Parasitismo e Transmissão de FMB (febre maculosa brasileira), que foi protocolado junto à prefeitura de Campinas.
Com este surto, a médica infectologista Vera Rufeisen, do Vera Cruz Hospital, passa uma série de recomendações para a população se prevenir.
A febre maculosa, também conhecida como doença do carrapato, é uma infecção febril causada por uma bactéria do gênero Rickettsia. Essa doença apresenta gravidade variável e uma taxa de letalidade elevada. É importante ressaltar que a febre maculosa não é transmitida de pessoa para pessoa, mas sim pela picada de carrapatos infectados.
“O carrapato pode ser difícil de ser identificado, muitas vezes confundido com uma pinta na pele”, alerta a especialista
A febre maculosa está ligada ao carrapato-estrela, um ectoparasita que se alimenta de sangue de hospedeiros. Eles têm um ciclo de vida complexo, passando por diferentes estágios, desde larvas até adultos. Durante cada estágio, eles se alimentam do sangue de hospedeiros, que podem incluir mamíferos, aves e até mesmo humanos. Além da febre maculosa, estes animais também podem transmitir tularemia.
A febre maculosa é uma doença de alta complexidade, com altos índices de mortalidade, por isso é necessário buscar atendimento médico com urgência ao perceber os sintomas, que podem variar entre:
Febre alta: a febre é um dos principais sintomas da febre maculosa. Geralmente, a temperatura corporal pode atingir níveis acima de 39°C.
Dores de cabeça intensas: a dor de cabeça é comumente relatada por pessoas infectadas com febre maculosa. Ela pode ser persistente e intensa.
Dores musculares: mialgia, ou seja, dores musculares, é um sintoma comum associado à febre maculosa. As dores podem afetar várias partes do corpo.
Calafrios: os calafrios podem ocorrer como resultado da resposta do organismo à infecção.
Náuseas e vômitos: alguns pacientes com febre maculosa podem experimentar náuseas e vômitos, especialmente no início da doença.
Erupção cutânea: uma erupção cutânea característica da febre maculosa geralmente aparece após alguns dias de doença. Ela normalmente começa nas extremidades e se espalha pelo corpo, apresentando manchas vermelhas ou roxas.
Os sintomas aparecem entre 2 a 14 dias após a picada do carrapato infectado com a bactéria do gênero Rickettsia.
Há estudos em andamento para elaborar uma vacina contra a febre maculosa, porém, até o momento não foi elaborada nenhum tipo de vacina contra a febre maculosa.
É importante ressaltar que nem sempre a picada do carrapato deixa marcas, por isso é importante ficar atento aos sintomas da doença, mas geralmente o local da picada apresenta vermelhidão e erupção cutânea.
Um dos testes laboratoriais mais indicados para um diagnóstico específico da Febre Maculosa é a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI). Essa análise envolve a detecção da presença de anticorpos contra a bactéria causadora da doença por meio de uma amostra de sangue.
A RIFI é um teste altamente sensível e específico para o diagnóstico da febre maculosa, permitindo a identificação dos anticorpos produzidos em resposta à infecção pela bactéria. No entanto, é importante ressaltar que o resultado desse teste deve ser interpretado por um profissional de saúde.
Para prevenir a picada de carrapatos estrela e reduzir o risco de doenças é importante adotar medidas preventivas ao passar tempo em áreas onde esses carrapatos são encontrados. Algumas medidas incluem:
Usar roupas de manga longa, calças compridas e sapatos fechados ao caminhar ou passar por áreas arborizadas.
“A preferência deve ser por roupas em tons claros, que facilitam a visualização do carrapato, use botas de cano longo, coloque a barra da calça por dentro da meia e prefira blusas com mangas compridas, que protegem um pouco mais”, destaca a especialista.
Aplicar repelentes de insetos contendo DEET (N,N-dietil-meta-toluamida) nas áreas expostas da pele.
Realizar verificações cuidadosas no corpo após atividades ao ar livre e remover qualquer carrapato encontrado o mais rápido possível.
Evitar o contato direto com folhas, arbustos ou grama alta.
Sim! O tratamento envolve antimicrobianos e precisa ser feito com urgência, pois o diagnostico tardio pode comprometer o sistema nervoso central, os pulmões, os rins e causar lesões vasculares, na maioria das vezes de forma irreversível.
“O tratamento adequado deve incluir a medicação por sete a dez 10 dias (três dias após término da febre). Lembrando que doença não é transmitida de uma pessoa para outra e a imunidade adquirida da doença é duradoura”, revela a médica.
No Brasil, somente em 2022, foram registrados 63 casos, com 44 óbitos confirmados. Já em 2021, foram 87 casos e 48 óbitos.
Tatiana Lang, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do estado de São Paulo, revela detalhes e cuidados importantes contra a doença:
“Ao se aventurar em regiões de mata e cachoeira, é importante estar ciente que estamos no período de reprodução do carrapato-estrela, ocorrendo o risco de transmissão da Febre Maculosa através de sua picada. Caso em até 15 dias após este deslocamento, você apresente sintomas deve procurar atendimento médico o mais rápido possível”.
A Secretaria de Saúde de SP alerta: Caso você tenha estado na Fazenda Santa Margarida, Campinas, entre 27 de maio e 11 de junho, e apresente febre, dores no corpo, dor de cabeça ou manchas avermelhadas, procure atendimento médico imediatamente e informe sobre sua visita à região.
Atenção a todos que estiveram na Fazenda: fiquem vigilantes aos sintomas e informem os serviços médicos. O tratamento precoce é essencial para evitar complicações. Regiões de Campinas, Piracicaba, Assis e Sorocaba também têm registros da doença.
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