CLIMA

Veja como será o outono no litoral de São Paulo

La Niña, El Niño e aquecimento das águas do oceano Atlântico na altura do litoral paulista podem fazer com que o outono deste ano não seja igual aos mais recentes. Confira também para quando está prevista a chegada da primeira massa de ar frio

Esther Zancan
Publicado em 11/03/2023, às 09h39 - Atualizado em 20/03/2023, às 09h54

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Nuvem “prateleira” flagrada em Peruíbe no último fim de semana é sinal de que pode vir chuva feia ainda este mês Veja como será o outono no litoral de São Paulo Nuvem “prateleira” flagrada em Peruíbe - Reprodução/Arquivo Pessoal/Marcos Antônio da Costa
Nuvem “prateleira” flagrada em Peruíbe no último fim de semana é sinal de que pode vir chuva feia ainda este mês Veja como será o outono no litoral de São Paulo Nuvem “prateleira” flagrada em Peruíbe - Reprodução/Arquivo Pessoal/Marcos Antônio da Costa

É nesta segunda-feira (20) que o verão dá adeus e o outono coloca seu “time em campo”, mais precisamente às 18h25. Mas o que podemos esperar da nova estação no litoral de São Paulo?

O Portal Costa Norte bateu um papo com Rodolfo Bonafim, consultor em Climatologia, Astronomia e Geologia da ONG Amigos da Água, de Santos, que nos contou um pouco como será o outono em nossa região.

La Niña x El Niño

O oceano Pacífico parece bem longe do litoral paulista quando observamos o globo, mas a verdade é que o que acontece nele influi e muito no clima por aqui. 

Bonafim lembrou que estamos saindo de um período de três anos em que o La Niña (fenômeno que consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do oceano Pacífico próximo à Linha do Equador) ficou ativo. Os impactos foram grandes no  clima do Brasil em geral, inclusive na agricultura, que foi muito prejudicada pelo frio. O ano de 2021 teve um dos invernos mais rigorosos dos últimos anos. Para se ter uma ideia, chegou a ser registrada a temperatura de cinco graus na Base Aérea de Santos,  em Vicente de Carvalho, no Guarujá. Tudo isso se deve ao fato de que o La Niña favorece a entrada de muitas frentes frias, o que deixou inclusive os verões mais amenos. 

Mas neste início de 2023 o La Niña vem perdendo força, tanto que a partir do meio de janeiro, começou a esquentar mais intensamente. Segundo Bonafim, há a probabilidade de um El Niño ainda este ano, que é o contrário do La Niña. Nele ocorre o aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico próximo à Linha do Equador. 

O consultor disse que, no momento, estamos entrando em uma fase de neutralidade da temperatura das águas do Pacífico. O calor mais forte devido ao enfraquecimento do La Niña fez com que a evaporação aumentasse no litoral paulista, o que proporcionou tempestades rápidas e violentas, de forma pontual, como as que atingiram Bertioga e São Sebastião em fevereiro e ocasionaram uma tragédia que deixou mais de 60 mortos.

Temperatura das águas do oceano Pacífico influem na sua vida mais do que você imagina Veja como será o outono no litoral de São Paulo Oceano Pacífico ensolarado (Unsplash)

Outono 2023

Mas, e o outono? Como vai ser, afinal? Bonafim nos contou que a estação não deve ter temperaturas nem muito altas nem muito baixas, elas devem ficar dentro da média. Pode haver períodos de veranico em abril e maio.

“A passagem de uma estação para outra não é como um seletor de chuveiro elétrico, a temperatura não muda instantaneamente, parece mais com uma panela quente que você coloca em uma pia com água fria, vai esfriando aos poucos”, exemplificou de forma bem didática Bonafim. Ele revela também que esse restinho de mês de março vai ter dias ainda quentes, mas a partir de abril a gente vai começar a sentir que as madrugadas já não vão ser mais tão calorentas e nem a temperatura durante o dia será tão alta quanto no verão.

O consultor lembrou que em 2022 tivemos um outono muito frio, como não se via há alguns anos, especialmente em maio e junho. Já neste ano a chance de isso acontecer é muito pequena, justamente por causa dessa neutralidade nas águas do Pacífico. As temperaturas devem ficar dentro da média, ou até ligeiramente mais altas. Até o fim de março podem acontecer chuvas até de forte intensidade, as famosas “águas de março”, mas a partir da segunda metade de abril elas tendem a diminuir.

Bonafim disse que possivelmente entre 10 e 15 de maio deve chegar a primeira grande massa de ar frio no litoral paulista. Você tem até lá para renovar o guarda-roupa de frio, hein?

De novo, o temido El Niño deve ditar as regras no inverno brasileiro. Bonafim explicou que em dezembro de 2022, projeções indicavam  a probabilidade do El Niño começar só no fim do inverno/começo da primavera deste ano, mas as mais recentes projeções indicam que a transição do La Niña para o El Niño vai ser muito rápida e poderemos ter o fenômeno instalado já em julho deste ano, o que pode fazer o inverno ser menos rigoroso que o do ano passado.

Chuvas

Sobre as chuvas, Bonafim disse que elas devem também ficar dentro da média no litoral paulista. Mas fez uma ressalva: em se tratando de Baixada Santista, Litoral Norte e Vale do Ribeira, chuva dentro da média significa ainda muita chuva, se comparado com outras regiões do estado de São Paulo. Afinal, não há estação seca em nosso litoral. Mas com a aproximação do El Niño, a tendência é chover menos. O consultor lembra sempre que, por se tratar de projeções, é possível que haja episódios de chuvas mais fortes no período, em alguns locais, de forma pontual. 

Nuvem “prateleira” flagrada em Peruíbe no último fim de semana é sinal de que pode vir chuva feia ainda este mês Veja como será o outono no litoral de São Paulo Nuvem “prateleira” flagrada em Peruíbe (Reprodução/Arquivo Pessoal/Marcos Antônio da Costa)

Bonafim também faz um alerta para este mês de março ainda. As águas superficiais do oceano Atlântico, próximas à costa de São Paulo, estão bem aquecidas. Isso faz com que haja a possibilidade de formação de ciclones subtropicais, que podem trazer chuvas intensas para o fim do mês. Entre Cananéia e Iguape a temperatura superficial do mar está ainda mais aquecida. Tanto que recentemente em Peruíbe e Itanhaém surgiu nuvens do tipo “prateleiras”, que indicam formação de tormentas. 

Leia também: Entenda como os fatores naturais colaboraram para a tragédia no litoral de SP

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