TRAGÉDIA NO LITORAL NORTE

Entenda como os fatores naturais colaboraram para a tragédia no litoral de SP

Características da Serra do Mar na faixa litorânea paulista e até o enfraquecimento do fenômeno La Niña podem explicar parte da tragédia

Esther Zancan
Publicado em 28/02/2023, às 09h39 - Atualizado às 11h39

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Alto volume de chuva provocou a chamada "corrida de massa", o pior dos deslizamentos de terra que pode acontecer Entenda como os fatores naturais colaboraram para a tragédia no litoral de SP Morros de São Sebastião com vários pontos de deslizamentos de ter - Governo de SP
Alto volume de chuva provocou a chamada "corrida de massa", o pior dos deslizamentos de terra que pode acontecer Entenda como os fatores naturais colaboraram para a tragédia no litoral de SP Morros de São Sebastião com vários pontos de deslizamentos de ter - Governo de SP

Quase 700 litros de chuva por metro quadrado! Foi isso o que desabou do céu em algumas áreas do litoral de São Paulo no fim de semana do carnaval. O saldo foram bairros arrasados, mais de 60 vidas perdidas e famílias que vão ter que recomeçar do zero.

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Mas o que levou a tamanha fúria da natureza? O Portal Costa Norte conversou com Rodolfo Bonafim, consultor em Climatologia, Astronomia e Geologia da ONG Amigos da Água, de Santos, para entender melhor os fatores naturais que colaboraram para o cenário de destruição, principalmente em São Sebastião, no Litoral Norte paulista.

Serra do Mar

Bonafim primeiramente explicou as características da Serra do Mar, essa presença marcante na vida de todos que habitam o litoral de São Paulo. O maciço é um paredão que acompanha o litoral brasileiro do norte do Rio Grande do Sul até o sul da Bahia, mas ele não é igual em todas as regiões litorâneas. 

No litoral paulista a Serra do Mar é uma escarpa, também chamada de declive de planalto, uma espécie de “degrau” para subir até o planalto. Segundo Bonafim, muitos geógrafos nem consideram a Serra do Mar uma cadeia montanhosa. Já outros tantos, ele inclusive, discordam disso, pois em alguns momentos, o maciço forma sim cadeias montanhosas, em especial no litoral fluminense. 

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Já no Litoral Norte de São Paulo, como nos casos de São Sebastião e Ubatuba principalmente, a Serra do Mar praticamente “desaba” sobre a  orla marítima, o que faz com que a área litorânea seja muito estreita. Se por um lado isso faz com que por lá as praias sejam paradisíacas e muito procuradas pelos turistas, por outro essa característica pode ter sido determinante para a tragédia.

A característica marcante da Serra do Mar em São Sebastião é que ela praticamente “desaba” sobre a orla marítima Entenda como os fatores naturais colaboraram para a tragédia no litoral de SP Orla da Costa Sul de São Sebastião em condições normais (Tripadvisor)

Para efeitos de comparação, Bonafim lembra que Bertioga, que foi o local que registrou o índice pluviométrico mais intenso naquele fim de semana, por ficar mais afastada da Serra do Mar, não registrou tantos danos quanto a vizinha São Sebastião.

No caso da Barra do Sahy especificamente, um dos locais mais atingidos pela tragédia das chuvas, o consultor destacou que, como acontece em praticamente toda a costa de São Sebastião, ali a condição era de “tragédia anunciada”, devido ao aglomerado de casas em um terreno pequeno e sem área de escape. 

La Niña 

Bonafim também explicou que esse tipo de chuva, com alto volume de precipitação, acontece no litoral paulista praticamente em todo verão. No ano de 2022 elas não foram observadas devido, em grande parte, ao La Niña (fenômeno que consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico próximo à Linha do Equador). Nos anos de La Niña as chuvas costumam acontecer mais em forma de pancadas.

Mas Bonafim lembrou que o La Niña, neste início de 2023, já está começando a perder intensidade. Junta-se a isso uma frente fria com características excepcionais para a época do ano, com um ar muito frio, que se chocou com um ar muito quente que estava sobre o litoral paulista, o que acabou acarretando uma “explosão atmosférica”. 

Bonafim deu um exemplo de fácil entendimento para leigos: pense em uma esponja de lavar louça. Pense nessa esponja carregada de água. Essa esponja seria um aglomerado de nuvens muito grande que veio com muita força, impulsionado pelos fortes ventos do mar. Essa “esponja” se chocou contra a Serra do Mar, que foi como uma “mão espremendo a esponja”, e todo o conteúdo dessa esponja caiu em muito pouco tempo. 

Para se ter uma ideia de como essa quantidade absurda de água caiu rapidamente, Bonafim lembrou do caso novamente de Bertioga, que entrou pra História como a cidade em que mais choveu no Brasil em todos os tempos.

Mesmo os morros cobertos de vegetação sofreram danos devido a excepcionalidade da chuva Entenda como os fatores naturais colaboraram para a tragédia no litoral de SP Morro próximo a orla da Barra do Sahy com diversos pontos de deslizamentos de terra (Reprodução/Caraguá Urgente)

Diante deste cenário de chuva extrema, mesmo os morros cobertos de vegetação sofreram danos. Houve a chamada "corrida de massa". O consultor explicou que esse é o pior tipo de deslizamento de terra que pode acontecer, pois nessa situação, rola solo, rocha, árvores, tudo junto, em uma avalanche de lama. Nos morros desmatados, a situação tende a ser pior, pois sem a cobertura vegetal, o solo fica impermeabilizado.

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